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Tolerância e balanço final Eduardo – Agora, eu acho que a gente tem que colocar dois filmes, primeiro o Tolerância. Porque eu acho que ele representava, pelo menos pra mim, uma coisa completamente diferente do que ele se mostrou, ou seja, representar uma geracão que tem algumas coisas que me atraem. Que é não só a idéia de geração, de grupo, de localidade, realizando de fato, a sua primeira produção é complicado dizer, afinal tinha Os Verdes Anos no início dos anos 80, mas nesse momento aonde eles ganharam uma legitimidade nacional, a partir inclusive da Rede Globo, mas que, em suma, tem uma série de coisas positivas que eles representam pra mim, o Jorge Furtado no cinema de curtas com certeza. E aí eu acho que o Tolerância é um filme que resulta completamente frustrante porque se filia ao que há de mais pequeno do bom cinema, inclusive se satisfaz em produzir um bom roteiro, com reviravoltas surpreendentes, com trocas de gênero e com soluções dispersas, que levam o público a pensar uma coisa quando é outra, e que na verdade, não faz mais nada além disso. Ruy – Eu acho que é um filme de roteiro absolutamente maneirista, mas até aí não tem problema nenhum, porque toda a obra do Jorge Furtado é maneirista, só que o Carlos Gerbase não filma maneiristicamente. Ele filma cotidianamente, é um outro cinema, um cinema desglamourizado. Juliano – Além de ser um filme de roteiro, maneirista, como Ruy falou, mas todo o filme do Furtado é um filme de roteiro. É um cinema que em grande parte já está no roteiro, plano por plano. Mas eu não sei se o problema do Tolerância é só esse... Eduardo – É um cinema que brinca com isso o tempo inteiro. Juliano – Eu acho que tem filmes que podem ser feitos no roteiro, e tem filmes que não podem. O Ilha das Flores é basicamente um filme de roteiro: tirando as seqüências no lixão, é um filme que tá no roteiro, plano por plano. Agora, o Tolerância, mesmo sendo um filme até menor, apesar da duração, pedia algo mais do que aquilo que estava no roteiro. Eduardo – Mas o maior problema do filme é que ele não tem nenhuma verdade, e acima de tudo nenhum tesão. Juliano – E, sem querer, a conclusão que o filme chega no final é que por mais que a gente tente se mostrar diferente dos nossos pais, o que isso vai adiantar, daqui a 20 anos nós vamos estar igual a eles. Então, para que a gente vai tentar ser diferente? A visão do filme é uma visão família, tradicional... Daniel – Com certeza o filme tem esse ar meio lamentoso, ele não chega a ser uma certeza, mas uma impressão de que nós vamos repetir uma série de erros. Ele não acha "ah, nós vamos ser iguais", mas há sem dúvida alguma uma série de fatores que mudam muito. É a mulher chegar e dizer "ah, vai lá e trepa, você está a fim de transar com a garota, vai lá e trepa", e o cara, mal ou bem, vai lá e trepa. Eduardo – Mas todos eles pagam por isso... Ruy – Ele não trepa nem por tesão, trepa porque a mulher mandou. Daniel – O ato falho do filme não é ele transar com a menina, então você não pode dizer que ele paga por alguma coisa. O ato falho do filme é a mulher ir lá procurar a menina. Juliano – Não, eu acho que o ato falho do filme é ele ter tesão pela menina. Eduardo – A menina é apresentada o tempo todo como uma figura que não faz mais nada na vida além de tentar seduzir aquele cara. Juliano – O ato falho do filme é o cara ter tesão pela menina, nesse sentido é castrador. Você vai pensar "ah, por que aconteceu...?", porque o cara teve tesão. Daniel – Não sei se tem essa moral não... Eu acho que o filme não me fascinou, mas eu gostei do filme. Eu me incomodei com o roteiro ser todo trabalhadinho, cheio de reviravoltas, isso me incomoda, eu acho que isso para funcionar são casos especiais. Não me agrada os roteiros que estão sempre querendo ser... Eu acho que quando o filme tem uma história em si que tem estrutura, ele não precisava querer surpreender o espectador. Mas eu gosto de uma série de coisas. Gosto desta intenção de dialogar com o público e de ao mesmo tempo se exibir e se mostrar como dúvida mesmo. Ele não coloca a ação dele como heróica, ele vê uma série de problemas na geração dele. É óbvio que a geração dele não é como a dos pais. Eu acho que a música é mal colocada no final, porque não é, há uma série de mudanças... Agora, existe uma série de problemas que ainda não foram vencidos. É isso que o filme me passa. O problema não é ele sentir tesão na menina, nem chegar e comer, o problema é a mulher não conseguir dizer "vai lá e trepa", e depois ficar na dela. Se ela tivesse ficado na dela, nada disso acontecia, mas ela ficou nervosa e foi lá por causa do ciúme. Aí, deu cagada. Eduardo – Agora, em nenhum momento o filme coloca isso como um problema. O filme coloca como natural esta reação da mulher, porque na frente de uma menina que faz de tudo para acabar com seu relacionamento, diabolicamente como aquela menina faz, até eu queria matar aquela menina. Daniel – Mas ela não sabia se a menina era demoníaca ou não... Eduardo – Não importa o que ela acha, a gente vê a menina como totalmente fria e calculista no sentido de querer satisfazer o desejo dela e passar por cima das outras pessoas. Mas o pior do filme não é nem isso. Quando eu digo que o filme não tem verdade é que a partir de 5 minutos de filme, nenhum personagem fala qualquer frase por ser uma coisa que aquele personagem realmente falaria. Eles falam apenas para encaminhar o filme até onde ele quer chegar, por imposição do roteiro. Então todos os personagens são absolutamente "fake". Não tem um drama daqueles personagens no qual eu acredite. E o pior, tem aquela história da relação das terras daqueles dois caras que é um erro completo. Ela serve como um contraponto para colocar uma questão ideológica do autor, ou seja, vai contra o tal cinema que vai para o público, porque aquela discussão não tem nenhuma relevância para o público. Daniel – É para mostra a personalidade da mulher, a idéia é essa... Para mostrar que ela é fria, capaz de mentir para conseguir seus objetivos. Eduardo – Isso tudo é a relação dela com aquele cara que ela defende. A relação dele com o suposto irmão não tem nenhuma função. O cara matar ou não matar o outro, a discussão deles não tem nenhuma utilidade. Juliano – Exatamente. Eu acho que a idéia daqueles planos do cara, se ele matou ou não matou o outro, tem uma função... Eduardo – ... a questão da Verdade... Juliano – ... então, da Verdade, e diz que existia há 20 anos a busca de uma Verdade, e as coisas se dispersaram, as pessoas manipulam, não estão nem aí, perderam esta preocupação... Eduardo – Que é o início do filme, que eu acho até legal. A hora em que tem a discussão das fotos, de pegar o peito de uma mulher e botar a bunda de outra, até aí tudo bem, a discussão da Verdade. Só que eu acho que o filme abandona isso com dez minutos de projeção, ele esquece isso tudo para filmar uma historinha cheia de idas e vindas e surpresas, o que é uma coisa o que é outra... Ruy – O filme se esquece da proposta dele. Ele aposta maneiristicamente, num momento em que o cinema mundial tenta abandonar o cinema com roteiro por demais construído, a exemplo dos cinemas da Ásia, podemos falar do Irã e Taiwan, mas de uma certa forma em todos os cinemas você vem abandonando o cinema maneirista e buscando realidades a partir da existência própria das pessoas e não de um roteiro bem construído. Eu acho que o único exemplo avesso a isso é a persistência dos irmãos Coen. Até o Tarantino fez a virada, do Pulp Fiction para o Jackie Brown. O Tolerância entra no cinema brasileiro como um tipo de produção que corre o risco de se datar muito rapidamente, se é que já não nasceu datado. Juliano – Eu queria fazer uma anotação sobre a censura do filme para 18 anos... Daniel – Isso foi uma sacanagem!! Até porque o cinema americano com as mesmas cenas entra para 12 anos... Eduardo – E inclusive uma das coisas legais do filme é que, mal ou bem, e eu acho mal, retoma a questão do sexo como parte integrante. Juliano – Eu acho as cenas de sexo altamente pudoradas, em comparação há 20 anos atrás, e não acrescenta absolutamente nada no filme. Daniel – Mas o legal é que ele mostra a mulher não como uma mulher perfeita, isso é muito legal. Ruy – Mas o filme é tudo menos despojado na mise-en-scéne... Juliano – Eu acho uma cena pudorada para cacete... Eduardo – Mas aí são duas coisas diferentes. Em termos de filmagem, realização, eu acho que as cenas de sexo dele são, diria até banais. Agora eu acho que em termos de significação possui algumas coisas interessantes. Eu acho que a cena mais complicada do filme, talvez a que mais me interesse, é aquela em que as duas amigas estão tomando banho e o pai fica querendo entrar, no momento em que a relação com a menina não está ainda nem estabelecida. Cria uma complicação com relação à relação pai e filha na questão sexual, bastante interessante. O que eu acho é que, independente de como seja filmada, é a cena mais sexual do filme inteiro. É quando elas ficam provocando o pai para entrar e ver elas tomando banho, etc. Eu acho que ideologicamente eu acho legal que ele assume pelo menos uma coisa: sexo faz parte das vidas das pessoas, proeminentemente à toda as questões da vida delas. Fora isso, o sexo em si é filmado de forma banal, mas tudo bem... Agora, pelo menos está assumindo que o sexo é uma questão na vida das pessoas. Só de o cinema brasileiro voltar a falar nisso eu já tô feliz. Juliano – Eu acho que, se tem algum tesão nas cenas, ele vem dos atores, sei lá, porque da câmera e da direção não vem tesão nenhum. Daniel – Isso é besteira, câmera e direção têm que estar lá ligadas... Quem tem que funcionar é o ator. Sinceramente, se a câmera tem que estar dando giros... Ruy – Mesmo assim, Daniel, há coisas no filme que são muito ruins, na cena da cachoeira eu acho a utilização da música triste. Daniel – A mise-en-scene é toda muito... lugar comum seria maldoso, ela é muito próxima do que está instituído. E isso passa muito porque o Gerbase vem de uma geração que tomou a porrada de quem dizia que o cinema brasileiro não dialogava com o público. Ele tomou essa porrada. Ele deve ter seus 40 anos, e ele ouviu muito isso, quer dizer "o cinema brasileiro não dialoga com o público, o cinema brasileiro não sabe se comunicar.." Eu acho que ele vai carregar isso pelo resto da vida e em todos os filmes dele isso vai estar presente, e isso está presente neste filme. É um filme que quer dialogar, quer utilizar gêneros já reconhecidos com o público, quer colocar questões que são parte da vida do Gerbase e do Jorge Furtado, mas a partir de uma série de premissas que o cinema institucionalizado já segue, e ele faz isso de uma forma eficiente. Aquilo que a gente falou, tem que fazer um troço que seja bem feito e ao mesmo tempo brasileiro, e isso ele busca. Se em alguns momentos não sai eficiente como a gente gostaria, tudo bem, mas eu entendo perfeitamente a busca dele. E eu acho extremamente legítimo e até admirável esta coisa de querer se mostrar, de mostrar a geração dele e os erros que ele enxerga só que fazendo bem feito. Porque é a intenção de uma geração que quis definir o cinema brasileiro e viu a Embrafilme desabar. Ele participou disso, estava lá lutando, passou o perrengue, e continua querendo fazer cinema. Só por isso, essa postura de querer dialogar com o público, de utilizar uma série de parâmetros que eu acho ultrapassados, mas que são ainda válidos para uma grande parte do público, eu acho admirável. E eu acho uma puta de uma sacanagem que o único lugar onde o filme teve uma divulgação e foi verdadeiramente bem distribuído foi na terrinha dele. Virou uma coisa setorizada, só no Rio Grande do Sul, porque no Rio de Janeiro e em São Paulo e o filme foi sacaneado porque passar ele 18 anos foi uma canalhice filha da puta. Ruy – Eu acho que teve uma razoável divulgação, passou no UCI... Daniel – Pouco. Eu acho que esse filme vai dar certo em locadora e em televisão, esse tipo de filme tem um espaço em locadora e em TV que é o público que ele quis dialogar, e nesse diálogo ele trouxe sim idéias novas. Juliano – Mas o problema de distribuição não é só deste filme, é de quase todos os filmes, só para citar, Babilônia 2000 ser lançado só no Espaço Unibanco 3 (RJ), é um absurdo. Daniel – Mas, peraí Juliano, Tolerância é um filme que quer discutir com o grande público, o Babilônia 2000 é um filme que quer pesquisar o Brasil. É você discutir um romance do Jô Soares e uma pesquisa do IBGE. Eu adoro o Coutinho, mas é uma pesquisa do IBGE em termos de público... Juliano – Mas o Santo Forte é um dos filmes que mais fez público por cópia em 99, teve mais que quase todos os filmes americanos... Daniel – É porque o cara sabe o espaço que tem, é um dos filmes que menos cópias fez... Pergunta pro Coutinho se ele quer passar no São Luiz! Juliano – Tanto que uma semana depois o filme passou para uma sala maior, com o dobro do tamanho. Eu acho que o filme, por menor que seja, tem uma margem de comunicação maior do que uma sala de 100 lugares no Rio de Janeiro. Esse é o problema, o público só vai saber do lançamento... Daniel – Não sei se é sacanagem porque tem o tipo de filme que eles dizem: vamos lançar em uma ou duas salas para ir crescendo aos poucos. E tem filmes que eles dizem: vai ter que estourar de cara. Eu não acho que o Tolerância possa ser lançado em uma ou duas salas porque não é o tipo do filme que funciona assim. Eu acho que o filme do Coutinho pode viver do boca a boca. Então, eu não sei não, não consideraria o filme do Coutinho ser lançado como foi uma sacanagem. Mas que eu acho, o filme do Gerbase ser lançado para maiores de 18 anos, eu acho. E inclusive isso é uma maneira de chamar a atenção para duas cenas de sexo que o filme tema, para mostrar mais uma vez aquele velho mito de que o cinema nacional é só de sacanagem. Quando as cenas de sexo são feitas com muito bom gosto, muito melhor que todas estas merdas de filmes americanos que estão passando por aí. Juliano – O Gerbase conta num texto comparando a censura do filme dele, de quando ele levou a filha dele que era dez anos, e na primeira cena, uma pessoa morria de overdose... Daniel – E chama a atenção, é 18 anos porque? "Porque tá cheio de sacanagem..." Pô, a Maria Ribeiro é muito melhor de ver do que o Sylvester Stallone atirando de um lado para o outro. Pelo menos eu acho! Eduardo – Eu só acho que isso não é uma colocação Brasil vs. EUA. Isso é uma colocação mundial sexo vs. violência. Violência é aceitável, sexo não é. Se um filme americano chegar aqui com as mesmas cenas de sexo, ele pode até acabar com a censura 18 anos, e se chegar um filme do Stallone, do Schwarzenegger, vai ser colocado com 12. É uma questão que vai aumentar, e a gente vai discutir, e eu acho muito grave, mas não porque seja a Maria Ribeiro e o Stallone, eu acho grave se fosse a Sharon Stone e o Stallone, do mesmo jeito. O dia em que a violência se tornou mais normal do que o sexo foi o dia em que o mundo enlouqueceu de vez. Daniel – Eu acho que do Tolerância a gente já falou bastante, você não queria falar dos 3 Zuretas? Eduardo – Eu só acho que o 3 Zuretas é o melhor filme do ano... Daniel – Quer dizer, você acha o 3 Zuretas, o Ruy o Através da Janela, e eu o Amélia. Já o Juliano se eximiu porque acha que o ano foi uma merda... Juliano – Não, eu acho que o ano teve filmes bons, acho que o ano foi uma merda... Daniel – Eu acho que 99 foi pior, que 98 foi pior que 99... Foi tudo uma merda, tá uma merda total, mas tá bem melhor a cada ano. Juliano – Eu acho que todos os anos foram ruins... Daniel – Tem uma hora em que você tem que dizer: ih, estamos num beco sem saída. Juliano – Eu acho normal que em 94 a grande maioria dos filmes fosse ruim porque em 93 você não tinha filmes, portanto partiu do nada. Daniel – De 90 a 94 produziram 12 filmes no país... Juliano – Então, que em 94, 95, 96, não tenhamos tido uma produção muito notável, eu acho normal. Só que eu acho que de um ano para o outro havia uma evolução saudável, dentro dos mil problemas que as pessoas não discutiam, ignoravam, jogavam para debaixo do tapete. Como o Inácio Araújo falou, que a estética dos anos 90 foi a estética do "salve-se quem puder"... Daniel – Não era estética, era tendência... Juliano – Eu acho que era melhor falar a tendência do "salve-se quem não puder". As pessoas não colocaram problema nenhum, é como se elas dissessem "os problemas existem, mas ninguém quer falar neles". Eduardo – Eu não acho que, em termos de ano, 2000 seja melhor nem pior que 97, 98 ou 99. Eu acho que, falando em termos de lançamento comercial no Rio de Janeiro, que a gente não tá em falando dos filmes que apareceram em festivais em 2000 para serem lançados depois, destes filmes aqui, a gente ficou uma hora discutindo só os filmes, estética, acho que tem filmes que possuem questões interessantíssimas. Os filmes levantaram sim questões, algumas que a gente localizou como positivas e outras como negativas, eu acho que essa idéia de qualidade da produção eu não consigo nem ter muito clara, se um ano foi melhor ou pior que o outro. Eu acho que os filmes levantaram sim questões. E neste sentido foi um ano tão válido como qualquer outro. O que eu acho que é problemático, e aí eu concordo, discordando, com o Juliano, é que em 2000, 2001, a gente já devia estar evoluindo no sentido de discernir desde o início da retomada o que serve para aprendermos ou não. Mas, pelo contrário, a gente continua enfrentando os mesmos problemas, batendo de cabeça nos mesmos lugares, desde que se estabeleceu essa situação nova em 95. Então, eu acho que nesse sentido eu fico preocupado não com o ano de 2000, mas porque eu não vejo a coisa se direcionando nas várias formas em que devia. Por exemplo, eu acho que ninguém ter discutido as formas de contato da televisão com o cinema a partir do Auto da Compadecida uma coisa muito grave, porque eu acho que estamos perdendo as chances que temos de discutir coisas realmente relevantes no sentido de evoluir o cinema brasileiro. Mas não acho preocupante a produção de 2000 em si. Mesmo a relação entre quantidade e qualidade, número de filmes bons ou ruins, alguns que queriam falar com o grande público, outros para o Espaço Unibanco... Neste ponto eu não vejo grande diferença para 97, 98, 99. Juliano – Eu acho que ninguém colocou, por exemplo como o Murilo Salles colocou em 96 quando lançou o Como Nascem os Anjos, que os filmes estavam todos ruins, sem ousadia nenhuma. Daniel – Em 96, o Murilo falou isso: todos os filmes são ruins e sem ousadia, inclusive o meu. De lá para cá a gente viu o Carlão lançar filme, o Babenco, o Coutinho... Eduardo – Pô, mas a gente vai ficar feliz porque um cara destes fez 1 filme em 5 anos??? Juliano – Eu acho bizarro. E, segundo, eu acho que tem muitas certezas de que está tudo indo muito bem... Daniel – Mas ninguém acha que está tudo bem. Tirando o Ministério da Cultura. Todo mundo diz que está indo mal... Eduardo – Eu acho que se você vê as listas de internet, o tal Congresso Brasileiro, todo mundo acho que está ruim. Mas, o problema não é esse. O que eu acho é que as pessoas continuam vendo as coisas ruins da maneira que interessa a elas ver. E acho mais: fora isso as pessoas continuam vendo as coisas ruins e não fazendo nada, não há evolução. Agora, acho que ninguém está satisfeito: o Barreto não está feliz, a Mariza Leão não consegue produzir... Daniel – O Diegues está há tempos tentando produzir Deus é Brasileiro e não consegue, o Barreto parou de produzir. E o mais grave é que tem isso tudo para ser discutido esteticamente, e a gente pára para discutir eternamente quantas salas deve ser reservadas quantos dias e para o quê. E as coisas têm que andar juntas! Não adianta reservar salas se você não sabe para quê. E não adianta saber para quê sem ter salas. Eu acho que o principal erro do cinema brasileiro na década de 90: a gente continuou discutindo produção, distribuição e exibição como sempre, mas só discutiu isso. Enquanto nos anos 60 e 70 se discutia ética, ideologia, produção, os filmes, e o que eles falavam. A gente passou uma hora e meia aqui falando disso, mas só a gente. Juliano – Eu acho que o cinema brasileiro voltou 50 anos no passado. A grande prova foi este Congresso, que foi o terceiro, e o segundo foi há 50 anos. Se for ver a pauta, de um Congresso para o outro, os problemas são os mesmos, não mudou absolutamente nada. Estamos em 1950 no cinema brasileiro... Daniel – A gente nunca escapou deles. Só conseguiu escapar nos anos 60, quando deu um passo adiante que podia até ser errado, e aí nos anos 70, de um jeito que, com certeza, não estava muito correto... Eduardo – Mas o importante é que os 60 levou aos 70 que levou a um caminho que era inteligente. Hoje em dia não vejo a gente indo para lugar nenhum... Daniel – Desde que a TV e o videocassete entrou e a gente continua discutindo cinema como somente sala de cinema. A TV está aí, só passando a própria programação e os filmes americanos, não pagam uma porra de um imposto para a produção independente, com o videocassete os americanos distribuem única e exclusivamente o produto deles, e continuamos dizendo "ah, mas precisamos ter o cinema brasileiro nos cinemas...". Agora cinema faz 2 ou 3 milhões de pessoas no máximo. E estamos alijados do mercado de vídeo e TV. A questão não é nem se devemos ou não fazer uma associação com a TV. A TV hoje é uma anarquia, eles fazem o que eles querem, não tem nenhuma lei. O Estado dá uma concessão pública e fala "façam o que vocês quiserem". Não pode ser assim. Eduardo – E Os 3 Zuretas é o melhor filme do cinema brasileiro de 98, 99 e 2000!!!... Daniel – Pode ser, e eu acho um absurdo que não haja espaço para ele ser exibido na Sessão da Tarde, que eu tenho certeza que ia dar tanto público quanto a Fantástica Fábrica de Chocolate... Eduardo – E eu desconsidero vocês todos porque não viram o filme... Daniel – E eu acho que você devia pagar a conta porque falou isso. Voltar
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