Bang-Bang, de Andrea Tonacci
Textos sobre videoclips e os reality shows Made e American Idol, além dos filmes da semana.
leia mais

Carl Theodor Dreyer, Coleção Akira Kurosawa,
O Selvagem da Motocicleta, De Crápula a Herói de Rossellini e Max Ophüls fala com imagens.
leia mais

Clique aqui para receber o informativo mensal com as atualizações de Contracampo.
leia mais

 
 


 
     



Antes de tudo, é necessário pedir desculpas ao leitor fiel que freqüentemente consulta esta página para ver se houve atualização. Afinal, estamos no final de março e essa é apenas a segunda edição deste ano. Resultado de uma reformulação de equipe já anunciada na edição anterior, mas principalmente um questionamento interno sobre a prática da equipe e a maneira de melhor dar conta de tudo que nos interessa dentro do universo do cinema. Renovações de equipe acabam sendo necessárias na vida interna de uma revista, e principalmente numa revista como Contracampo, que abriga tantas concepções diferentes de cinema, tantas formas diversas de responder aos filmes, maneiras de dar vazão ao amor pelo cinema. Quanto aos novos redatores da revista, eles já apareceram escrevendo críticas ou cobrindo a seção de dvd/vhs. Quanto à prática interna, esperamos que ao longo das próximas edições já se perceba um funcionamento mais orgânico e constante de todas as seções da revista, renovando, quem sabe, uma vontade de viver o cinema 24h por dia e fazendo da revista o espaço de inscrição desse desejo. Como todos sabem, sangue novo revigora organismos cansados, e reoxigena os ânimos.

Discussões internas à parte, essa edição celebra a obra de um dos diretores mais importantes do cinema brasileiro, Andrea Tonacci, que volta com um dos filmes mais audaciosos e preciosos do cinema brasileiro recente, Serras da Desordem. Ocasião, então, para cobrir os pontos altos mais importantes de sua obra, no que fomos ajudados pela colaboração do diretor e montador Ricardo Miranda e pela Mostra do Filme Livre, que organizou sessões retrospectivas da obra do diretor (ainda que a maioria dos filmes tenham passado deformados em virtude de erros de projeção). Cineasta conhecido geralmente por apenas um longa-metragem de 1971, Bang-Bang, Tonacci é uma sensibilidade distintiva do cinema brasileiro e tem uma trajetória das mais apaixonantes dentre os cineastas ainda em atividade. Um cinema de aventura, que em muitos aspectos lembra o percurso de pioneiros como Mário Peixoto e o Major Thomaz Reis, e ao mesmo tempo mostra algumas preocupações semelhantes a seus companheiros de geração, como Rogério Sganzerla, Julio Bressane e Elyseu Visconti, entre outros.

Volta e meia o ambiente de nosso cinema se presta a polêmicas tão inúteis e parece encetar quase sempre o mesmo tipo de discussão inócua. Já que não estamos num famoso momento de "tensão pré-edital" – época em que os coronéis do cinema brasileiro aparecem nas páginas de jornal reclamando de falta de democracia e dirigismo –, agora volta a se falar na velha distinção falaciosa entre filmes que o público gosta e os filmes que a crítica gosta, ou então na importância do cinema documentário como uma espécie de "prática da cidadania". Sorte que o nosso panorama é outro, povoado por artistas genuínos que buscam um constante esforço de superação e travam um diálogo freqüente com o desconhecido e com os terrenos ainda não pisados. Artistas do quilate de Beto Brant, de Andrea Tonacci, de Edgard Navarro, que ainda devem aparecer um bocado nas páginas html dessa revista. Graças ao vigor de poucos verdadeiros criadores, o cinema brasileiro também se renova e se revigora.

     
  Ruy Gardnier