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                          ARTIGOS 
                          A Sentinela, de Arnaud 
                          Desplechin (exibição na TV5) 
                           por Tatiana Monassa (10/02/2005) 
                           
                          The Road to Memphis, 
                          de Richard Pearce (exibição na GNT) 
                           por Paulo Ricardo de Almeida 
                          (20/01/2005) 
                           
                          Piano Blues, de Clint 
                          Eastwood (exibição na GNT) 
                           por Paulo Ricardo de Almeida 
                          (07/01/2005) 
                           
                             
                          FILMES DA SEMANA  
                          (JUNHO DE 2005) 
                           
                            
                          Dia 02 
                          E a transformação gradativa do Canal Brasil 
                          em Canal Mercosul continua. A maior parte das estréias 
                          do canal é de filmes argentinos, que acabam ocupando 
                          boa parte do horário nobre do canal. Passaremos 
                          de julgar os méritos artísticos destes 
                          filmes, porque não os vimos. Tampouco é 
                          questão de fincar o pé reclamando do já 
                          pouco espaço dado a filmes brasileiros na televisão, 
                          embora esse questionamento mereça mais que dois 
                          vinténs de atenção. O que importa 
                          no momento é a estréia de um documentário 
                          argentino que, bom ou não, ao menos toca numa 
                          ferida aberta do cinema latino-americano de esquerda 
                          dos anos 70: o "desaparecimento" em maio de 
                          1976, possivelmente por razões políticas, 
                          de Raymundo Gleyzer, cineasta argentino realizador do 
                          censurado filme Los traidores (1972). Raymundo 
                          (2002), filme de Virna Molina e Ernesto Ardito, passa 
                          às 22:40.  
                            
                          Dia 03 
                          Na falta de grandes atrações ou estréias 
                          curiosas nesta noite de sexta-feira, o jeito é 
                          aproveitar para destacar dois filmes recentes que tratam 
                          de questões de sentimento e sexo com uma frontalidade 
                          que indispõem de partida os filmes com uma boa 
                          camada de público. Curiosamente, os dois passam 
                          em seguida pela HBO, em horário nobre. O primeiro 
                          é Falando de Sexo (Speaking of Sex, 
                          2001), de John McNaughton, que passa às 21:00. 
                          Podemos medir o quão subversivo é o filme 
                          por sua incrível falta de lançamento nos 
                          Estados Unidos (e na maioria dos países, aliás), 
                          mesmo com atores como Bill Murray, Lara Flynn Boyle 
                          e James Spader. O sexo está no divã e 
                          o filme é frenético como em Hawks: como 
                          perder um filme desses? Em seguida, Secretária 
                          de Steven Shainberg (Secretary, 2002), recentemente 
                          defendido nesta mesma coluna. O filme passa às 
                          22:45.  
                            
                          Dia 04 
                          Steamboat Bill, Jr. (dir. Charles Reisner e Buster 
                          Keaton, 1928) não é um dos longas-metragens 
                          mais conhecidos de Buster Keaton. É um de seus 
                          últimos filmes mudos e, se observarmos os filmes 
                          que existem logo antes  A General, Amores 
                          de Colegial  ou logo depois  The 
                          Cameraman , havemos de concordar que o filme 
                          é imperdível. Ainda mais quando lembramos 
                          que, anteriormente, o tema de barcos e mares deu Marinheiro 
                          poer Descuido (The Navigator, 1024), obra-prima 
                          definitiva. Steamboat Bill, Jr. passa na RetrôTV 
                          ao meio-dia, na única sessão semanal da 
                          televisão dedicada inteiramente a filmes silenciosos. 
                          Mais à noite, o Telecine Premium estréia 
                          um dos mais interessantes thrillers dos últimos 
                          anos. Por um Triz (Out of Time, 2003) 
                          é um belo exercício de agilidade narrativa, 
                          expectativa e antecipação não sem 
                          semelhanças com a série 24 Horas 
                           superposição de intrigas e prazos, 
                          correria indiscriminada, tensão constante , 
                          mas é também um exemplo de uso cinematográfico 
                          do roteiro que prioriza a inteligência (o estilo) 
                          em vez da esperteza (os "achados"). O filme 
                          passa às 21:00. 
                            
                          Dia 05 
                          A RetrôTV 
                          exibe uma pequena homenagem a Humphrey Bogart, passando 
                          dois filmes não muito acessíveis em que 
                          o ator é protagonista. O primeiro é A 
                          Trágica Farsa, de Mark Robson (The Harder 
                          They Fall, 1956), às 18:00, e o segundo é 
                          A Nave da Revolta, de Edward Dmytryk (The 
                          Caine Mutiny, 1954), às 20:00. Ambos os diretores 
                          estão longe de ser grandes autores, ou até 
                          mesmo artesãos consistentes  são 
                          aliás de uma inconsistência flagrante, 
                          chegando às vezes perto até da incompetência. 
                          No entanto, são dois filmes que sobressaem na 
                          carreira de cada um dos diretores, e Bogart, claro, 
                          ajuda. Ainda no mesmo canal, às 22:00 passa O 
                          Espião Que Veio do Frio, de Martin Ritt (The 
                          Spy Who Came in From the Cold, 1965), com Richard 
                          Burton no papel do herói Leamas do livro de John 
                          Le Carré. Falando em astros e diretores inconsistentes... 
                             
                          Dia 06 
                          No dia que a Globo passa Carandiru de Hector 
                          Babenco (previsto para as 22:25), o Cinemax exibe (às 
                          22:00) Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. 
                          Mais interessante do que jogar um contra o outro à 
                          procura das falhas de um e das qualidades de outro  
                          qual é mais "ético", qual tem 
                          mais agilidade e dinamismo, qual tem preocupações 
                          sociais mais genuínas, etc. , é 
                          interessante notar o papel que dois protagonistas-intermediários 
                          exercem no modo de identificação/desinstalação 
                          no filme. Em ambos os filmes, o outro (o pobre, o favelado, 
                          o prisioneiro) é acessado a partir de um personagem 
                          que está ao mesmo tempo dentro e fora, e que 
                          filtra para nós, de modo mais palatável, 
                          o universo  um certo investimento libidinal fantasmático 
                          propriamente social no outro da classe média 
                           que está adiante de nós. Buscapé 
                          e o médico vivido por Luiz Carlos Vasconcelos 
                          operam uma mesma função, por mais que 
                          as classes dos personagens sejam distintas. Trata-se 
                          aqui de revelar um mundo que aos olhos do protagonista 
                          pareça instigante, diverso, rico (a riqueza de 
                          tudo aquilo que nos é outro), mas de nunca nos 
                          instalar inteiramente dentro deste mundo. O persoangem 
                          principal atua como um intermediário entre o 
                          espectador e seu outro, criando uma linha de demarcação 
                          bastante clara. Não livra a nossa cara de espectadores, 
                          mas tampouco nos engaja como se aquilo dissesse respeito 
                          a nós. A linha de demarcação não 
                          nos permite, e se tivermos que buscar um filme em que 
                          não se demarque, só se trouxermos novamente 
                          à baila O Invasor, O Prisioneiro da 
                          Grade de Ferro... Em todo caso, Carandiru e Cidade 
                          de Deus são dois dos mais belos momentos do cinema 
                          brasileiro dos últimos anos. Só são... 
                          frágeis. 
                            
                          Dia 07 
                          Aconteceu Naquela Noite de Frank Capra (It 
                          Happened One Night, 1934) reúne Claudette 
                          Colbert e Clark Gable num filme bastante em moda hoje: 
                          é uma comédia de recasamento (e dê-lhe 
                          Stanley Cavell), é um road movie, é 
                          um grande ganhador de Oscars, etc. Nada disso, no entanto, 
                          explica a graça do toque de Capra  muito 
                          mais leve aqui do que de costume  e a química 
                          entre os dois atores. Quem nos dá o prazer da 
                          exibição é o Cinemax Prime, que 
                          passa o filme às 21:30. Logo depois, às 
                          23:30, o Canal Futura exibe Sargento York (Sergeant 
                          York, 1941), belíssimo e raro filme de Howard 
                          Hawks com Gary Cooper e Walter Brennan. Pouco mencionado, 
                          inclusive pelos amantes de Hawks, York é 
                          um dos belos exemplos de como Hawks filma personagens 
                          diante da morte, como em seu mais perfeito filme, Paraíso 
                          Infernal. Doçura e destino nunca pareceram 
                          tão próximos.  
                            
                          Dia 08 
                          OK, a estréia foi no sábado, mas sábado 
                          não tinha competição. Fica pra 
                          hoje, então: Pacto de Justiça de 
                          Kevin Costner (Open Range, 2003) não é 
                          lá um grande filme, mas a carreira de Costner 
                          como cineasta, em suas esquisitices mas também 
                          em seu apego, revelam um realizador que merece ser acompanhado 
                           mesmo que seja pelo belo Dança Com 
                          Lobos. Um misto de nostalgia cinematográfica 
                          e desejo pioneirístico de começar do zero 
                           completamente fantasmático na medida em 
                          que começar do zero hoje é impossível 
                           fazem de seus filmes algo semelhante a pancadas 
                          da própria cabeça na parede. Mas notáveis 
                          pancadas. Pacto de Justiça passa às 
                          21:00 na HBO. 
                            
                          Dia 09 
                          Na falta de grandes atrações ou de estréias 
                          promissoras nesta quinta-feira, podemos escolher entre 
                          dois dos filmes recentes que poderíamos chamar, 
                          segundo a denominação de Truffaut, de 
                          "grandes filmes doentes". A FOX passa Minority 
                          Report  A Nova Lei (Minority Report), 
                          de Steven Spielberg, às 21:00, enquanto o Telecine 
                          Emotion exibe Dogville (idem, 2003), de Lars Von Trier, 
                          no mesmo horário. De Spielberg podemos falar 
                          de uma fase atormentada pós-A.I., como 
                          se a criança que reinventou o grande cinema industrial 
                          hollywoodiano nos anos 70-80 tivesse se transformado 
                          num velho sem chegar a passar pela idade adulta. Minority 
                          Report se defronta com o material de base da ficção 
                          americana, e da instalação desse país 
                          como diferença (puritana e autocêntrica, 
                          sem a menor dúvida) no mundo. A intriga repete 
                          Intolerância: ver como é possível 
                          agir de forma diversa em relação ao destino. 
                          De Von Trier, falemos mais de uma obra inteira que dramatiza 
                          a doença mas é ao mesmo tempo instalado 
                          nela. Em todo caso, não como Cronenberg, que 
                          se instala na mesma doença de seus protagonistas. 
                          Os filmes de Lars Von Trier vão ficando progressivamente 
                          mais desprendidos da ficção que narram, 
                          e o jogo de identificações já não 
                          deixa esconder mais a maneira como ele faz do mundo 
                          seu teatrinho pessoal. O problema não é 
                          tanto o fato de que ele manipula (a manipulação 
                          e a questão identificação/distância 
                          estão no cerne do que está sendo discutido 
                          em Dançando no Escuro e Dogville), 
                          mas o resultado dessa manipulação: a entrada 
                          numa visão de mundo que tenta se autojustificar 
                          por construir um "universo", ou seja, ser 
                          cinema "de autor". Mas, em resumo, poderíamos 
                          dizer que neste universo falta mundo. Galáxia 
                          deserta. 
                            
                          Dia 10 
                          Sem nenhum estardalhaço, quase em silêncio, 
                          o Eurochannel exibe Barocco, o Jardim do Suplício 
                          (Barocco, 1976), terceiro longa-metragem de André 
                          Techiné. com elenco superestelar: Gérard 
                          Depardieu, Isabelle Adjani, Marie-France Pisier, Jean-Claude 
                          Brialy e Jean-François Stévenin. Mais 
                          conhecida a partir da década de 80, a obra de 
                          Techiné funciona através de circuitos 
                          psicológicos que trabalham uma fisicalidade estranha 
                          nos atores, fornecendo interpretações 
                          carregadas de originalidade e pregnância. Adicionando 
                          a isso a dificuldade de acesso a esse filme (que, no 
                          mais, não é lá muito falado ou 
                          referido tratando-se de Techiné), vale a pena 
                          ligar no Eurochannel às 22:00 
                            
                          Dia 11 
                          Kill Bill, Volume 1 sendo exibido na HBO às 
                          21:00, grande chance de retornar ao filme de Tarantino. 
                          Primeiro ao formato: existe uma certa volatilidade nas 
                          maneiras de se assistir ao dístico de Tarantino, 
                          mas ver o filme em formato quadrado, no 4:3 da televisão 
                          (e do primeiro DVD lançado) não é 
                          uma delas. Uma das forças do cinema de Tarantino 
                          é a maneira precisa e impressionante com que 
                          ele enquadra para o formato panorâmico 2,35:1. 
                          Igualmente, pode-se dizer que as cores e os movimentos 
                          de Tarantino também pedem uma tela grande, e 
                          uma tela menor que nós reduziria bastante o poder 
                          de encantamento, a força da mise-en-scène. 
                          A narrativa, ao contrário da mise-en-scène, 
                          traduz bem para a tela pequena. Quentin Tarantino, o 
                          homem que fez com que o cinema comercial se rendesse 
                          à maior importância da mise-en-scène 
                          em relação à narratividade ou à 
                          história que está sendo contada  
                          e assim mostrando-se discípulo fiel de Sergio 
                          Leone, de Monte Hellman, de Sam Peckinpah , mostra 
                          seu filme mais desmesuradamente anti-narrativo, mais 
                          devoto ao artifício, e ganha sua aposta. Resta 
                          saber se na televisão dá pra perceber 
                          o que é nada menos do que uma evidência 
                          numa tela grande de cinema. 
                            
                          Dia 12 
                          Possivelmente o melhor filme de Andrzej Wajda, Kanal 
                          (idem, 1957) estréia neste domingo na TV5 às 
                          21:40. Uma certa tendência ao academicismo e à 
                          mão pesada apareceriam com o passar do tempo, 
                          mas isso não impediria a força de vários 
                          dos filmes que fazem sua fama: Sem Anestesia, 
                          Cinzas e Diamantes, O Homem de Ferro). 
                          Kanal, como os Bergman menos certos de si mesmo, é 
                          um filme mais apaixonante. 
                             
                          Dia 13 
                          Com Sin City, Robert Rodriguez volta à 
                          categoria dos diretores fashion na qual esteve 
                          no começo de sua carreira, com El Mariachi 
                          e os filmes alavancados pela griffe Tarantino 
                          pós-Pulp Fiction (A Balada do Pistoleiro, 
                          Um Drink no Inferno, Grande Hotel). Três 
                          Spy Kids depois, além de alguns filmes 
                          em que Rodriguez se distanciou do imaginário 
                          "sangue e piadas" que fez a fama de seu amigo 
                          mais famoso, e Rodriguez volta à semi-obscuridade, 
                          ou à maldosa linhagem dos has been, o 
                          que, segundo muitos, Era uma Vez no México 
                          apenas confirmaria. Ora, o cinema de Rodriguez sempre 
                          foi medido a partir de Tarantino, injustamente e com 
                          um tanto de miopia crítica (em todo caso, esta 
                          fama foi dada mais pelo público teen-cult 
                          do que pela imprensa especializada... esta nunca 
                          chegou a levar Rodriguez muito a sério), e o 
                          cinema deste sujeito curioso sempre esteve muito mais 
                          do lado da mobilidade absoluta (ao contrário 
                          de uma certa monumentalidade do plano em Tarantino) 
                          e da construção do cinema como brinquedo. 
                          O mínimo que se pode dizer é que ele leva 
                          seu projeto muito a sério, de forma rigorosa 
                          e com muito talento e personalidade (pode-se dizer de 
                          cada um de seus filmes que eles levam a sua marca). 
                          Chance então, antes do reconhecimento absoluto, 
                          de ver (ou rever) Era uma Vez no México, 
                          que o HBO Plus passa às 22:05. 
                            
                          Dia 14 
                          A coluna desta semana jamais teve a idéia de 
                          fazer destas linhas uma semana temática Tarantino. 
                          Mais eis que surge um filme de um dos diretores preferidos 
                          do diretor de Kill Bill: Walter Hill. Wild 
                          Bill  Uma Lenda no Oeste (Wild Bill, 
                          1995) faz parte da reconstrução do imaginário 
                          do western que tanto preocupa Hill ao longo de sua carreira 
                           chegando hoje à construção 
                          visual e à direção do episódio 
                          piloto da série 
                          Deadwood  e narra a história do 
                          pistoleiro Wild Bill Hickok. Outro caso de um diretor 
                          que já foi objeto de moda  Warriors, 
                          48 Horas  e hoje precisa ser reencontrado 
                          fora do circuito da fama. Wild Bill passa no 
                          Telecine Action às 23:05. 
                            
                          Dia 15 
                          Por fim, terminamos a semana com um clássico 
                          de Jerry Lewis e possivelmente a porta de entrada privilegiada 
                          para seus filmes: O Professor Aloprado (The 
                          Nutty Professor, 1963), em que Lewis adapta a história 
                          de Doutor Jekyll e Mr. Hyde a sua típica persona 
                          de tela. O filme passa às 22:00 na RetrôTV 
                          e não poderíamos elogiá-lo mais. 
                          Imperdível.  
                            
                          Dia 19 
                          Enquanto esperamos por maiores reformulações, 
                          a coluna de filmes da semana, dado o histórico 
                          de constantes atrasos, passa a ser publicada no domingo, 
                          na esperança de que desta vez consigamos uma 
                          periodicidade assídua e dentro do prazo. A semana 
                          começa muito bem com três estréias 
                          de razoável interesse. Vamos à melhor: 
                          Aprile (1998), de Nanni Moretti, que passa às 
                          22:40 no Telecine Emotion. É uma estréia 
                          apenas na rede Telecine, uma vez que o filme já 
                          circulou bastante pelos canais TVA/DirecTV. Ainda assim, 
                          uma ótima oportunidade para ver um Moretti em 
                          ótima forma, espécie de cinediário 
                          como anteriormente o fora Cario Diário. 
                          Reflexão sobre política italiana e sobre 
                          os prazeres e suplícios de se ter um filho. Simplesmente 
                          adorável. Antes disso, às 21:00, o Telecine 
                          Action estréia O Imbatível (Undisputed, 
                          2002), último longa-metragem de Walter Hill até 
                          a presente data. Não é exatamente um dos 
                          momentos altos de sua carreira, mas também não 
                          é desprezível. O piloto da série 
                          Deadwood é melhor. Por fim, às 
                          23:00, estréia no Canal Brasil o misterioso Guru 
                          das Sete Cidades, filme de 1972 dirigido por Carlos 
                          Bini e estrelado por Otávio Terceiro, ator de 
                          Rogério Sganzerla (O Signo do Caos, Nem 
                          Tudo É Verdade). Último filme de Bini, 
                          que um ano antes havia feito seu longa de estréia, 
                          Geração Bendita (É Isso Aí, 
                          Bicho), Guru é um desses filmes invisíveis 
                          que, quiçá, podem conter características 
                          bem curiosas. A ver. 
                            
                          Dia 20 
                          O Telecine Premium estréia às 21:00 O 
                          Tango e o Assassino (Assassination Tango, 
                          2002), irregular porém bastante interessante 
                          filme de Robert Duvall, ator amplamente conhecido e 
                          anteriormente realizador do grande O Apóstolo. 
                          Mas o grande destaque da noite é O Açougueiro 
                          (Le Boucher, 1970), um dos melhores e mais celebrados 
                          filmes de Claude Chabrol, com interpretações 
                          extraordinárias de Stéphane Audran e Jean 
                          Yanne, em uma das mais perturbadoras das histórias 
                          de Chabrol. Entomologista, diria o documentário 
                          de Labarthe sobre ele. Entomologista, sim, sem dúvida. 
                          Eurochannel, meia-noite de segunda para terça. 
                            
                          Dia 21 
                          Estão aí em DVD todos os filmes da série 
                          A Pantera Cor-de-Rosa para vermos que Blake Edwards 
                          não é somente um comediógrafo, 
                          mas um grande encenador para o formato panorâmico 
                          (2,35:1) e um autor coerente e consistente ao longo 
                          de sua carreira. Um deles, A Vingança da Pantera 
                          Cor-de-Rosa (Revenge of the Pink Panther, 
                          1978), passa no Film & Arts às 17:00 e à 
                          meia-noite de terça para quarta. É o último 
                          com Peter Sellers e não é exatamente o 
                          mais lembrado deles, mas se passar no formato certo, 
                          vale a pena tranqüilamente a visão... Se 
                          não, aproveitando que vivemos semana da mostra 
                          Cinesul (que mais uma vez se especializa em trazer para 
                          sua competição oficial filmes cada vez 
                          mais nulos), que tal conferir Los debutantes 
                          (idem, 2003), filme chileno de Andrés Waissbluth 
                          que, visto de passagem na tv a cabo uma certa vez, parecia 
                          bem interessante. O filme passa no Cinemax Prime às 
                          23:15.  
                            
                          Dia 22 
                          Rita Hayworth e Gene Kelly juntos dirigidos por Charles 
                          Vidor. Naturalmente Vidor é o que fica mal na 
                          fita, embora não seja nenhum borra-botas. Modelos 
                          (Cover Girl, 1944), que o Cinemax exibe às 
                          16:00, é tido como um dos maiores musicais da 
                          Columbia, e Gene Kelly teve tratamento de luxo, chegando 
                          ele mesmo a dominar o set como uma espécie de 
                          diretor/produtor (a idéia da dança na 
                          rua, por exemplo, é interamente dele e de mais 
                          ninguém). Vidor não é exatamente 
                          um autor mas geralmente carrega bem seus filmes, e Hayworth 
                          vale quase qualquer parada. 
                             
                          Dia 23 
                          Finalmente voltamos a falar no Telecine Classic. E agora 
                          com muito louvor, porque eles exibem um filme bastante 
                          raro de Budd Boetticher: Arrancada da Morte (Red 
                          Ball Express, 1952). Não é exatamente 
                          a época mais talentosa de Boetticher, não 
                          é o gênero em que ele foi mestre (o western), 
                          mas ainda assim, para todos aqueles que já viram 
                          ao menos um filme dele com Randolph Scott, assistir 
                          a qualquer Boetticher é questão de honra. 
                          O homem é um desses talentos que conseguem pegar 
                          o convencional e trabalhá-lo com uma limpidez 
                          tão incrível que tudo fica parecendo arte 
                          moderna. 21:00. Entretanto, para quem fez papel de bobo 
                          e não foi assistir ao relançamento nos 
                          cinemas da cópia restaurada de Terra em Transe 
                          (visão obrigatória, apesar da restauração 
                          deixar a impressão de que existe uma micropeneira 
                          entre a câmera e os atores) pode pegar o controle 
                          e vê-lo às 21:20, na TV5. Jardel Filho, 
                          Glauce Rocha, José Lewgoy, Paulo Autran, Paulo 
                          Gracindo e trocentos outros (Milani, Pereio, Emanuel 
                          Cavalcanti, José Marinho, Carvana, Migliaccio, 
                          Reston, Danuza Leão, Mario Lago, Jofre Soares, 
                          Darlene Glória) num filme que poderia se chamar 
                          "Brasil, 1967".  
                            
                          Dia 24 
                          Mais Walter Hill aparecendo aqui. Desta vez é 
                          Confronto Final (Southern Comfort, 1981). 
                          O mundo do western assombra o trabalho desse realizador, 
                          e o assombra especificamente como um fantasma. Como 
                          fazer voltar um gênero que não existe mais, 
                          mas acima de tudo como fazer com que essas histórias 
                          nos pareçam atuais? É todo o sentido 
                          de sua obra mais cultuada por fãs, Os Selvagens 
                          da Noite (Warriors, em que gangues de rua 
                          vão fazer o papel de caubóis e pistoleiros). 
                          Confronto Final passa às 11:50 no Telecine 
                          Action. 
                            
                          Dia 25 
                          Último filme de John Ford, Sete Mulheres 
                          (Seven Women, 1966) tem uma inacessibilidade 
                          impressionante. Filme feito em formato panorâmico 
                          de CinemaScope, o filme jamais consegue ser exibido 
                          desta forma, a não ser no TCM americano (porque 
                          o brasileiro é o lixo dos lixos, só exibindo 
                          filmes dublados e colorizados). Acaba que temos que 
                          recorrer à única forma possível 
                          de vê-lo, em tela cheia, nas periódicas 
                          exibições que faz o Canal Futura. Neste 
                          sábado, passa mais uma vez, às 22:00. 
                          Nenhum lançamento em vídeo, que dirá 
                          DVD. Nem nacional, nem importado. Ainda assim, é 
                          tido por muitos como um dos grandes filmes de John Ford, 
                          e para alguns o maior de todos. E então, ver 
                          ou não ver no canal Futura...? Até o próximo 
                          domingo.  
                            
                          Dia 26 
                          Antes de Bonequinha de Luxo, Blake Edwards dirigiu 
                          seis comédias de que pouco se ouviu falar. Dessas, 
                          a mais conhecida é Anáguas a Bordo 
                          (Operation Petticoat, 1959), que o Telecine Classic 
                          estréia às 21:00. O filme, estrelado por 
                          Cary Grant e Tony Curtis, é uma comédia 
                          militar sobre um submarino quase sucateado. Ótima 
                          oportunidade para ver um Edwards ainda antes da fama 
                          como um dos grandes comediógrafos americanos, 
                          um estatuto que lhe pertence até hoje e que futuramente 
                          Contracampo tentará demonstrar o porquê. 
                            
                          Dia 27 
                          Da mostra dedicada aos épicos romanos que o RetrôTV 
                          anda exibindo, o melhor é reter o mais interessante: 
                          A Queda do Império Romano (The Fall 
                          of the Roman Empire, 1964), de Anthony Mann, que 
                          o canal exibe às 22:00. Antepenúltimo 
                          filme de Mann, e seu segundo épico (precedido 
                          de El Cid, feito três anos antes), A 
                          Queda... tem um elenco estelar (Sophia Loren, Stephen 
                          Boyd, Alec Guiness, Omar Shariff, James Mason, Mel Ferrer, 
                          Christopher Plummer), e mesmo que os épicos dos 
                          anos 50-60 constituam um filão um tanto difícil 
                          de engolir hoje, o estilo de Mann faz aqui sua diferença, 
                          muito embora o ápice de seu cinema ainda esteja 
                          nos faroestes dos anos 50. No Telecine Emotion, estréia 
                          às 21:00 Fábrica de Robô 
                          (Heartbeeps, 1981), filme dirigido por Allan 
                          Arkush, responsável por algumas comédias 
                          cult do mesmo período (Rock'n'Roll High School, 
                          1979; Get Crazy, 1983) e hoje dirigindo quase 
                          que unicamente para séries de televisão 
                          (e nenhuma muito honrosa, diga-se), e estrelado pelo 
                          mitológico comediante Andy Kauffman  cinebiografado 
                          por Milos Forman em O Mundo de Andy/Man on 
                          the Moon (1999) , que viria a morrer três 
                          anos depois. Isso tudo, é certo, não eleva 
                          a expectativa sobre o filme para além da curiosidade, 
                          mas em todo caso a visão corre o risco de recompensar. 
                           
                            
                          Dia 28 
                          Em Tropas Estelares (Starship Troopers, 
                          1997), Paul Verhoeven faz sua costumeira prova pelo 
                          absurdo e exerce seu inegável talento satírico 
                          em cima do militarismo americano. Talvez mais que em 
                          qualquer outro, neste filme fica clara a proposta de 
                          Verhoeven de carnavalizar e usar o excesso para criticar. 
                          Se antes alguém achava que seus filmes eram apenas 
                          puras obras de mau-gosto (não que não 
                          o sejam, mas elas são isso e seu inverso crítico), 
                          esse passa a pá de cal. A conferir no Cinemax 
                          Prime às 21:30. Já no Cinemax, passa a 
                          nada confiável seqüência de Vampiros, 
                          de John Carpenter. É Vampiros: Os Mortos 
                          (Vampires: Los Muertos, 2002), de Tommy Lee Wallace, 
                          que além 
                          de dirigir sequels de Carpenter não fez muita 
                          coisa além de dirigir telefilmes e episódios 
                          de séries de tv. O filme passa às 22:00, 
                          e o ator principal não dá nenhuma vontade 
                          de conferir: Jon Bon Jovi. Então, talvez valha 
                          a pena prestar atenção num realizador 
                          que já teve a sua fama e hoje é conhecido 
                          apenas por ter feito O Céu É Para Todos 
                          (To Kill a Mockingbird, 1962): Robert Mulligan. 
                          Em Quando Setembro Chegar (Come September, 
                          1961), ele dirige Rock Hudson e Gina Lollobrigida numa 
                          comédia romântica em CinemaScope, e o Film&Arts 
                          exibe às 20:00. A não deixar passar  
                          principalmente se o canal for bacana e passar o filme 
                          no formato certo. 
                            
                          Dia 29 
                          Falando em formato certo, um que se vê em formato 
                          certo na televisão e não no cinema é 
                          Elogio ao Amor (Éloge de l'amour, 
                          2001), de Jean-Luc Godard, que o Cinemax Prime exibe 
                          às 19:45. Metade em película e preto e 
                          branco (para o presente), metade em vídeo digital 
                          colorido (para o passado, com um colorido saturado extraordinário), 
                          o filme começa com o amor mas rapidamente fala 
                          que, para haver amor, é preciso primeiro haver 
                          memória e história, e daí desencadeia 
                          as reflexões que Godard vem fazendo nos últimos 
                          anos sobre a imagem como memória, ou a imagem 
                          como esquecimento; sobre política hoje, e sobre 
                          atuação. Os locais históricos abandonados 
                          em preto-e-branco, mais documentais impossível, 
                          são um verdadeiro filme de terror  o terror 
                          da História. Um grande filme, amargurado mas 
                          acreditando como poucos na imagem e na força 
                          que ela (ainda) tem contra a não-imagem da difusão 
                          midiática. 
                             
                          Dia 30 
                          Eis uma bela novidade do Telecine Classic: exibir juntas 
                          as duas versões mais famosas cinematográfica 
                          de Ave do Paraíso (Bird of Paradise), 
                          a peça de Richard Walton Tully, dirigidas por 
                          dois diretores no mínimo consideráveis. 
                          A primeira, que passa às 19:30, é de King 
                          Vidor, de 1932, com Dolores Del Rio e Joel McCrea, e 
                          a segunda, exibida às 21:00, é de Delmer 
                          Daves, de 1951, estrelada por Debra Paget e Louis Jourdan. 
                          Mais do que questão de disputa entre as duas 
                          versões, aqui é a ocasião para 
                          ver dois filmes de diretores que vale a pena acompanhar, 
                          um decisivo (Vidor) e outro interessante (Daves).  
                          Ruy Gardnier 
                           
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