ARQUIVO DA EDIÇÃO DE JUNHO DE 2005.

ARTIGOS
A Sentinela, de Arnaud Desplechin (exibição na TV5)
por Tatiana Monassa (10/02/2005)

The Road to Memphis, de Richard Pearce (exibição na GNT)
por Paulo Ricardo de Almeida (20/01/2005)

Piano Blues, de Clint Eastwood (exibição na GNT)
por Paulo Ricardo de Almeida (07/01/2005)

FILMES DA SEMANA
(JUNHO DE 2005)


Dia 02
E a transformação gradativa do Canal Brasil em Canal Mercosul continua. A maior parte das estréias do canal é de filmes argentinos, que acabam ocupando boa parte do horário nobre do canal. Passaremos de julgar os méritos artísticos destes filmes, porque não os vimos. Tampouco é questão de fincar o pé reclamando do já pouco espaço dado a filmes brasileiros na televisão, embora esse questionamento mereça mais que dois vinténs de atenção. O que importa no momento é a estréia de um documentário argentino que, bom ou não, ao menos toca numa ferida aberta do cinema latino-americano de esquerda dos anos 70: o "desaparecimento" em maio de 1976, possivelmente por razões políticas, de Raymundo Gleyzer, cineasta argentino realizador do censurado filme Los traidores (1972). Raymundo (2002), filme de Virna Molina e Ernesto Ardito, passa às 22:40.
Dia 03
Na falta de grandes atrações ou estréias curiosas nesta noite de sexta-feira, o jeito é aproveitar para destacar dois filmes recentes que tratam de questões de sentimento e sexo com uma frontalidade que indispõem de partida os filmes com uma boa camada de público. Curiosamente, os dois passam em seguida pela HBO, em horário nobre. O primeiro é Falando de Sexo (Speaking of Sex, 2001), de John McNaughton, que passa às 21:00. Podemos medir o quão subversivo é o filme por sua incrível falta de lançamento nos Estados Unidos (e na maioria dos países, aliás), mesmo com atores como Bill Murray, Lara Flynn Boyle e James Spader. O sexo está no divã e o filme é frenético como em Hawks: como perder um filme desses? Em seguida, Secretária de Steven Shainberg (Secretary, 2002), recentemente defendido nesta mesma coluna. O filme passa às 22:45.
Dia 04
Steamboat Bill, Jr. (dir. Charles Reisner e Buster Keaton, 1928) não é um dos longas-metragens mais conhecidos de Buster Keaton. É um de seus últimos filmes mudos e, se observarmos os filmes que existem logo antes – A General, Amores de Colegial – ou logo depois – The Cameraman –, havemos de concordar que o filme é imperdível. Ainda mais quando lembramos que, anteriormente, o tema de barcos e mares deu Marinheiro poer Descuido (The Navigator, 1024), obra-prima definitiva. Steamboat Bill, Jr. passa na RetrôTV ao meio-dia, na única sessão semanal da televisão dedicada inteiramente a filmes silenciosos. Mais à noite, o Telecine Premium estréia um dos mais interessantes thrillers dos últimos anos. Por um Triz (Out of Time, 2003) é um belo exercício de agilidade narrativa, expectativa e antecipação não sem semelhanças com a série 24 Horas – superposição de intrigas e prazos, correria indiscriminada, tensão constante –, mas é também um exemplo de uso cinematográfico do roteiro que prioriza a inteligência (o estilo) em vez da esperteza (os "achados"). O filme passa às 21:00.
Dia 05
A RetrôTV
exibe uma pequena homenagem a Humphrey Bogart, passando dois filmes não muito acessíveis em que o ator é protagonista. O primeiro é A Trágica Farsa, de Mark Robson (The Harder They Fall, 1956), às 18:00, e o segundo é A Nave da Revolta, de Edward Dmytryk (The Caine Mutiny, 1954), às 20:00. Ambos os diretores estão longe de ser grandes autores, ou até mesmo artesãos consistentes – são aliás de uma inconsistência flagrante, chegando às vezes perto até da incompetência. No entanto, são dois filmes que sobressaem na carreira de cada um dos diretores, e Bogart, claro, ajuda. Ainda no mesmo canal, às 22:00 passa O Espião Que Veio do Frio, de Martin Ritt (The Spy Who Came in From the Cold, 1965), com Richard Burton no papel do herói Leamas do livro de John Le Carré. Falando em astros e diretores inconsistentes...
Dia 06
No dia que a Globo passa Carandiru de Hector Babenco (previsto para as 22:25), o Cinemax exibe (às 22:00) Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Mais interessante do que jogar um contra o outro à procura das falhas de um e das qualidades de outro – qual é mais "ético", qual tem mais agilidade e dinamismo, qual tem preocupações sociais mais genuínas, etc. –, é interessante notar o papel que dois protagonistas-intermediários exercem no modo de identificação/desinstalação no filme. Em ambos os filmes, o outro (o pobre, o favelado, o prisioneiro) é acessado a partir de um personagem que está ao mesmo tempo dentro e fora, e que filtra para nós, de modo mais palatável, o universo – um certo investimento libidinal fantasmático propriamente social no outro da classe média – que está adiante de nós. Buscapé e o médico vivido por Luiz Carlos Vasconcelos operam uma mesma função, por mais que as classes dos personagens sejam distintas. Trata-se aqui de revelar um mundo que aos olhos do protagonista pareça instigante, diverso, rico (a riqueza de tudo aquilo que nos é outro), mas de nunca nos instalar inteiramente dentro deste mundo. O persoangem principal atua como um intermediário entre o espectador e seu outro, criando uma linha de demarcação bastante clara. Não livra a nossa cara de espectadores, mas tampouco nos engaja como se aquilo dissesse respeito a nós. A linha de demarcação não nos permite, e se tivermos que buscar um filme em que não se demarque, só se trouxermos novamente à baila O Invasor, O Prisioneiro da Grade de Ferro... Em todo caso, Carandiru e Cidade de Deus são dois dos mais belos momentos do cinema brasileiro dos últimos anos. Só são... frágeis.
Dia 07
Aconteceu Naquela Noite de Frank Capra (It Happened One Night, 1934) reúne Claudette Colbert e Clark Gable num filme bastante em moda hoje: é uma comédia de recasamento (e dê-lhe Stanley Cavell), é um road movie, é um grande ganhador de Oscars, etc. Nada disso, no entanto, explica a graça do toque de Capra – muito mais leve aqui do que de costume – e a química entre os dois atores. Quem nos dá o prazer da exibição é o Cinemax Prime, que passa o filme às 21:30. Logo depois, às 23:30, o Canal Futura exibe Sargento York (Sergeant York, 1941), belíssimo e raro filme de Howard Hawks com Gary Cooper e Walter Brennan. Pouco mencionado, inclusive pelos amantes de Hawks, York é um dos belos exemplos de como Hawks filma personagens diante da morte, como em seu mais perfeito filme, Paraíso Infernal. Doçura e destino nunca pareceram tão próximos.
Dia 08
OK, a estréia foi no sábado, mas sábado não tinha competição. Fica pra hoje, então: Pacto de Justiça de Kevin Costner (Open Range, 2003) não é lá um grande filme, mas a carreira de Costner como cineasta, em suas esquisitices mas também em seu apego, revelam um realizador que merece ser acompanhado – mesmo que seja pelo belo Dança Com Lobos. Um misto de nostalgia cinematográfica e desejo pioneirístico de começar do zero – completamente fantasmático na medida em que começar do zero hoje é impossível – fazem de seus filmes algo semelhante a pancadas da própria cabeça na parede. Mas notáveis pancadas. Pacto de Justiça passa às 21:00 na HBO.

Dia 09
Na falta de grandes atrações ou de estréias promissoras nesta quinta-feira, podemos escolher entre dois dos filmes recentes que poderíamos chamar, segundo a denominação de Truffaut, de "grandes filmes doentes". A FOX passa Minority Report – A Nova Lei (Minority Report), de Steven Spielberg, às 21:00, enquanto o Telecine Emotion exibe Dogville (idem, 2003), de Lars Von Trier, no mesmo horário. De Spielberg podemos falar de uma fase atormentada pós-A.I., como se a criança que reinventou o grande cinema industrial hollywoodiano nos anos 70-80 tivesse se transformado num velho sem chegar a passar pela idade adulta. Minority Report se defronta com o material de base da ficção americana, e da instalação desse país como diferença (puritana e autocêntrica, sem a menor dúvida) no mundo. A intriga repete Intolerância: ver como é possível agir de forma diversa em relação ao destino. De Von Trier, falemos mais de uma obra inteira que dramatiza a doença mas é ao mesmo tempo instalado nela. Em todo caso, não como Cronenberg, que se instala na mesma doença de seus protagonistas. Os filmes de Lars Von Trier vão ficando progressivamente mais desprendidos da ficção que narram, e o jogo de identificações já não deixa esconder mais a maneira como ele faz do mundo seu teatrinho pessoal. O problema não é tanto o fato de que ele manipula (a manipulação e a questão identificação/distância estão no cerne do que está sendo discutido em Dançando no Escuro e Dogville), mas o resultado dessa manipulação: a entrada numa visão de mundo que tenta se autojustificar por construir um "universo", ou seja, ser cinema "de autor". Mas, em resumo, poderíamos dizer que neste universo falta mundo. Galáxia deserta.
Dia 10
Sem nenhum estardalhaço, quase em silêncio, o Eurochannel exibe Barocco, o Jardim do Suplício (Barocco, 1976), terceiro longa-metragem de André Techiné. com elenco superestelar: Gérard Depardieu, Isabelle Adjani, Marie-France Pisier, Jean-Claude Brialy e Jean-François Stévenin. Mais conhecida a partir da década de 80, a obra de Techiné funciona através de circuitos psicológicos que trabalham uma fisicalidade estranha nos atores, fornecendo interpretações carregadas de originalidade e pregnância. Adicionando a isso a dificuldade de acesso a esse filme (que, no mais, não é lá muito falado ou referido tratando-se de Techiné), vale a pena ligar no Eurochannel às 22:00
Dia 11
Kill Bill, Volume 1 sendo exibido na HBO às 21:00, grande chance de retornar ao filme de Tarantino. Primeiro ao formato: existe uma certa volatilidade nas maneiras de se assistir ao dístico de Tarantino, mas ver o filme em formato quadrado, no 4:3 da televisão (e do primeiro DVD lançado) não é uma delas. Uma das forças do cinema de Tarantino é a maneira precisa e impressionante com que ele enquadra para o formato panorâmico 2,35:1. Igualmente, pode-se dizer que as cores e os movimentos de Tarantino também pedem uma tela grande, e uma tela menor que nós reduziria bastante o poder de encantamento, a força da mise-en-scène. A narrativa, ao contrário da mise-en-scène, traduz bem para a tela pequena. Quentin Tarantino, o homem que fez com que o cinema comercial se rendesse à maior importância da mise-en-scène em relação à narratividade ou à história que está sendo contada – e assim mostrando-se discípulo fiel de Sergio Leone, de Monte Hellman, de Sam Peckinpah –, mostra seu filme mais desmesuradamente anti-narrativo, mais devoto ao artifício, e ganha sua aposta. Resta saber se na televisão dá pra perceber o que é nada menos do que uma evidência numa tela grande de cinema.
Dia 12
Possivelmente o melhor filme de Andrzej Wajda, Kanal (idem, 1957) estréia neste domingo na TV5 às 21:40. Uma certa tendência ao academicismo e à mão pesada apareceriam com o passar do tempo, mas isso não impediria a força de vários dos filmes que fazem sua fama: Sem Anestesia, Cinzas e Diamantes, O Homem de Ferro). Kanal, como os Bergman menos certos de si mesmo, é um filme mais apaixonante.
Dia 13
Com Sin City, Robert Rodriguez volta à categoria dos diretores fashion na qual esteve no começo de sua carreira, com El Mariachi e os filmes alavancados pela griffe Tarantino pós-Pulp Fiction (A Balada do Pistoleiro, Um Drink no Inferno, Grande Hotel). Três Spy Kids depois, além de alguns filmes em que Rodriguez se distanciou do imaginário "sangue e piadas" que fez a fama de seu amigo mais famoso, e Rodriguez volta à semi-obscuridade, ou à maldosa linhagem dos has been, o que, segundo muitos, Era uma Vez no México apenas confirmaria. Ora, o cinema de Rodriguez sempre foi medido a partir de Tarantino, injustamente e com um tanto de miopia crítica (em todo caso, esta fama foi dada mais pelo público teen-cult do que pela imprensa especializada... esta nunca chegou a levar Rodriguez muito a sério), e o cinema deste sujeito curioso sempre esteve muito mais do lado da mobilidade absoluta (ao contrário de uma certa monumentalidade do plano em Tarantino) e da construção do cinema como brinquedo. O mínimo que se pode dizer é que ele leva seu projeto muito a sério, de forma rigorosa e com muito talento e personalidade (pode-se dizer de cada um de seus filmes que eles levam a sua marca). Chance então, antes do reconhecimento absoluto, de ver (ou rever) Era uma Vez no México, que o HBO Plus passa às 22:05.
Dia 14
A coluna desta semana jamais teve a idéia de fazer destas linhas uma semana temática Tarantino. Mais eis que surge um filme de um dos diretores preferidos do diretor de Kill Bill: Walter Hill. Wild Bill – Uma Lenda no Oeste (Wild Bill, 1995) faz parte da reconstrução do imaginário do western que tanto preocupa Hill ao longo de sua carreira – chegando hoje à construção visual e à direção do episódio piloto da sé
rie Deadwood – e narra a história do pistoleiro Wild Bill Hickok. Outro caso de um diretor que já foi objeto de moda – Warriors, 48 Horas – e hoje precisa ser reencontrado fora do circuito da fama. Wild Bill passa no Telecine Action às 23:05.
Dia 15
Por fim, terminamos a semana com um clássico de Jerry Lewis e possivelmente a porta de entrada privilegiada para seus filmes: O Professor Aloprado (The Nutty Professor, 1963), em que Lewis adapta a história de Doutor Jekyll e Mr. Hyde a sua típica persona de tela. O filme passa às 22:00 na RetrôTV e não poderíamos elogiá-lo mais. Imperdível.

Dia 19
Enquanto esperamos por maiores reformulações, a coluna de filmes da semana, dado o histórico de constantes atrasos, passa a ser publicada no domingo, na esperança de que desta vez consigamos uma periodicidade assídua e dentro do prazo. A semana começa muito bem com três estréias de razoável interesse. Vamos à melhor: Aprile (1998), de Nanni Moretti, que passa às 22:40 no Telecine Emotion. É uma estréia apenas na rede Telecine, uma vez que o filme já circulou bastante pelos canais TVA/DirecTV. Ainda assim, uma ótima oportunidade para ver um Moretti em ótima forma, espécie de cinediário como anteriormente o fora Cario Diário. Reflexão sobre política italiana e sobre os prazeres e suplícios de se ter um filho. Simplesmente adorável. Antes disso, às 21:00, o Telecine Action estréia O Imbatível (Undisputed, 2002), último longa-metragem de Walter Hill até a presente data. Não é exatamente um dos momentos altos de sua carreira, mas também não é desprezível. O piloto da série Deadwood é melhor. Por fim, às 23:00, estréia no Canal Brasil o misterioso Guru das Sete Cidades, filme de 1972 dirigido por Carlos Bini e estrelado por Otávio Terceiro, ator de Rogério Sganzerla (O Signo do Caos, Nem Tudo É Verdade). Último filme de Bini, que um ano antes havia feito seu longa de estréia, Geração Bendita (É Isso Aí, Bicho), Guru é um desses filmes invisíveis que, quiçá, podem conter características bem curiosas. A ver.
Dia 20
O Telecine Premium estréia às 21:00 O Tango e o Assassino (Assassination Tango, 2002), irregular porém bastante interessante filme de Robert Duvall, ator amplamente conhecido e anteriormente realizador do grande O Apóstolo. Mas o grande destaque da noite é O Açougueiro (Le Boucher, 1970), um dos melhores e mais celebrados filmes de Claude Chabrol, com interpretações extraordinárias de Stéphane Audran e Jean Yanne, em uma das mais perturbadoras das histórias de Chabrol. Entomologista, diria o documentário de Labarthe sobre ele. Entomologista, sim, sem dúvida. Eurochannel, meia-noite de segunda para terça.
Dia 21
Estão aí em DVD todos os filmes da série A Pantera Cor-de-Rosa para vermos que Blake Edwards não é somente um comediógrafo, mas um grande encenador para o formato panorâmico (2,35:1) e um autor coerente e consistente ao longo de sua carreira. Um deles, A Vingança da Pantera Cor-de-Rosa (Revenge of the Pink Panther, 1978), passa no Film & Arts às 17:00 e à meia-noite de terça para quarta. É o último com Peter Sellers e não é exatamente o mais lembrado deles, mas se passar no formato certo, vale a pena tranqüilamente a visão... Se não, aproveitando que vivemos semana da mostra Cinesul (que mais uma vez se especializa em trazer para sua competição oficial filmes cada vez mais nulos), que tal conferir Los debutantes (idem, 2003), filme chileno de Andrés Waissbluth que, visto de passagem na tv a cabo uma certa vez, parecia bem interessante. O filme passa no Cinemax Prime às 23:15.
Dia 22
Rita Hayworth e Gene Kelly juntos dirigidos por Charles Vidor. Naturalmente Vidor é o que fica mal na fita, embora não seja nenhum borra-botas. Modelos (Cover Girl, 1944), que o Cinemax exibe às 16:00, é tido como um dos maiores musicais da Columbia, e Gene Kelly teve tratamento de luxo, chegando ele mesmo a dominar o set como uma espécie de diretor/produtor (a idéia da dança na rua, por exemplo, é interamente dele e de mais ninguém). Vidor não é exatamente um autor mas geralmente carrega bem seus filmes, e Hayworth vale quase qualquer parada.
Dia 23
Finalmente voltamos a falar no Telecine Classic. E agora com muito louvor, porque eles exibem um filme bastante raro de Budd Boetticher: Arrancada da Morte (Red Ball Express, 1952). Não é exatamente a época mais talentosa de Boetticher, não é o gênero em que ele foi mestre (o western), mas ainda assim, para todos aqueles que já viram ao menos um filme dele com Randolph Scott, assistir a qualquer Boetticher é questão de honra. O homem é um desses talentos que conseguem pegar o convencional e trabalhá-lo com uma limpidez tão incrível que tudo fica parecendo arte moderna. 21:00. Entretanto, para quem fez papel de bobo e não foi assistir ao relançamento nos cinemas da cópia restaurada de Terra em Transe (visão obrigatória, apesar da restauração deixar a impressão de que existe uma micropeneira entre a câmera e os atores) pode pegar o controle e vê-lo às 21:20, na TV5. Jardel Filho, Glauce Rocha, José Lewgoy, Paulo Autran, Paulo Gracindo e trocentos outros (Milani, Pereio, Emanuel Cavalcanti, José Marinho, Carvana, Migliaccio, Reston, Danuza Leão, Mario Lago, Jofre Soares, Darlene Glória) num filme que poderia se chamar "Brasil, 1967".
Dia 24
Mais Walter Hill aparecendo aqui. Desta vez é Confronto Final (Southern Comfort, 1981)
. O mundo do western assombra o trabalho desse realizador, e o assombra especificamente como um fantasma. Como fazer voltar um gênero que não existe mais, mas acima de tudo como fazer com que essas histórias nos pareçam atuais? É todo o sentido de sua obra mais cultuada por fãs, Os Selvagens da Noite (Warriors, em que gangues de rua vão fazer o papel de caubóis e pistoleiros). Confronto Final passa às 11:50 no Telecine Action.
Dia 25
Último filme de John Ford, Sete Mulheres (Seven Women, 1966) tem uma inacessibilidade impressionante. Filme feito em formato panorâmico de CinemaScope, o filme jamais consegue ser exibido desta forma, a não ser no TCM americano (porque o brasileiro é o lixo dos lixos, só exibindo filmes dublados e colorizados). Acaba que temos que recorrer à única forma possível de vê-lo, em tela cheia, nas periódicas exibições que faz o Canal Futura. Neste sábado, passa mais uma vez, às 22:00. Nenhum lançamento em vídeo, que dirá DVD. Nem nacional, nem importado. Ainda assim, é tido por muitos como um dos grandes filmes de John Ford, e para alguns o maior de todos. E então, ver ou não ver no canal Futura...? Até o próximo domingo.

Dia 26
Antes de Bonequinha de Luxo, Blake Edwards dirigiu seis comédias de que pouco se ouviu falar. Dessas, a mais conhecida é Anáguas a Bordo (Operation Petticoat, 1959), que o Telecine Classic estréia às 21:00. O filme, estrelado por Cary Grant e Tony Curtis, é uma comédia militar sobre um submarino quase sucateado. Ótima oportunidade para ver um Edwards ainda antes da fama como um dos grandes comediógrafos americanos, um estatuto que lhe pertence até hoje e que futuramente Contracampo tentará demonstrar o porquê.
Dia 27
Da mostra dedicada aos épicos romanos que o RetrôTV anda exibindo, o melhor é reter o mais interessante: A Queda do Império Romano (The Fall of the Roman Empire, 1964), de Anthony Mann, que o canal exibe às 22:00. Antepenúltimo filme de Mann, e seu segundo épico (precedido de El Cid, feito três anos antes), A Queda... tem um elenco estelar (Sophia Loren, Stephen Boyd, Alec Guiness, Omar Shariff, James Mason, Mel Ferrer, Christopher Plummer), e mesmo que os épicos dos anos 50-60 constituam um filão um tanto difícil de engolir hoje, o estilo de Mann faz aqui sua diferença, muito embora o ápice de seu cinema ainda esteja nos faroestes dos anos 50. No Telecine Emotion, estréia às 21:00 Fábrica de Robô (Heartbeeps, 1981), filme dirigido por Allan Arkush, responsável por algumas comédias cult do mesmo período (Rock'n'Roll High School, 1979; Get Crazy, 1983) e hoje dirigindo quase que unicamente para séries de televisão (e nenhuma muito honrosa, diga-se), e estrelado pelo mitológico comediante Andy Kauffman – cinebiografado por Milos Forman em O Mundo de Andy/Man on the Moon (1999) –, que viria a morrer três anos depois. Isso tudo, é certo, não eleva a expectativa sobre o filme para além da curiosidade, mas em todo caso a visão corre o risco de recompensar.
Dia 28
Em Tropas Estelares (Starship Troopers, 1997), Paul Verhoeven faz sua costumeira prova pelo absurdo e exerce seu inegável talento satírico em cima do militarismo americano. Talvez mais que em qualquer outro, neste filme fica clara a proposta de Verhoeven de carnavalizar e usar o excesso para criticar. Se antes alguém achava que seus filmes eram apenas puras obras de mau-gosto (não que não o sejam, mas elas são isso e seu inverso crítico), esse passa a pá de cal. A conferir no Cinemax Prime às 21:30. Já no Cinemax, passa a nada confiável seqüência de Vampiros, de John Carpenter. É Vampiros: Os Mortos (Vampires: Los Muertos, 2002), de Tommy Lee Wallace,
que além de dirigir sequels de Carpenter não fez muita coisa além de dirigir telefilmes e episódios de séries de tv. O filme passa às 22:00, e o ator principal não dá nenhuma vontade de conferir: Jon Bon Jovi. Então, talvez valha a pena prestar atenção num realizador que já teve a sua fama e hoje é conhecido apenas por ter feito O Céu É Para Todos (To Kill a Mockingbird, 1962): Robert Mulligan. Em Quando Setembro Chegar (Come September, 1961), ele dirige Rock Hudson e Gina Lollobrigida numa comédia romântica em CinemaScope, e o Film&Arts exibe às 20:00. A não deixar passar – principalmente se o canal for bacana e passar o filme no formato certo.
Dia 29
Falando em formato certo, um que se vê em formato certo na televisão e não no cinema é Elogio ao Amor (Éloge de l'amour, 2001), de Jean-Luc Godard, que o Cinemax Prime exibe às 19:45. Metade em película e preto e branco (para o presente), metade em vídeo digital colorido (para o passado, com um colorido saturado extraordinário), o filme começa com o amor mas rapidamente fala que, para haver amor, é preciso primeiro haver memória e história, e daí desencadeia as reflexões que Godard vem fazendo nos últimos anos sobre a imagem como memória, ou a imagem como esquecimento; sobre política hoje, e sobre atuação. Os locais históricos abandonados em preto-e-branco, mais documentais impossível, são um verdadeiro filme de terror – o terror da História. Um grande filme, amargurado mas acreditando como poucos na imagem e na força que ela (ainda) tem contra a não-imagem da difusão midiática.
Dia 30
Eis uma bela novidade do Telecine Classic: exibir juntas as duas versões mais famosas cinematográfica de Ave do Paraíso (Bird of Paradise), a peça de Richard Walton Tully, dirigidas por dois diretores no mínimo consideráveis. A primeira, que passa às 19:30, é de King Vidor, de 1932, com Dolores Del Rio e Joel McCrea, e a segunda, exibida às 21:00, é de Delmer Daves, de 1951, estrelada por Debra Paget e Louis Jourdan. Mais do que questão de disputa entre as duas versões, aqui é a ocasião para ver dois filmes de diretores que vale a pena acompanhar, um decisivo (Vidor) e outro interessante (Daves).
Ruy Gardnier

 

 
Rafael (Eduardo Moscovis) e Luna (Liliana Castro) em Alma Gêmea, nova novela das 19h da Globo

CONTRA-REGRA

A novela do horário das 19h da Rede Globo que estreou esta semana, Alma Gêmea alcançou níveis altíssimos de audiência, ao contrário de sua antecessora, Como uma Onda, que amargou um quase fracasso. Reprise da parceria entre Walcyr Carrasco e Jorge Fernando, o folhetim retoma a época de O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta e conseqüentemente seus figurinos vaporosos e amor ingênuo. Mas, desta vez, no que tange ao amor, Carrasco pretende ir bem mais longe (...)

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