O Monge à Prova de Balas
Paul Hunter, Bulletproof monk, EUA, 2003
Logo no começo deste filme de estréia de Hunter, Chow Yun Fat, após assistir seu parceiro lutar, pergunta aonde ele aprendeu a lutar. Este lhe responde que fora no "Golden Palace", o que Chow assume se tratar de um templo budista. Calha do tal Golden Palace ser um cinema, e o personagem ter efetivamente aprendido a lutar assistindo a filmes orientais que eram exibidos por lá. A situação resume com perfeição O Monge à Prova de Balas, já que o filme é exatamente uma colagem de outros filmes orientais (que recebem uma certa legitimidade pela presença de Chow Yun Fat no elenco).

O filme ganha pontos justamente por deixar bem claro este jogo oriente/ocidente juntando filmes orientais de artes marciais com revistas em quadrinhos (o filme é adaptado de uma). O diretor Hunter e seus roteiristas conseguem tirar um certo frescor deste encontro, fazendo bom uso do que há de artificial nos efeitos e na direção de arte. A trama absurda (com direito a um veterano nazista como vilão) é completada pelo artificialismo da direção de Hunter - que não esconde sua origem na direção de videoclipes, mas consegue emular bem o estilo dos filmes que tem como modelo (mesmo que ocasionalmente pise na bola no ritmo de certas cenas).

Se o filme funciona bem como uma HQ exuberante e como filme de artes marciais, patina freqüentemente quando tenta ser um filme de dupla de parceiros que precisam se acertar. Nestes momentos a salada de gêneros de Hunter desanda, e - ao contrario do que ocorre com os efeitos falsos - as limitações de produção B do filme o prejudicam, já que o elenco de apoio deixa Chow Yun-Fat constantemente na mão. Ele, por sinal, é a melhor razão para se ver o filme emprestando um mínimo de graça mesmo às menos inspiradas situações e diálogos. Este é o tipo de material que um artesão de Hong Kong como Corey Yuen dirigiria eficientemente no seu sono, mas se o filme de Hunter ainda não serve Chow tão bem como poderia, é um grande avanço em relação a um Assassinos Substitutos ou O Corruptor.

Filipe Furtado