Looney Tunes: De Volta à Ação
Joe Dante, Looney Tunes: Back in Action, EUA, 2003
Há duas formas de se observar o projeto de Joe Dante com Looney Tunes: De Volta à Ação, e em ambas o cineasta é muito bem sucedido. Primeiro, temos uma afetuosa homenagem aos elementos do imaginário cultural americano do pós-guerra que marcaram a infância do diretor. Em especial os desenhos da Warner – mas não só eles –, aqui ressuscitados. Estas animações serviram de inspiração para o diretor na maior parte dos seus filmes; aqui, elas assumem o primeiro plano.

A Warner se mostrou bastante feliz em optar por Dante para conduzir o filme. Poucos outros cineastas teriam compreendido tão bem o universo destas personagens. Há algo de muito empolgante em De Volta à Ação, na forma que ele reconstrói o mundo destes desenhos animados. A proximidade do diretor com seu material é tanta que na verdade o ponto de partida do filme – Patolino deixando a Warner por não agüentar mais servir de capacho para Pernalonga – é a mesma de uma pequena piada de Gremlins 2 (o filme de Dante que De Volta à Ação mais se assemelha).

Em segundo lugar, estamos diante de um empolgante filme sobre representação. De Volta à Ação parece ter sido feito nos fundos do estúdio da Warner, que serve de cenário para suas cenas iniciais. Todos os lugares para os quais a ação se desloca nunca existem pelo que são, mas por um filtro hollywoodiano que o altera. Não deixa de se ver o mundo como um grande clichê pausterizado (daí a trama sub-007 em que os personagens se envolvem, menos uma sátira e mais um acompanhamento adequado para o material do filme).

A cena chave do filme é a muito comentada seqüência no Louvre, em que Patolino e Pernalonga são perseguidos por Hortelino através de vários quadros famosos. A maior parte das criticas menciona como nós ganhamos as versões de Dali, Seurat e Munch para Patolino e Pernalonga. De forma inversa, no entanto, nós também ganhamos as versões hollywoodianas de Seurat, Dali e Munch. Na Paris de Dante, o Louvre é vizinho da Torre Eiffel, e aparentemente há retrospectivas diárias de Jerry Lewis. O mesmo tipo de representação acontece com todas as locações do filme, à exceção de Las Vegas (talvez porque Dante considere que não haveria como alterar qualquer coisa lá).

Partindo disso, não chega a nos surpreender que o mundo do filme siga a lógica dos desenhos muito mais do que qualquer tentativa de manter uma aparência de realidade (o herói Brendan Fraser acaba enfrentando no clímax do filme um cachorro-robô gigante que parece saído de uma animação barata). O mundo hollywoodiano de Looney Tunes: De Volta à Ação é ele próprio um grande cartoon, onde as personagens humanas são autômatos tão grandes que soam bem menos humanos do que os desenhos a sua volta. A anarquia deles nos é bem mais próxima.
E em que outro filme teríamos Patolino como herói?

Filipe Furtado