1972
José Emílio Rondeau, Brasil, 2006

1972 é um filme sobre primeiro amor adolescente, com rock, rebeldia, descoberta de si mesmo, tem a belíssima Dandara Guerra como protagonista e ainda toca "Baby", na versão de Gal Costa, e "Acabou Chorare" dos Novos Baianos. Como um filme com tudo isso pode ter ficado algo tão insosso? É a pergunta que se faz ao fim desse longa-metragem de estréia de José Emílio Rondeau, mais famoso como jornalista cultural do que como cineasta. Não que 1972 seja um fracasso total ou desinteressante. Algumas partes são cativantes pelo sentimento que passam (a descoberta de um amor ali onde menos se espera, a timidez de se entregar e ter sua breve vida mudada definitivamente), e outras são simpáticas pelas situações que evocam (tocar em banda com amigos, começar uma carreira em jornalismo musical). Mas o sentimento geral é o de um esforço desperdiçado.

Desperdiçado, sem dúvida, pela falta de jeito em criar soluções de mise-en-scène que fujam do óbvio. A câmera sempre parece estar posicionada apenas para que se vejam os personagens em quadro falando os diálogos, sem uma preocupação maior em situá-los nos espaços em que vivem. A narrativa, por sua vez, tem uma progressão cheia de solavancos desnecessários (algumas coisas demoram para acontecer, outras acontecem rápido demais), e uma construção de personagens que funciona entre o profissionalmente tosco e o inocentemente naif. Para coroar, o filme ainda opta por criar momentos próximos de um piegas "realismo mágico" ao fazer contracenar o protagonista com o personagem interpretado por Toni Tornado, quase um profeta, que tenta trazer uma relação mais matizada e complexa da questão militar da época mas só consegue criar momentos realmente constrangedores. Como, aliás, é constrangedora a filmagem da cena em que a polícia montada aparece para fechar a sessão de Gimme Shelter em que os dois protagonistas se conhecem.

Ainda assim, 1972 consegue abrir espaço para um pouquinho de sensibilidade adolescente, trabalhando com seus personagens sempre na casa de uma insegurança que emociona: incertezas quanto a ser ou não músico, seguir ou não o destino que os pais esperam, ter controle de tudo ou se deixar levar por uma paixão. Muitas vezes os diálogos não são os melhores, muitas vezes os atores masculinos não são capazes de criar uma maior empatia, e sempre a imagem é apenas uma ilustração do roteiro. Mas, no meio de tudo isso, existe espaço para um brilho de olhar, para a beleza sincera de um momento de hesitação, para a autenticidade meio boboca - mas adorável - de ser adolescente e querer trabalhar com arte. Um pequeno mérito no meio de uma multidão de enganos, mas, ainda assim, um pequeno mérito.


Ruy Gardnier