MARCUS VINÍCIUS FAUSTINI

Filmografia:
2006 Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha

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Primeiro de tudo, gostaria de saber como nasceu o projeto de Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha e como ele foi realizado.

A idéia de fazer o documentário tem três eixos principais:

1) O filme é resultado do Reperiferia, projeto que realizo na periferia da cidade do Rio de Janeiro, onde através de diversas ações culturais procuramos criar expressões estéticas, éticas e econômicas. Em 2005 tivemos mais de 400 alunos e cerca de 100 mil pessoas passaram por nossas ações.

2) O filme tem como missão teórica tentar contribuir numa análise mais sutil das contradições da cultura popular nos centros urbanos e na observação de aspectos que demonstram que a periferia tem dinâmicas subjetivas contemporâneas que a diferenciam da favela e do que chamamos de subúrbio.

3) Como cresci no bairro de Santa Cruz, berço das mais de 100 turmas de Clóvis da cidade, sempre fiquei impressionado com o não-reconhecimento dado pela mídia e pela academia a esses mascarados que geralmente freqüentam as páginas policiais apesar de mobilizarem comunidades inteiras. Queria ver o que tinha acontecido com esta manifestação que marcou minha infância.

Ao contrário de muitos filmes brasileiros, que ficam esperando nas prateleiras por muito tempo para serem lançados e, em vários casos, nem chegam ao lançamento comercial, o seu filme teve uma estréia bem próxima do momento em que a cópia final do filme ficou pronta. Como se deu isso?

Desde o início das filmagens decidimos que o filme teria que ser exibido de qualquer maneira. Sabíamos do pequeno alcance de nossa empreitada, mas mesmo assim criamos algumas estratégias através de constantes análises de como ,onde e para quem nosso filme seria mostrado. Procuramos parceiros e conseguimos pequenos apoios da Prefeitura do Rio e das Casa Bahia. A idéia era mostrar a possibilidade de se realizar uma produção para além das leis e dos grandes circuitos. Mandamos uma cópia para o Adhemar que nos convidou para o circuito Unibanco Arteplex. Exibimos 3 semanas no Rio e em São Paulo. Participamos de dois festivais e agora fizemos um acordo com a TVE que vai exibi-lo nacionalmente.

O filme tem, digamos, um público mais geral, o dos interessados no carnaval e nas manifestações culturais cariocas e brasileiras (o público que, a princípio, vai às salas comerciais) e um público mais específico, composto das pessoas que fazem parte dos grupos de clóvis, e dos bairros em que eles saem para brincar. Houve algum tipo de esquema de exibição para contemplar esse público?

Sim, no mês de agosto estamos dando continuidade ao Caravana Reperiferia, ação que leva produtos de nosso projeto, inclusive o filme, a várias comunidades da cidade.

No próximo carnaval negociamos com as Casas Bahia uma nova parceria para lançar o DVD nas Lojas.

O lançamento comercial se revelou como suficiente para fazer as pessoas terem acesso ao filme?

Não. Continuamos trabalhando para que isso aconteça.

Filme não é evento, não existe apenas para ser lançado em circuito e festivais .Acredito que devemos lutar não só pelo orçamento de produção de um filme ,mas para que ele tenha uma vida longa em várias formas de exibição. Minha geração tem que continuar fazendo filmes e descobrindo novas dinâmicas comerciais. Os problemas dos grandes orçamentos e das grandes bilheterias deve ser resolvido por aqueles que ganharam dinheiro com este discurso.


Entrevista concedida a Ruy Gardnier, por e-mail

 

 






Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha