A Concepção
, de José Eduardo Belmonte
Fim da série That 70s Show, personagens da Copa do Mundo e os filmes da semana na tv a cabo.
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Coleção Herbert Richers, O Rio Sagrado de Jean Renoir (foto), e ainda Jacques Tourneur, Dino Risi, Gordon Douglas, Sam Raimi...

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Achados ou perdidos?

Trinta filmes brasileiros em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo no primeiro semestre de 2006. Há quanto tempo não sonhávamos com isso, com uma oferta de títulos que testemunhariam um panorama rico e saudável do cinema brasileiro? No entanto, a experiência foi bem outra, totalmente oposta, poderíamos dizer. Apesar da grande diversidade de propostas e títulos, o que se vivenciou foi uma grande confusão de filmes sendo arremessados em cartaz e resistindo por poucas semanas no circuito exibidor, sem mesmo dar a chance de um contato maior com o público. Se o número de filmes lançado é auspicioso, os índices de bilheteria são desencorajantes. Excetuados os filmes da Globo Filmes (que, a não ser Se Eu Fosse Você, também renderam muito abaixo das expectativas), nenhum conseguiu superar a marca de 50 mil pagantes, e apenas metade chegou a fazer 10 mil espectadores. Mas pior que o desempenho comercial foi o clima fratricida em que esses filmes foram lançados, criando uma competição desproporcionada entre títulos que tinham a mesma suposta faixa de público e fatalmente antecipando a saída de cartaz dos lançamentos de semanas anteriores. Mesmo aqueles que vão religiosamente assistir a todos os filmes brasileiros que entram em cartaz – como vários aqui da própria Contracampo – ficaram inteiramente perdidos diante de tantos lançamentos e prazos tão curtos para se atualizar com a produção. Num ambiente como a comunidade cinematográfica brasileira, que não cansa de arrotar a necessidade de fazer o filme chegar ao público e a obrigação quase cívica do cineasta para com o espectador, uma conclusão muito nítida se faz presente ao observar esse semestre: nunca foi tão fácil perder um filme brasileiro.

Claro, há nuances, explicações, variações de caso a caso, fatores atenuantes – o maior sendo o pânico das distribuidoras em lançar seus filmes num ano de Copa do Mundo e eleições nacionais –, mas o que aqui se revela é um descompasso gritante entre a produção de filmes e a forma de distribuí-los e exibi-los visando atingir um público mais amplo. Um descompasso que, em momentos, parece cheirar até como preguiça, incompetência ou pouco caso com o sucesso ou fracasso dos filmes em questão. Imersos nesse aparente clima de desnecessidade do cinema brasileiro – afinal, o nosso cinema quer falar para quem? –, nós que fazemos muito caso e temos necessidade de cinema brasileiro tentamos observar diversos lados dessa crônica de mortes anunciadas que foi o circuito exibidor para o filme brasileiro esse semestre. Como se configura o mercado? Qual foi a sensação do cinéfilo ao se deparar com tantos filmes e tão pouco tempo de vê-los? Que possíveis pensamentos podem nascer da correlação de um filme com outro, de vários filmes entre si, da confluência cronológica de várias propostas e registros de cinema? É essa sensação ao mesmo tempo frenética, depressiva e desajeitada de tudo-ao-mesmo-tempo-agora que se teve na trajetória ao longo desse semestre que essa edição de Contracampo deseja reconhecer, compreender e discutir, entrevistando gente especializada em mercado, perguntando a diretores de cinema com projetos muito particulares como eles vêem a noção de mercado exibidor para seus filmes, revelando as impressões subjetivas sobre essa maratona informal, e, claro, discutindo e avaliando os filmes que vemos.

A edição se completa com outra faceta do viver-cinema no Brasil: a formação dos cineastas, aqui contemplada pela cobertura do Festival Brasileiro de Cinema Universitário. Panorama como sempre irregular, com muito poucos arroubos de criatividade e desejos mais vigorosos de cinema, mas ainda assim palco para algumas descobertas que fazem a diferença. Pois, naturalmente, o encontro com sensibilidades singulares e intensas emoções de espectador são aquilo que compensa e justifica nossa trajetória por essa tortuosa estrada do cinema no Brasil.

     
  Ruy Gardnier