O Poeta da Vila: Argumento

Histórico: Eletrificação é Pré-revolução Industrial (1930) :

No inicio da terceira década o latifúndio é golpeado no Brasil, Wahington Luis deposto a 24/10/ 1930 (mudança de estratégia e padrões, explosão demográfica) . Com a eletreficação – estágio inicial de revolução industrial – forma-se uma nova linguagem urbana – em arte popular – atraves do disco (elétrico desde 1928), do rádio (poderoso veículo a partir da liberação da publicidade em 1932), do cinema sonoro (processo ótico em A Voz do Carnaval, documentário de 1934, Alô Alô Brasil, 1935, e Alô Alô Carnaval, 1936), desenvolvida em função de nossa melhor arte – o samba.

Nos bastidores da luz:

Inevitavelmente, O Poeta da Vila será uma incursão (reflexiva) nos bastidores e primórdios de processos de eletrificação no Brasil – e seus reflexos, decisivos, sobre o comportamento das massas – o intercambio de idéias proporcionado pela difusão da luz elétrica em seu explosivo tataear, no Rio (campo de artes industriais como disco, rádio, cinema) praticamente em termos de samba. Tempo de luz e espetáculo – reflexos "modern style" da usina de sonho central (Hollywood), vivenciados no Casino da Urca, Jóquei e Circuito da Gávea, Café Nice, Rádio Nacional e Programa Case – além da fome e prostituição.

Em busca da memória da Memória Nacional:

Da necessidade de uso do acervo de uma época e do documento histórico a serviço da reconstituição cinematográfica – conseqüentemente do original som do cantor e compositor Noel de Medeiros Rosa (1910-1937) na busca difusa e imponderável de uma noção moderna e atuante de catarse coletiva (memória nacional).

Será uma tentativa de decomposição de um caso biográfico, ou tragédia cômica, alcançando o coletivo pela justaposição da consciência com o drama individual, rtecorrendo a certa amargura profissional que em Noel Rosa tão bem se expressa rindo – e dá margem à comédia sobre o lado sério da vida – valiosa arte de época de crise, como em trinta, pagando alto preço do progresso mal planejado (desajustes e falta de planificação redundantes no crack de 1929); de uma nítida coletivização da forma, gerada de um lado pelo complexo industrial e pela simplificação gestual de outro (vale lembrá-lo: "O cinema falado é o grande culpado da transformação...), em suma, devido à discussão absorvente e internacional da luz elétrica, mesmo na depressão.

Testemunho de um mestre da língua(gem) urbana:

Noel Rosa foi vítima – sobretudo testemunha – de novos e difíceis tempos – testemunha – sua obsessão pelo experimental que o situa à condição de artista moderno, além de homem de seu tempo, fazendo da obra de arte uma questão em aberto (obra) – sobre ela própria – ao mesmo tempo tudo e nada dizendo sobre(tudo) o vazio da criação.

Mestre indiscutível da língua, permanentemente inspirado, formando e informando uma nova língua urbana, ágil e sintético no uso da metáfora (lancinante...) incorpora o ideograma ao samba, encontrando Noel o ponto de acerto – entre a intenção e o recado da grande obra de arte sem estilo (que em cinema, impõe a linguagem da profundidade de campo, ação paralela e ritmo rápido, no melodrama poético, relação e não cópia de documentos históricos).

Aparentemente brincando, Noel Rosa enriquece o povo, a memória coletiva e o acervo cultural de uma nação – na tradição anônima dos grandes sambistas, recorrendo à vertente generosa do congo, lundu e embolada, ritmos precursores do samba e de uma nova prosa (prova) nossa – em formação.

 

Rogério Sganzerla