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C) "Sem Essa Aranha"
de Rogério Sganzerla
Diferentemente dos dois filmes
anteriores, produções recentes ora em
exibição, e cuja carreira comercial dependerá,
a partir de seu lançamento, apenas do público,
Sem Essa Aranha, chanchada apocalíptica
realizada em 1970, não foi nem poderá
ser por muito tempo lançado em circuito, por
causa do moralismo que ainda caracteriza nossa censura
(as conotações políticas são
indiretas e alegóricas – seriam irrelevantes
num clima de certa descompressão).
Ainda que não possa ser
visto por ninguém, Sem Essa Aranha é
um dos pouquíssimos grandes filmes brasileiros
feitos desde Terra em Transe de Glauber Rocha
em 1966. Quem perde pelo seu forçado ineditismo
é a própria cultura nacional.
Como já disse acima,
o filme é uma chanchada apocalíptica.
Quem é o Aranha? Um ator de cabaré barato
ou um poderoso capitalista que mora num palácio
no meio da favela? E quem são suas três
companheiras? Vedetes, faveladas ou "piranhas"
no asfalto? Nada disso importa muito agora. O que há
de realmente extraordinário, a respeito deste
terceiro longa de Sganzerla, é a comprovação
(se alguém ainda tinha dúvida) de que
ele está seguramente entre os nossos três
melhores cineastas, com um fantástico controle
de tempo e do ritmo, e a louvável capacidade
de tirar o máximo proveito do mínimo de
recursos. Uma câmera na mão, uma idéia
na cabeça.
Sem essa Aranha foi realizado
em 16mm a cores, e quase todo improvisado (isso é
o que realmente podemos chamar de colaboração
criativa dos atores), e há quatro anos atrás.
Continua atual, ainda vanguardista e de alta qualidade
ainda hoje – tão mais que toda produção
nacional dos últimos anos (a maioria dos quais
nem teria sido feita, ou seriam completamente diferentes,
se ele tivesse sido exibido quando terminado porque
os grandes filmes resistem ao tempo, ao moralismo, até
ao ineditismo).
Rogério Sganzerla, menina
dos olhos da crítica alguns anos atrás
(inclusive do próprio INC), tem pago bem caro
sua recusa de ser o enfant-terrible duma Hollywood
cabloca e sua ousadia de progredir sem auto-censuras
na sua liberdade criativa. Nos últimos quatro
anos, dirigiu pelo menos três filmes que tiveram
a mesma sorte deste. Como talento é algo nato,
e não depende de platéia e bilheteria,
é inevitável que mesmo o grande publico
terá um dia o seu grande reencontro com o grande
diretor.
Para os que colaboraram em Sem
essa Aranha, na frente ou atrás das câmeras,
Sganzerla; José Antonio Ventura (fotografia);
Julio Bressane (montagem); os atores, Jorge Loredo (O
Zé Bonitinho da tv), Maria Gladys, Helena Ignez,
Aparecida; e os convidados Moreira da Silva e Luiz Gonzaga,
resta o magro consolo de terem criado o melhor filme
nacional dos últimos oito anos.
Deve servir pra alguma coisa.
João Carlos Rodrigues
(s/d)
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