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Névoas, sombras e estranhamento
- as phantasmagorias sob a óptica do romantismo Parte
VII
" Estive hoje
na oficina fotográfico do Henshel. Vi lá uns sujeitos que
me apontaram como "i promessi esposi" das "duas pombas
de esperanças" no teu "Mar de escolhos"; mau gosto
tiveram as meninas! São uns lagartos que se vão colocar
nos tais lixos dos vales orientais. Dou-te os sinceros pesames, ou parabéns,
porque deve ser uma consolação para os desprezados verem
os seus "anjos de luzes" desposados com ruins marmanjos."
" Cada celebridade trabalha em duas obras: na obra que realiza enquanto vivo e na obra fantasma...o ser vivo se consagra a primeira. À noite, porém, no silêncio profundo, desperta- Oh, terror! - nesse ser vivo o criador fantasma .- Como?- Grita a criatura. - Isso não é tudo?- Não- responde o fantasma-, acorda e levanta-te; a tempestade anda `a solta; uiva os cães e as raposas; há trevas por toda a parte, a natureza estremece, se confrange sob o açoite de Deus...-O criador fantasma vê as idéias fantasmas. As palavras se eriçam, a frase se arrepia... A vidraça torna-se opaca, o medo toma conta da lâmpada... Toma cuidado, ó, vidente, toma cuidado, ó, homem de um século, tu, vassalo de um pensamento terrestre. Pois isto aqui é demência, isto aqui é o túmulo, isto aqui é o infinito, isto aqui é uma idéia-fantasma!" Sabe-se que Castro
Alves, talvez por sentir próxima a morte com o agravamento de seu
estado de saúde, começou a interessar-se pelo espiritismo,
solicitando por carta ao seu amigo Augusto de Guimarães, um exemplar
dos "Livros dos Espíritos" de Allan Kardec, que, ingenuamente
o poeta denomina "Poética do Espiritismo". Augusto de
Guimarães tenta, mas, como era de se esperar, não consegue
encontrar nenhum livro do autor espírita com esse nome e completa,
solícito "Foi-me facultada a consulta em uma Biblioteca Espírita
e verei o que te poderá servir. Mandar-te-ei pelo Gregório,
que é portador seguro." Se chegou ou não às
mãos do poeta a encomenda, de nada influenciará nas conclusões
aqui tiradas, que muito revela das predisposições do autor
em seus últimos dias, mas não se as fantasmagorias foram
vislumbradas por ele. É meia-noite.
Um senhor da redação chega-se a mim com ar carregado: O jornalista, desesperado
por ainda nada haver escrito para o jornal do dia seguinte, sem inspiração,
passa a noite em claro até que, antes dos primeiros raios da manhã.
uma figura sinistra aparece na redação. É uma mulher.
Ela toma-o pelo braço e o leva por ruas tortuosas e escuras. Passam
por um deserto: O jornalista, enquanto transpõe o espaço-tempo com grande desenvoltura, chegando inclusive a ir até a Bahia, vai, inconscientemente, elaborando sua crônica para o periódico O Futuro, levado pela estranha mulher que, ao final da viagem, o deixa de volta na redação abraçando-o na despedida com tal força que quase o sufoca. Nesta estalo de juntas, ele acorda, sacudido por seu companheiro de quarto que o chama para a aula. Esfreguei os olhos,
incrédulo, uma e muitas vezes. Além de citá-las textualmente, Castro Alves ainda deixa-nos extremamente atentos quando, logo no início de sua viagem astral, é levado até um "edifício com semelhança de convento, feio e tosco", na frente do qual uma multidão se aglomera. Como sabemos, Robertson exibia suas projeções dentro de um convento antigo, para causar um impacto maior no público. Tal feito não deve ter ficado alheio aos brasileiros, pois as sessões, como já foi dito anteriormente, foram um sucesso estrondoso na França, a vitrine do mundo Ocidental no século XIX. Mas estas relações podem não passar de miragens, o que dá ao presente estudo uma igual atmosfera fantasmagórica, e a estas palavras incertas a tonalidade esmaecida de uma paisagem que se esfuma, perdendo-se de vista quanto mais os olhos atentam, esquecidas antes mesmo de formuladas na memória. Guilherme Sarmiento Clique aqui para ir para a oitava e última parte deste ensaio
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1. Calmon, Pedro. "A Vida e Amores de Castro Alves". Ed. A Noite AS. RJ/1935. p 200 2.BENJAMIM, Walter. Charles Baudelaire, Um Lírico no Auge do Capitalismo. Obras Escolhidas III 2 ed. São Paulo: Brasiliense. 1991, p59. 3. GUIMARÀES, Gilberto. Castro Alves nas Ruas do Rio. RJ, Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1979, p23. 4. Paulo Antônio do Valle , estudante de direito , relatando a época"Eram diversos os pontos que nos reuníamos: ora nos ingleses, ora em algum outro arrabalde da cidade. Uma vez, estivemos encerrados quinze dias, em companhia de perdidas, cometendo ao clarão de candeeiros, por isso que todas as janelas eram perfeitamente fechadas desde que entrávamos até sair, toda a sorte de desvarios que se pode conceber." |