Hayao Myazaki


Textos

Meu Amigo Totoro (1988), por Juliana Fausto
Porco Rosso (1992), por Fernando Veríssimo
Princess Mononoke (1997), por Juliana Fausto



Uma introdução

Não há dúvidas de que o cinema de animação está em alta. Em termos comerciais, a década de 90 representou um momento de ouro com a revitalização dos títulos de longa-metragem dos estúdios Walt Disney (à frente a visão para os negócios de Jeffrey Katzenberg), sucessos instantâneos no mercado mundial. No fim da década, a saída de Katzenberg para montar em sociedade com Spielberg e Geffen a Dreamworks, demonstrou o quanto as animações representavam, comercialmente, um campo inesgotável.

Outros estúdios surgiram nesta época para cumprir a demanda do público. O exemplo maior foi a aquisição da pequena Pixar, especialista na animação totalmente digital, pelos estúdios Disney.

Em 1996, a Disney assina um acordo com a produtora japonesa Tokuma para a distribuição internacional (excetuando o território asiático) de seus títulos animados. O filet mignon do acordo eram os trabalhos do Ghiblin Studios, empresa dos animadores Hayao Miyasaki e Isao Takahata, cujos títulos vinham quebrando sucessivamente recordes de bilheteria e um expressivo número de vendas para o mercado de home video. A Disney adquiriu os direitos para a distribuição de nove títulos da Ghiblin, incluindo Princess Mononoke (Mononoke Hime), o mais recente filme de Miyazaki que tinha sido então a maior bilheteria da história do Japão. A subsidiária Miramax foi responsável pelo lançamento em telas norte-americanas, numa versão dublada por astros de Hollywood (Claire Danes, Billy Bob Thornton, etc.) e escrita por Neil Gaiman. A maciça campanha publicitária (especialidade da Miramax) somada à qualidade do filme provaram o que se esperava: um sucesso retumbante.

Nos últimos dois anos, três conquistas importantes foram obtidas para o reconhecimento crítico da animação: primeiro, a inclusão da categoria longa-metragem de animação no Oscar; segundo, a participação de Shrek, da Dreamworks, na competição oficial do festival de Cannes; e, por último, o Urso de Ouro conquistado em março no festival de Berlim por Spirited Away (Sen to Chihiro no Kamikakushi), última obra de Hayao Miyazaki. O prêmio era inesperado e todas as atenções se voltaram para o mestre japonês. A mesma pergunta frequentou a imprensa do mundo inteiro: afinal, quem é Miyazaki?

Provavelmente o maior animador do mundo atualmente (e sem dúvida, um dos maiores de todos os tempos), consagrado Officier des Arts et des Lettres este ano pelo governo francês, Hayao Miyazaki, de 62 anos, começou sua carreira em meados da década de 60 como um animador dos estúdios Toei. Ao longo dos anos, trabalhou em séries para a televisão e editou mangás muito populares no Japão. Seu primeiro longa, Lupin III: Castle of Cagliostro (Rupan Sansei: Kariosoturo no Shiro, 1979) era a transposição de uma destas séries para o cinema.

Em 1984, seu segundo longa Nausicaä of the Valley of Wind (Kaze no Tani no Nausicaa), adaptação de uma série de mangás de sua autoria realizado para a Tokuma, foi um imenso sucesso de público, levando-o em sociedade com Isao Takahata a montar sua própria produtora, a Ghiblin. A nova produtora dá início a uma série de obras-primas: Laputa: Castle in the Sky (Tenku no Shiro Rapyuta, 86); Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro, 88); Kiki's Delivery Service (Majo no Takkyubin, 89); Porco Rosso (Kurenai no Buta, 92); além de Mononoke e Spirited Away.

Seus filmes, realizados artesanalmente, são em sua maioria protagonizados por meninas (crianças e adolescentes) e contam histórias de passagem para a vida adulta. A sensibilidade de Miyazaki é evidente na maneira com que ele captura o universo infantil, deixando passar uma certa melancolia na sua evocação do imaginário das crianças e na presença de elementos fantásticos.

Fernando Veríssimo

Nota: Para quem se interessar em maiores informações sobre Miyazaki e a Ghiblin, um bom ponto de partida é o site www.nausicaa.net.