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Cinema
Falado
Daniel Caetano Primeiro eu queria falar do fim do Tesouros da Cinemateca, que eu acho um absurdo. Os únicos filmes antigos que passaram nessa mostra foram filmes de cineastas já consagrados: o Saraceni, o Aviso aos Navegantes, passou O Padre e a Moça, passou o Alô, Alô Carnaval sem nenhuma divulgação. Agora, os filmes antigos do MAM estão vetados completamente e não tá havendo um interesse estratégico. Ruy Gardnier Mas não houve nenhuma mostra específica, eu acho isso um problema. Na verdade, em matéria de cinema mudo, houve um furo em cima da hora: ia ter uma retrospectiva do Max Linder que não teve. Caiu em cima da hora, mas eu acho que sim, o Festival devia recuperar essa parceria com o MAM para uma mostra específica de memória do cinema mesmo. Daniel Porque se essa mostra é tão ampla, com certeza tem que ter um espaço para isso. Ela já tá ampla demais, agora, na hora de cortar alguma coisa cortaram justamente o clássico? Cortaram justamente a questão da cultura cinéfila? Quer dizer, a Cinemateca do MAM ficou lá de bobeira, eles nem se interessaram por essa parte, o que eu acho triste. Eles ampliaram, ampliaram, ampliaram, e a parte que se perdeu era uma parte que era respeitada, os jornais tinham o maior carinho, as pessoas que iam, era muito bacana, sempre passavam uns filmes que não passavam há milênios. Eduardo Valente Agora, eu acho que isso na verdade levanta é uma outra discussão, que a discussão que o Ruy escreveu, que não é só a questão de eles não terem feito o Tesouros da Cinemateca. No que se torna o Festival do Rio como um evento? E mesmo a parte dos retrospectados, de anos anteriores para esse ano, teve uma atenção completamente diferente. Por mais que tenha tido três, quatro mostras de cineastas que poderiam ser interessantes, só o fato de eles ficarem no Museu da República, sendo mal projetados, e fora do eixo... Ruy Virou uma ilhota da cinefilia dentro de um mar de novidades, que eu acho que não condiz em nada com o espírito anterior das Mostras Rio. Porque mesmo que elas não tivessem salas privilegiadas, como é o caso do Botafogo 3, era exatamente dentro de onde estavam acontecendo as coisas e você podia fazer essa coisa que alguns podem detestar mas eu considero altamente saudável, que é você sair de um filme recente e colocar esse filme para dialogar com um filme do Satyajit Ray ou do Yasujiro Ozu, como eu pude fazer nas mostras passadas. Isso me foi completamente impedido nessa mostra. Daniel Que era na sala 3, sempre foi na sala 3 os filmes antigos. Ruy É, eu acho que nos últimos quatro, cinco anos, era ou no Botafogo 3 ou no Unibanco 3. Daniel Não é só há quatro ou cinco anos não, é desde o início da mostra. Na primeira ou na segunda mostra, teve uma mostra com o Bressane e o Sganzerla, só os filmes da Belair, que era na sala 3, foi quando eu vi A Mulher de Todos pela primeira vez. Isso há muito tempo, eles sempre tiveram essa coisa de botar na sala 3 o evento. Juliano Tosi Mas uma coisa que ficou patente nessa idéia de as retrospectivas terem ficado abandonadas foi que, pelo que eu pude ver por nós e por todo mundo que acompanhou o festival, em outros anos todo mundo via vários filmes antigos, acompanhava quase toda a mostra como um conjunto de filmes, e esse ano a gente não viu quase nada, ficou completamente abandonado esse projeto de filmes a serem vistos em conjunto. Daniel É que mudou o perfil do Estação geral. Você vê assim, por ano, na verdade antigamente passava muito mais filme antigo e agora você não tem mais mostras. Você tem essas mostras de consulado, sabe, que bancam um monte de cópia nova e passa numa série integral. Agora, uma coisa de tentar recuperar cópia velha, de sair catando, de espírito cinefílico, isso aí eles deixaram pro vídeo, eles deixaram para uma outra galera. Ruy É, mas eu acho que isso já tá fora do perfil, do momento do festival, isso já tá fora. O festival é uma coisa que se quer mais profissional, eu acho que a entrada da Petrobrás como principal patrocinadora deu um verniz de Iso 9002 que eu acho que a pesquisa por cópias velhas eles fecharam as portas completamente para isso. Daniel Mas eu tenho minhas dúvidas se interessa à BR criar essa imagem que foram eles que fizeram do Festival do Rio um festival de pré-estréias, que foi o que aconteceu durante um período, que todo mundo achava: Ah, nesse festival tudo vai estrear, é tudo para divulgar. Eu não sei se interessa para eles, eu acho na verdade que esse é um negócio da organização, de como o Estação foi se estruturando, eles deram um salto e se transformaram numa distribuidora. Então a coisa foi mudando naturalmente e economicamente, é um vão que eles deixaram e que num festival desse você sente uma certa artificialidade quanto não tem isso, você sente mesmo. Eu pelo menos senti isso, eu não sabia o que ia estrear ou não ia estrear, mas... Eu que não sou um cinéfilo que acompanha todas as revistas do mundo senti a falta de referência, eu tinha que confiar no que O Globo tava dizendo de bom, no que o JB dizia de bom e no que o Estação dizia de bom. Quer dizer, era uma coisa meio ilimitada. Eduardo O que eu acho complicado, especialmente se a gente compara com a Mostra de São Paulo, o problema principal é que a curadoria chamemos assim, não vamos chamar de seleção, que fica mais de acordo não tem um critério, eles não têm uma linha. Porque no Cakoff, seja dos filmes que vão estrear, dos filmes grandes, ou dos filmes mais bizarros, é uma coisa que na verdade não é muito saudável, mas por outro é extremamente saudável, de que é tão personalista aquilo dentro de que o Cakoff gosta e a mulher dele gosta, você sabe qual é a linha da mostra, então você tem uma idéia do que tá indo assistir. O Festival do Rio eu acho que, atualmente, nesse formato, é exatamente isso, tem uma overdose de informação e falta de informação, se unindo. É uma overdose a sua disposição mas é uma falta de informação, então as pessoas ficam completamente perdidas e a cena mais comum, que é o que mais me preocupa, era aquele Espaço Unibanco ou o Estação Botafogo lotados de gente entrando em filmes que elas nem sabiam porque elas estavam lá assistindo. Daniel Sempre acontece, mas tá cada vez pior... Ruy Eu acho que isso nos últimos dois anos foi extremamente recorrente. Em comparação com a Mostra de São Paulo, eu gosto do aspecto da mostra do Rio dela ser um painel e você lá dentro vai tentar desenvolver o seu tipo de cinefilia. Agora, o que acho que é um problema de informação, os jornais informaram mal, você não tinha muito a quem recorrer, porque simplesmente o festival ficou grande demais para quinze dias. Já é um novo festival esse, a partir do ano passado já agregaram o Rio Cine que era um festival de meio de ano, que pegava as férias e que tinha um número reduzido de filmes, com muitas palestras e mesas-redondas com a mostra de setembro, do Estação, que era em parte pré-estréia daquilo que o Estação ia apresentar ao longo do ano, em parte os filmes que mais interessam aos cinéfilos, que são os filmes que só vão estar no Brasil naquele período de tempo, que se você viu, viu, não viu, babau. Agora, hoje a mostra parece que tá tão inflacionada de coisa, que quinze dias não são mais suficientes para você esboçar tudo isso. Eduardo O que eu acho complicado é que você acaba desperdiçando coisas. Por exemplo: eu acho uma grande besteira você trazer o Gillo Pontecorvo, John Waters ou Terence Davies ou seja quem for pro cara ficar indo nas salas e falar dois minutos e apresentar os filmes dele, entendeu? Daniel O Peter Greenaway chegou a dar uma palestra. Eduardo Exatamente. Eu acho que você tem que aproveitar as pessoas aqui para alguma coisa. Independente dos nomes, se a gente gosta ou não, se você traz os caras até aqui isso tem que ter uma outra função. Porque os caras vêm aqui para apresentação do filme, para aparecer no microfone e dizer "espero que vocês gostem, obrigado". Juliano É, isso também tá muito concentrado só no Festival, porque o Estação costumava fazer várias mostras durante o ano, tinha retrospectivas de diretores, que foram diminuindo aos poucos, mas até dois ou três anos atrás você sempre tinha algumas mostras importantes a cada ano. Agora, você pega o ano 2000, não teve nenhuma mostra de relevo. Daniel É isso que eu queria dizer: acabaram as mostras no Estação. Ruy Salvando eles um pouquinho, teve a alta do dólar, que acabou de uma forma muito forte. Parece que eles ainda têm os direitos do Éric Rohmer e do Godard, vinte filmes de cada um, é uma parceria de tv a cabo, do Estação, que bancaria cópias novas dos filmes... Juliano Tinha patrocínio... Ruy Pois é, tinha patrocínio mas é complicado. Juliano O problema talvez seja o seguinte: o Estação cresceu muito nos últimos anos, cresceu muito mais do que aquele público que ele tinha antes agüentaria, aquele público de não sei quantas pessoas fiéis, que iam sempre ao Estação, quando a mostra tinha quatro vezes menos público do que teve esse ano. E eu acho que tá tendo uma dificuldade de equacionar esse problema: tem aquele público que quer ver os filmes mais raros e tem esse público crescente que não vai ver filme do Sganzerla, da Belair, ou do Satyajit Ray. Felipe Bragança Que só vai esse tipo de filme se estiver dentro de uma massa de um festival... Juliano É óbvio que eles iam querer crescer, é ótimo eles crescerem, mas eu acho que se chegou num dilema que não se sabe exatamente como crescer... Eduardo O que eu acho bizarro nessa mostra é que isso tudo eu até conseguiria entender, e eu até conseguiria entender um festival inteiro de pré-estréias, por interesse puramente comercial, o cara vai lá e faz, maravilha. O que eu não consigo entender nesse festival é qual é o fetiche, entendeu?, dos 400 filmes e não sei o quê, dos quais 25 a 30 efetivamente atraem o público para ver aqueles filmes específicos o público tá em casa, pega o jornal e diz: eu vou sair para ver esse filme. E aí você tem cento e oitenta filmes, sei lá, que estão ali passando, e as pessoas vão ver Alta Fidelidade, que esgotou na sala 1, e acabam vendo Tuvalu na sala 2, porque já saiu de casa. Felipe É uma forma de viabilizar isso, me parece basicamente uma forma de viabilizar. Tem uma quantidade de filmes enorme, você junta eles num festival com slogan, com a parafernália toda, e você coloca nos cinemas. Eduardo É o fetiche do número mesmo, para impressionar todo mundo, desde o patrocinador até... Ruy Mesmo porque dentro desses 400 tinha 100 curtas-metragens, mais vídeo... Juliano Mas tem uma coisa que tem que se lembrar é que, o Marcelo Mendes principalmente, ele falou isso várias vezes, em todas as entrevistas o pessoal falava: pô, mas tem muito filme e tal, não dá pra ver tudo, e ele dizia: eu sei que tem muito filme, mas a nossa idéia é a de cada um selecionar o que quer ver. Eduardo Mas tem filme ali que ninguém ia se interessar, nem a pessoa mais bem informada do mundo sabe que filme é aquele. Juliano Sim, mas tem filmes que as pessoas podem até saber, como é o caso de No Quarto de Vanda, que é um filme badaladíssimo lá fora, que merecia toda a atenção da imprensa... Daniel Badaladíssimo, não, badaladíssimo em alguns lugares... Juliano Pode ser, não tô dizendo que saiu matéria na capa dos jornais... Ruy Mas em todo o terreno do cinema de autor, é um filme que merece, e eu não vi, à exceção da gente aqui, eu não vi as pessoas que se interessam em discutir linguagem cinematográfica, para onde vai o futuro do cinema, eu não vi essas pessoas lá. Foi a única exibição que houve desse filme no Brasil. Realmente, sob esse aspecto eu acho que as pessoas... Eduardo ... Sob esse aspecto a Contracampo tem orgulho de dizer que um terço das platéia era dela. Juliano A gente pode até descontar que o filme não chegou a tempo, que só foi exibido na repescagem, tudo bem, mas é ridículo o filme ter, sei lá, vinte ou trinta pessoas na sessão. Eduardo Eu acho que a relação toda ficou muito bizarra, digamos assim, do público com os filmes, da mídia, da cobertura com os filmes, e do próprio festival com os filmes. Ficou tudo muito estranho para mim. Juliano Uma coisa que ficou clara é que esse tipo de atuação e de cinefilia aqui no Rio não se sustenta mais do que dez dias por ano. Nos primeiros dias do festival tinha muita gente, chegava a ser meio absurdo, e na segunda semana, não tinha ninguém. Eduardo É a discussão que eu volto a levantar, a teoria dela tá aí há muito tempo, mas eu gostei quando a Suzana Schild falou lá no primeiro dia de repescagem, que ficou claro que as pessoas gostam de festival, não é de ver filme. Porque na repescagem não tinha ninguém para ver nenhum filme. Aliás, para não ser mentiroso: Cradle Will Rock, no sábado, tava bem cheio, e o Horror na Praia Psicodélica também. Mas todos os outros que eu vi estavam às moscas. Juliano E nessa área que a gente tá falando, nunca ficou tão claro também que a sala em que o filme vai passar vai direcionar o público que vai ver e o número de pessoas que vão ver o filme. Ficou claro, por exemplo, quando no mesmo horário tava passando Chunhyang no Espaço Unibanco 2, lotado, e Charisma, no Botafogo 2, que tem 5 vezes menos cadeiras, e não enchia. Ruy É, e o tratamento dos dois filmes era igual, os dois filmes tavam passando sem legenda... Eduardo No caso do Chunhyang sem legenda mesmo! Ruy Nenhum deles tinha tido nota no jornal, e a única coisa que diferenciava era o fato de que um tava sendo exibido Unibanco 2 e o outro no Botafogo 2. Daniel É por causa da localização mesmo. Ruy É porque no festival o bafafá é no Unibanco, é inevitável. Eduardo Agora, o que eu acho legal também é a gente discutir o que tem de positivo na história. Eu acho que tem alguns pontos positivos que a gente tem que discutir. Uma das coisas que eu mais gosto no Festival do Rio, em relação à Mostra de SP, é essa coisa das mostras temáticas. Porque eu gosto da idéia de curadoria, e curadoria não passa só por você escolher filmes, passa por você fechar eles num conceito. Então eu acho que nesse ponto o festival foi bastante interessante, até porque, se no mundo inteiro está se discutindo cinema digital e cinema da China, ele pegou esse dois motes para fazer uma mostra de cada um. Juliano Com certeza tem que ter esse tipo de divisão por seções de filmes, mas ainda assim ela foi meio falha. Se você pega a mostra de filme digitais... Ruy Diversos filmes digitais tavam no Panorama. Juliano Assim É a Vida não tava programado na mostra Via Digital, No Quarto de Vanda também não... Eduardo Tem falhas, mas é um caminho legal deles. Juliano Mas o que eu questiono é que, além dessa seleção de filmes digitais, não teve nada além disso sobre o tema. Eu não acompanhei muito bem o que teve no Copacabana Palace, a parte das palestras, mas pro público não saiu matéria nenhuma nos jornais sobre o cinema digital, o que o meio pode trazer de novo ou não... E também o filme do Ripstein e o do Pedro Costa eram fundamentais desse ponto de vista. Eduardo A questão é se essa curadoria dessas mostras é para um fim puramente de mídia ou se é de discussão. Ë claro que é de mídia. Felipe A questão é criar eventos, você cria um grande evento e dentro desse evento você tem que orientar as pessoas fazendo pequenos eventos. A questão do digital, ela pouco está importando, o negócio é criar um evento: a gente está indo ver a mostra digital. Ruy Acaba criando factóides dentro do cinema, muito mais do que uma coisa consistente, uma discussão consistente. Eduardo É aquela posição que você tava falando, que é a posição tanto da escolha dos filmes que você vai ver como essa daí. Tudo fica por conta do público, você supõe: a gente faz a mostra, a reflexão fica por conta do público. Então na verdade o festival se exime de fazer várias coisas que ele poderia fazer, e diz que deixa na mão do público. E que é na verdade um factóide, também isso, que é óbvio que o público como um todo não vai parar, entendeu?, e ficar refletindo. João Mors Cabral Quando se tem um festival com 400 filmes não é para ter reflexão, nunca foi. A não ser que fosse um festival com 100 e poucos filmes, o Festival do Rio foge completamente a isso. Juliano Mas tem o seguinte: passar os filmes simplesmente por passar, eu não sei se vale a pena. A gente vai só exibir os filmes... Daniel Não, peraí, o interesse deles é comercial... É normal. Juliano Mas eles têm que pelo menos estimular algo mais, uma troca de idéias. Daniel A gente pode até dizer que não concorda que o interesse seja meramente comercial, mas sendo interesse comercial... Juliano A questão não é nem essa, é a seguinte: ver o resto do ano, quais são os filmes que podem fazer sucesso, o que vai passar depois...mas tem que ter um mínimo de estímulo ao debate, às pessoas discutirem os filmes, ao se saber o porquê vai ter uma mostra de cinema digital e tudo. Não teve, e não dá pra dizer que o interesse é meramente comercial, senão o Estação nem teria sido inaugurado há 15 anos. E na época não tinha muito público pra esse tipo de filmes, como eu acho que hoje não tem muito interesse do público na discussão, mas é algo a ser estimulado. Daniel Eu acho, Juliano, que essa coisa do debate parte muito das pessoas, o partir o debate. Eu não entendo porque eles não estimulam um debate com os cineastas, não entendo porque não estimulam a coisa dos Tesouros da Cinemateca, eu não entendo porque não tentam setorizar e explicar determinadas coisas, a produção de determinados países, não entendo porque não dão uma panorama melhor. Agora, a discussão da sociedade, a discussão do público, isso é um negócio que surge naturalmente. Felipe Nunca que a promoção de um debate vai abarcar toda a questão, agora, se você promover um debate, a partir daí... Daniel Tinha que promover debate com os cineastas mesmo, isso que é bizarro. Os cineastas brasileiros estão aí, podiam promover um debate com o Gerbase, com a Tetê Moraes, com a Laís Bodanzky. Eduardo Para não dizer que não teve, as sessões na de Casa de Rui Barbosa eram seguidas de debates. Ruy Mas é mais uma ilha de conteúdo no meio de um oceano. Eu não vejo com maus olhos a mudança do cinema de arte de um circuito que era freqüentado apenas por iniciados para transformação numa indústria de entretenimento como outra. Juliano Até porque essa posição nossa não é para ser elitista, no sentido de que havia uma mostra, digamos, "nossa", que tinha um público muito menor, e agora tem quase 150 mil. A idéia não é essa, a gente acha ótimo que o festival cresça, só que um dos problemas desse crescimento é que se perdeu qualquer perfil do evento. João Por que uma mostra só? Eu acho que essa é uma questão de público mesmo. Se a questão é fazer uma mostra de filme digital, então faz uma mostra de filme digital. Não, eles preferem juntar tudo porque o público não pode ser segmentado. Ruy Mas aí é outra coisa... Daniel Eu só não entendo por quê essa promoção tão preocupada com o comercial, quando se bobear comercialmente seria muito mais interessante dividir a coisa, e seria muito mais fácil de organizar. Por que botar tudo junto em outubro, impossibilitando as pessoas de verem e discutirem o filme. Ruy Em alguma vez houve um momento em que todos os suplementos culturais em setembro passavam a dar muito mais que 100% a mais coisas sobre o cinema porque ia ter uma mostra no Rio. Eu acho que nos últimos dois anos, se a mostra cresceu em filmes, ela não cresceu nessas matérias que os jornais davam. Isso foi forte. A imprensa do Estação queria sempre dar as coisas pro Globo, e no ano passado sobretudo virou muito pior isso, porque O Globo deu pouquíssimas capas, capas de Segundo Caderno, do suplemento. Nesse sentido, a interface com a imprensa, o festival não tá conseguindo crescer, as matérias que eles conseguem colocar não dão conta... Eduardo Até porque, para um jornal, de 180 filmes para 400 dá no mesmo... Ruy Não é grande coisa, ele tem que crescer, porque ele tenta ser sempre maior para poder dizer "nunca foi maior do que antes", só que eu acho que é um crescimento que acaba sendo, em vez de um crescimento qualitativo, que eu acho que seria muito mais interessante, eles estão querendo fazer é mais número. Mas acaba também tendo filmes que poderiam ser eclipsados e hoje em dia eles estão passando aqui. Isso já justifica o fato de aumentar em três vezes o número de filmes de dois anos atrás. Eu concordo com o João, a coisa tem que ser feita com mais racionalidade. É só você ver, o botequim que existia no Estação antes do Estação Botafogo ser uma coisa cult pro bistrô, eu acho que só o nome de botequim para bistrô já dá conta. Mas eu acho que é uma coisa que o Estação teve que criar, porque passou a ser entretenimento cult, cinema passou a deixar de ser uma coisa de intelectual para ser entretenimento cult. Daniel Mas quantas vezes você comeu a pizza do botequim do Estação? Ainda bem que mudou, aquela pizza lá... Meu amigo, tem uma idade que você não agüenta mais. Eduardo Uma coisa que o Ruy falou e que não pode ser negada é o seguinte: é um crescimento desordenado e blá-blá-blá, por isso é legal a gente levantar as discussões, mas tem um lado muito positivo no crescimento, que eles por atacado eles acabam acertando. Que tem filmes que eles realmente só começaram a trazer depois que começou a ter 400 filmes, e que a gente só teve acesso a filmes que a gente não tinha antes, mesmo na Mostra Banco Nacional. Porque a Mostra Banco Nacional era mais centrada e tal, tudo bem, legal, mas ela centrava num tipo de produção muito específico, eles começaram dar uns chutes nos últimos dois anos, que começaram a chegar uns filmes completamente bizarros ao próprio caráter da mostra, o que é muito legal. A gente teve acesso a coisas... No Quarto de Vanda certamente jamais viria na Mostra Banco Nacional, por exemplo. Então tem que ser visto que é um caminho complicado de você aparar as arestas, tem muita coisa errada mas por atacado acaba dando algumas coisas certas, por conta dessa zona, da confusão. Agora, vale a pena?, eu me questiono, vale a pena? A gente tem a tradição, já trabalhou, já viu a organização de um festival antes, eu sei que você organizar um negócio e trazer um filme para vinte pessoas verem, pô, funcionou? Funcionou para nós aqui que vimos, legal para gente. Agora, cumpriu alguma função isso? Daniel Não seria melhor então reservar, até para dar um respaldo mesmo, os filmes antigos, as retrospectivas, para outras épocas? A mostra do Saraceni não vai ficar perdida no Museu da República, vai ter um período do ano que é para ela, que é para ter uma divulgação própria, que é para ela não ficar perdida num mar de 400 filmes novos. Eduardo Eu acho legal ter uma retrospectiva durante o festival, até mais do que uma, mas por que quatro, por exemplo? Aquelas coisas foram pintando, apareceram, tavam na mão, aí você bota, entendeu? O John Waters conseguiu o espaço dele mais ou menos, o Ken Loach mal ou bem, agora, o Saraceni e o Pontecorvo, entendeu?, ficaram sumidos, escondidos. Aí vai a pergunta. Ah, teve a mostra dos caras. Mas teve mesmo? Tem a mostra quando a mostra passa ou quando as pessoas vão ver e fazem dela alguma coisa. Será que teve mesmo a mostra do Saraceni? Eu não sei. Quando o filme passou no Cine Art UFF para 15 pessoas, 20 por média de cada dia. Felipe Se você fizer uma mostra com 60 filmes você na verdade vai estar passando muito mais filmes do que com 400, você vai estar levando muito mais gente para ver esses filmes, eles vão estar discutindo depois, de alguma forma. Com 400, na verdade você tá passando menos filmes. Você vê, os filmes ficam soltos, perdidos. Eduardo Agora, eu acho que é uma discussão importante no meio disso tudo é isso que a gente tá falando: tudo tem a ver com a relação com o cinema. O caminho que o circuito Estação trilhou nesses 15 anos, sei lá, 15 ou algo mais, é muito peculiar do que aconteceu com o cinéfilo nesse caminho também,, do público que ia procurar esses filmes. Então hoje em dia a gente sabe disso, a gente viu na mostra do Truffaut, a gente viu na mostra do Louis Malle, a gente seguidamente vê isso, que as pessoas que vão ver os filmes hoje em dia, elas estão muito mais em busca do evento. Então, na verdade, a gente talvez esteja fazendo uma discussão que a gente tem quem fazer, tem que levantar, mas que de repente a gente tá atendendo o interesse de muito poucos. Essa voz de repente não vai por uma pessoa que... Para eles o que interessa basicamente é o seguinte: antes tinha 45 mil pessoas e esse ano a mostra teve 135 mil pessoas de público. Na verdade, eles arranjaram um formato que agrada no seguinte sentido: consegue atrair em números absolutos mais gente do que nos outros métodos. O que eles conseguiram ver foi a mudança de perfil do público deles, que é um círculo vicioso, não é só botar de um lado ou de outro. Assim como ao mudarem o perfil das coisas eles mudam o público, porque o público tava mudando eles tem que mudar algumas coisas também. E o público hoje em dia não é um público cinéfilo, entendeu? A Cinemateca do MAM já ficou lotada antes várias vezes, e isso já não acontece há alguns anos. Daniel Isso é mais ou menos... Esse negócio da cinefilia, as pessoas aparecem nada. Eduardo A gente tá com um exemplo aqui: o Walter Lima passando agora. Todas as sessões lotadas são da Lira do Delírio, e todas as matérias que saíram nos jornais foram sobre A Lira do Delírio. Por acaso? Ou ironia? Todas as outras sessões estão vazias. Ruy Nos últimos cinco anos, todas as retrospectivas do MAM que deram capa no JB lotaram alguma vez a cinemateca. Juliano É o caso recente do Buñuel, eu imaginava que não ia ter muita gente, mas lotou todos os dias, lotou mesmo, com os filmes na versão original. Daniel A propaganda é a alma do negócio. Mas é óbvio que, tendo a divulgação, tendo a evidência para as pessoas ficarem sabendo. Eu já vi o Macbeth do Orson Welles lotando o MAM, sem legendas. Tava há muito tempo sem passar no Rio... Eduardo O que eu quero saber é se lota por causa disso ou se lota porque tava no jornal. Daniel Não, porque tava no jornal, mas um filme sem legendas, em preto-e-branco, de 40 anos... Tava no jornal, mas meu amigo, não é todo mundo que só porque aparece no jornal vai se mexer. É porque apareceu no jornal as pessoas ficaram sabendo, teve um espaço de divulgação, não espaço de propaganda no caso, mas de divulgação mesmo. Eduardo Como é que eu fico sabendo dos filmes vão passar, eu não sou mágico? Tava no jornal, lá em extras, mostras. Daniel As pessoas as vezes não têm paciência de ficar cafucando. Eduardo Mas esse é o único espaço onde tem as coisas, em extras e mostras, é ir lá e procurar. João Realmente mudou a relação do público com o cinema, é uma outra coisa, as pessoas querem outra coisa quando vão ao cinema, elas não querem entender o que se passa com a arte no mundo, com a evolução de uma linguagem. Não, as pessoas querem ir ao cinema porque é legal ir ao cinema. Eduardo É legal e é importante ter assunto entre os amigos no bar daquela semana. Daniel Mas sempre foi assim. Eduardo Eu acho que não... Daniel Talvez durante dois ou três anos, dentro de uma determinada galera, foi diferente, mas... Eduardo Nos anos 60 e nos anos 70 tinha esse perfil muito forte, é óbvio, qualquer pessoas daquela época vai dizer isso, entendeu? Meu pai vai dizer isso. Eu sei que tem esse outro lado muito forte também, você tem que ver o Godard mesmo que você não saiba o que é, porque tá todo mundo falando do Godard. Maravilha, mas o que era legal era que isso trazia em torno alguma coisa. Tanto que anos nos 60 quando passavam os filme nos MAM, tinha um curso, tinha não sei o quê no MAM, e hoje em dia não, você limitou todo o resto e ficou só nesse fenômeno, que sempre existiu, mas que ficou só ele, só existe esse fenômeno. Que é o seguinte: você vê tal e tal filme se for para ter assunto no bar à noite. Ruy Aquilo que o Eduardo falou há pouco tempo atrás que o festival passou de 45 mil para 130 mil, mas o que realmente aconteceu?, o que são esses 130 mil pessoas além de fantasmas? O que realmente aconteceu no festival? Houve um acontecimento ou só teve uma afluência de gente num determinado espaço? Em determinadas salas exibiram umas imagens, mas é daí? O que restou? A gente tá aqui para discutir se restou alguma coisa, eu acho que as maiores discussões que o festival podia ter trazido não serviram, ninguém discutiu nada. Depois do cinema as pessoas falavam um pouquinho e tal. Mas a questão: o falso documentário é um problema? O cinema em vídeo é um problema? Eu acho que isso tudo é um problema, e nada foi explorado. Felipe E tem-se a ilusão de que isso está sendo levado em conta, que está sendo discutido, você cria uma mostra de cinema digital que parece que você tá tratando do assunto. * * * Eduardo Eu só acho que una coisa tem que ser discutida antes da gente partir para estética, que é o fenômeno, ou não, Première Brasil. O que significa você criar uma mostra que passa a ser competitiva num certo ano, com júri popular... Daniel Vem cá, vocês acham que esse é o lugar para gente ter essa discussão? Eduardo Eu acho que sim. Daniel Eu acho meio complicado, essa batata tá quente. Vocês querem meter a mão nela, vai queimar? Juliano Então diz o que você quer falar então, Daniel, já que você tá falando em batata quente. Daniel Os vencedores da mostra foram escolhidos pelo júri popular, e o júri popular foi quem foi no filme, quem foi no filme foi... Teve um monte de boatos ao longo do festival. Eu prefiro, não sei... Eu acho que eles sabem quais os problemas que deram e acho que eles vão consertar, se a gente ficar metendo a mão nesse ninho de vespa... Eduardo O meu ninho de vespa tem a ver com tudo menos com a votação. A votação é o menor ninho de vespa que eu me meto, a votação no prêmio, porque eu acho inclusive o seguinte: se você pensar em termos populares, ganharam os filmes que fazia uma tremenda lógica. Deu toda lógica ganhar os filmes que ganharam, eu não tenho a menor dúvida disso. Eu já vi sessão do Sonho de Rose e já vi sessão do Tainá com público normal e sei que a reação é a mesma de êxtase, gritos e palmas e etc. Eu vi a sessão do Sonho de Rose em São Paulo na qual o pessoal aplaudiu de pé... Daniel Como é que O Branco ganhou o prêmio? Eduardo O Branco ganhou porque o público gosta, eu vou fazer o quê? Me revolta mais do que todos os outros prêmios. Mas o que é importante é o seguinte: centralizando no cinema brasileiro, interessa, tem alguma utilidade de colocar 13 filmes, botar 13 filmes lá passando competindo contra os outros em busca de um prêmio de 100 e 200 mil reais, isso serve a alguém além dos tais filmes, ou não? Juliano Eu acho que sim, só o fato de eles estarem dando o prêmio em dinheiro para divulgação já é válido em si, porque a gente sabe que um dos diversos problemas do cinema brasileiro é a completa falta de grana para se divulgar... Ruy Só o fato de estar presente no festival, mesmo que seja uma pequena divulgação, já é alguma coisa. Eu não sei se realmente eles fazem da melhor forma a seleção, em que cinemas passar, onde exibir... Agora, eu vejo com bons olhos uma seção Première Brasil. Eduardo O legal antes de mais nada é que dá mais destaque aos filmes brasileiros dentro da mostra, porque antes eles ficavam um negócio meio que para convidados, escondido, então supostamente dá esse destaque. Agora, a minha pergunta tem a ver com os prêmios, especificamente. Tudo bem, vai dar 200 mil para um filme ser divulgado e 100 mil pro outro filme ser divulgado. No universo dos filmes brasileiros, você resolveu o problema?, "resolver", entre aspas, o problema de dois filmes, é algumas coisa? Ou seria mais interessante dar 50 mil para seis filmes? Ou o legal seria outra coisa?, não sei. Eu boto isso isso muito em questão. Juliano Eu acho que pode ser, premiar mais filmes... mas essa questão, como muitas outras do cinema brasileiro, que a gente já discutiu em outras ocasiões, é uma questão que ultrapassa em muito, seja um âmbito exclusivo do festival, seja um âmbito de lei de incentivo ou de um prêmio, apesar de tudo isso fazer parte do problema. É complicado, é uma coisa muito maior do que isso, com certeza não é se dando um prêmio de 100 mil que você vai garantir que o filme vai ter sucesso, que ele vai chegar ao seu público ou não. Eu vejo com muito bons olhos você colocar uma seleção de filmes para competirem pelo prêmio de divulgação. Agora, isso não quer dizer que não possa ser discutida a premiação pros próximos anos, essa idéias de dar a grana para um filme ou dois... Eduardo Tomara que o dinheiro esteja sendo dado pros filmes serem divulgados. Juliano Mas essa é uma outra questão. Eduardo Nem pretendo entrar nela, foi só um comentário. INTERRUPÇÃO: CHEGA O GARÇOM Ruy Bom, voltando: o que aconteceu no festival? É uma pergunta... Fora os filmes que cada um adora, que cada uma ama, o que aconteceu? Mesmo que o festival em termos de curadoria não tenha feito reflexão, façamo-la após a visão dos filmes. Uma coisa que sinceramente eu acho que aconteceu é a inclinação, pela primeira vez a gente pode ver num curto espaço de tempo um número de filmes em vídeo, filmes em digital, para saber a que tipo de coisa exatamente ele está servindo. A que tipo de proposta, a que tipo de estética. E tem uma coisa que me agrada muito e outra não. Uma coisa que em agrada muito é saber que todos estão fazendo uma virada documental, vários filmes que são declaradamente de ficção, ao serem filmados em digital, ao terem mais tempo de registro, ao poderem escolher melhor cada cena e ao poderem filmar oito horas para fazer um filme de uma hora e quarenta, eles estão se apegando mais às coisas cotidianas e às coisas documentais, eles estão podendo registrar o momento com mais serenidade, eles estão tendo mais liberdade de registrar o momento. E a outra coisa, que me incomoda, foi o tema mais incômodo do festival para mim, é confundir que uma câmera miúda serve para fingir, para voltar ao velho ideal da arte que eu acho que é completamente ultrapassado, que é considerar a câmera, que o olho do espectador deve ser um olho pela fechadura de um universo de segredos. Eu acho que vários filmes se comportam dessa maneira: Fuckland, por ser um filme que se quer clandestino; Baise-moi, para ser uma realidade velada, uma verdade da violência... pode dizer mais aí, diversos. Gente Famosa, Amor Virtu@l, são todos filmes que, falsos documentários ou não, eles pretendem fazer o espectador ter acesso a uma realidade privilegiada completamente cheia de segredos. Eu acho que o filme que tem mais a dizer sobre isso incrivelmente não passou na mostra, é o filme do Stanley Kubrick, que trata exatamente de fazer desacreditar que existe uma realidade tão secreta, secreta assim, de tentar levar a sobriedade a um cara que tá embriagado por uma miríade, por uma multidão de imagens completamente falsas. Eduardo O complicado do digital, eu continuo dizendo, é que o digital tem esse problema de que ele veio, ele assume desde o início, que ele tem uma qualidade de imagem diferente. E qualidade eu não tô discutindo bom ou ruim, a qualidade mesmo, intrínseca. Então, como a imagem não é igual à película, ele se assemelha mais à imagem da câmera ligada à televisão, ele coloca-se dentro da possibilidade de que ele tem que seguir uma certa linha de raciocínio estético. O que é uma balela, porque não é porque você pega uma câmera digital que você precisa ficar balançando a câmera o tempo inteiro. Então a questão é a seguinte: o digital se presta a muitas coisas mas... Agora, eu não vejo isso com maus olhos necessariamente não, eu só acho o seguinte: eu insisto muito nesse ponto porque eu acho importante, toda tecnologia nova quando apareceu no cinema foi muito mal usada assim que apareceu. Ruy O Nagra, tudo isso... Crônica de um Verão.. De certa forma o vídeo digital também. Eu acho que tem Os Idiotas, que é o grande trunfo desse esquema. Juliano Eu concordo com isso, mas a gente não pode reduzir a questão nos termos de técnica, porque a técnica, e a discussão junto, vai ser ultrapassada daqui a cinco anos. Vai que surge uma nova câmera... Eduardo Eu não acho que é técnica, enquanto a gente não chegou no ponto em que a gente vai chegar, eu acho que é a questão que passa pela percepção do espectador, mesmo que não seja de ordem técnica e que eu acho que escapa inclusive à discussões do tipo de você quantificar, porque é realmente uma coisa, eu defendo muito isso, é realmente uma coisa que ultrapassa isso. A imagem do 35 milímetros, a imagem da película, e a imagem do vídeo ainda são completamente diferentes. Isso não é um problema de captação, é um problema da percepção do espectador. O espectador se vê colocado diante do filme filmado em digital diferente do que ele se vê perante um filme filmado em película, ainda. Então, os cineastas que estão se arriscando num ou no outro ainda não conseguiram achar um específico. Eles estão tentando achar o específico nessa tal linguagem documental, na qual eles tentam colocar em todos os filmes, porque eles acham que se a imagem parece meio de tv e ela balança um pouco, te dá mobilidade, então tem que ir pro lado do documental, seja ele o falso documental ou um documental verdadeiro, mas sempre essa de se esconder. Daniel Essa lógica do específico, eu tenho um certo medo de se dizer: é preciso encontrar uma linguagem específica, porque dessa forma você acaba restringindo. Eduardo Sim, mas eu acho que estão fazendo isso naturalmente, eu acho que isso é normal num primeiro momento, o digital é muito novo no cinema, é normal no primeiro momento em que todas as pessoas.. Todo mundo, quando surge um formato de arte, ou uma especificação técnica que muda tudo: no primeiro momento que surgiu o som, que surgiu a cor. É normal que as pessoas fiquem pensando para quê que serve aquela nova coisa. Então eu acho que a gente ainda tá passando esse momento do digital, as pessoas já estão tentando ver o que aquilo pode trazer de novo para eles. E o que eu lamento é que todos estão vendo só um lado da questão. Todos não, mas 97% dos filmes estão apontando para um lado que é muito pouco criativo, que é pegar o negócio pelo que ele tem de mais básico, re-dogmatizar, sem entender de fato o que é o dogma, porque o Lars von Trier em Os Idiotas foi quem mais entendeu. Daniel Eu acho que não tem que se preocupar em "tem que ser diferente do que é cinema normal. Tem porra nenhuma. É a mesma lógica de "o cinema não pode ser teatro", vai enganar. Se for semelhante, é natural. Eduardo Que no fundo é o que eu acho, o problema desses caras é que estão todos querendo fazer alguma coisa de muito original, só que eles não perceberam que o que tá todo mundo querendo fazer como original não tem mais nada de original a essas alturas. Então todos os filmes são muito parecidos e muito chatos, nesse sentido. Porque chega um momento que você diz: pra que esse cara tá balançando a câmera pra todos os lados? Você não precisa balançar a câmera. No Quarto de Vanda, que não balança a câmera, a relação que ele estabelece com a realidade é muito mais complicada e muito mais interessante do que, sei á, Bastardos no Paraíso em São Paulo ou Fuckland aqui, que tem essa pretensão de relação com a realidade porque balança a câmera. Na verdade eu continuo achando que os dois filmes que melhor utilizaram o digital até hoje são Os Idiotas e sim, apesar de todos seus problemas, A Bruxa de Blair, porque lançou o filme no verão americano pro grande público de uma forma bizarra e conseguiu 150 milhões de dólares. Juliano Um dos caminhos mias promissores do digital, além de possibilitar filmes simples mas que não poderiam ser feitos de outra maneira, como Assim é a Vida, é a experimentação, mas não esse tipo de falsa experimentação de hoje. Eu pego o exemplo do pessoal dos anos 70 aqui no Brasil que fazia filmes em super 8, que era uma produção basicamente experimental, a gente pode falar do Ivan Cardoso e do Jairo Ferreira, que pegavam o super 8, um formato super barato de se fazer filmes, que não tinha as mesmas limitações de custo, de produção, de montagem, não tinha nenhum tipo de limitação material que arcasse muito na produção e na fatura do filme, e a partir daí eles extrapolavam na criação sem se preocupar muito com outras coisas. Eu fico pensando o que esse pessoal, que filmava muitas vezes sem som, o que eles fariam com uma câmera digital. E uma das grandes qualidades de No Quarto de Vanda é essa, é um filme completamente artesanal, o cara se fez de funcionário do seu filme, ele ia todo dia lá, no mesmo local filmar, não sei quantas horas por dia, o quanto ele quisesse, o que se podia ser feito com uma câmera digital. Esse é um baita avanço que o digital traz, mas que ainda é subaproveitado. Eduardo É isso que eu acho legal do digital, porque ele tem coisas que só ele pode fazer, mas as pessoas estão limitando isso a muitas poucas coisas. Isso que você tá falando do experimental é uma coisa muito séria, porque o que menos tem nos filmes digitais é experimentação. A gente vai a São Paulo e sabe que o filme mais experimental de todos possivelmente é o Branca de Neve, que não tem nada de digital. Juliano É uma falsa experimentação: o cara faz Gente Famosa pensando que tá fazendo um puta filme, que ninguém pensou naquilo antes, mas que na verdade já foi feito 500 vezes antes. Além de ser também um filme ideologicamente questionável, também de falsa oposição a um estado de coisas, e a relação entre tudo isso pode até ser feita. Daniel Na comparação entre O Armário e o Time Code, é lógico que O Armário, que é feito em 16 mm, é muito mais arriscado. Ruy Eu acho sintomático que o primeiro filme que é feito com 4 telas passando ao mesmo tempo seja feito para ilustrar a história mais estúpida de traição, e vai lá, o sujeito mata o outro, com um complexo de poder e sedução que poderia muito bem estar no Sidney Sheldon. Felipe Você tá preso só no quê você pode fazer, não no porquê você vai fazer isso. A questão é: eu posso fazer isso. Então, vejam o que nós podemos fazer. É o deslumbramento de uma possibilidade. Daniel É um fascínio com uma forma de contar: ah, eu posso contar de uma forma diferente. E daí? O que você tá contando? Eduardo No caso, não é só um fascínio, é um estudo muito bem feito de que ao fazer isso, ser o pioneiro, você vai conseguir marketing pro seu filme. O fascínio eu vejo em outros filmes mais honestos, o Time Code nem honesto é. Agora, um outro problema muito legal do digital e que eu acho que a gente tem que problematizar muito, porque tem um lado positivo e um lado negativo, e é fantástico isso, é que o digital veio com uma idéia que é a seguinte: todo mundo pode fazer um filme. A minha pergunta é: me interessa que todo mundo faça um filme? Ruy O que eu adoro nessa experiência, todo mundo tem comparado, eu vi o Barbet Schroeder numa entrevista... Daniel É importante salientar que agora, infelizmente, João Mors Cabral está se ausentando, enquanto a gente ouve um pouquinho de choro... Enquanto toca Odeon, do Ernesto Nazaré. Ruy Bom, eu vi numa entrevista na televisão o Barbet Schroeder falando que a experiência do digital no cinema é uma mudança tão radical quanto o cinema falado. Eu não sei se é a melhor analogia, eu acho que a melhor analogia é o Nagra, é a possibilidade de você sair do estúdio e ir pra rua. É uma experiência de laicização, de barateamento e novas possibilidades. Quando você fala em qualquer um, eu adoro no digital é o aquela posição do cara dizer: pô, mas isso eu posso fazer. Como o cara chegava e via o cinema da descontinuidade, o cinema que você não precisava tomar a luz, não precisava tomar todos os cuidados pra tomar a luz, como o cinema da nouvelle vague fazia, e chegava um cara mal informado pra falar, como na piada do Picasso, "Ah, isso eu faço". Eu adoro isso no digital, é uma bela experiência, que vai se esgotar logo, então as coisas boas você tem que fazer logo enquanto existe esse tipo. Os cinemas novos conseguiram fazer esse tipo de coisa, conseguiram criar esse tipo de estranhamento, fazer com que a arte não seja um sétimo céu mas seja aqui na Terra, só que, infelizmente, eu acho que foram poucos os filmes que conseguiram aproveitar esse tipo de prática e levar ela a cabo. Eduardo Eu me preocupo também se a gente não tem mais nenhuma questão, porque senão a gente vai esgotar a nossa futura pauta de cinema digital em meia hora aqui. Juliano Passando pra outro assunto então... Eduardo ... Passando pra outro assunto, na verdade eu tenho uma experiência muito particular com o festival, eu vi poucos filmes do Oriente, então não queria falar muito sobre isso... Daniel O cinema latino tava presente, tinha bastante filme espanhol, argentino, cubano, tinha o francês do Karim Dridri que era sobre Cuba. Quer dizer, de alguma forma a questão latina esteve presente, o que eu acho que não foi nem uma intenção, mas houve a questão. Ruy Teve a Première Latina, mas não aconteceu, não existiu como acontecimento. Eduardo O que me chamou a atenção foi o seguinte: seja por que motivo for, e há vários motivos pra gente discutir isso, me chamou muito a atenção, e aí na verdade eu tô misturando as duas mostras numa só, o que me chamou muito a atenção na produção mundial de hoje em dia é basicamente é o cinema de Portugal. Seja no filme do Manoel de Oliveira, seja No Quarto de Vanda, seja no João César Monteiro, seja em que filme for, o cinema português atualmente é um dos que mais experimentam independente de suporte, independente de idéia, independente de escola. E não limitaria neles não: tinha o Tráfico há dois anos atrás, tinha o Mal do Alberto Seixas que é um filme muito interessante, e pro número de filmes que Portugal faz atualmente, eles fazem muito mais filmes relevantes pra alguma coisa... Daniel Essa também é uma questão da marginalidade que Portugal é para a Europa. Quer dizer, tá entrando muita grana lá, tá ficando mais fácil de se fazer filmes, mas eles continuam sendo marginais dentro da Europa. Juliano A tendência atual, que a gente já vê há alguns anos é o seguinte: são as cinematografias marginais as que mais inovaram nos últimos tempos. Você pega o cinema do Irã, Taiwan, Hong-Kong, Portugal... são as cinematografias que deram espaço para a inovação, pra boa inovação, o que fica claro quando a gente comparar, o que é perfeitamente possível, até pelo tema, o Close Up do Kiarostami e o Gente Famosa. Eduardo Agora, aí a gente questiona a cinematografia brasileira, que é marginal mas não se comporta como tal. Ruy O problema é sobretudo que nos últimos anos no cinema brasileiro quem decidia sobre o cinema eram aos assessores de marketing das grandes empresas. Eduardo Ainda é. E vendo A Lira do Delírio você vê que o cinema brasileiro já teve uma época em que ele se permitia que os planos falhassem e fossem pra tela assim mesmo. E eu tento procurar hoje em dia esses focos, que não é nem só o foco de experimentar não, é o foco de querer dizer alguma coisa de diferente, entendeu?, não ficar repetindo as mesmas coisas. E a linguagem tem que vir a reboque disso, o principal é querer falar alguma coisa, ter uma voz. Juliano Mas o problema eu não sei nem se é falta de mão-de-obra, de gente que possa fazer esses filmes, mas a questão é antes de sistema de produção mesmo, de lei de incentivo que tem que ser repensada. Esse sistema atual já se esgotou, tá claro que ele se esgotou há pelo menos dois anos e que nesse esquema o cinema brasileiro não vai crescer mais do que isso. Mas o pior de tudo não é nem isso, o pior é que esse é um sistema de alheamento, que exclui muita gente boa. É ridículo um cara como o Mojica não filmar há não sei quantos anos. É patético o Zé do Caixão, que é um cara foda, não fazer um filme há não sei quantos anos. Ruy Ele tá com um projeto em digital, produzido pelo André Barcinscki. Juliano Pode ser, finalmente. Mas há quantos anos ele não faz um filme pessoal? E se você der 500 mil na mão dele, 10% do que o Sérgio Rezende gasta, ele vai fazer um filmaço. A gente pode falar dele, do Candeias, do Sganzerla, que têm dificuldade de filmar... Eduardo Nesse ponto é que eu acho legal uma retrospectiva específicas pra essas coisas, que foi a retrospectiva do John Waters, que pra mim foi uma surpresa, eu não tinha visto os filmes anteriores, os filmes iniciais dele, e eu fiquei genuinamente surpreso com a despreocupação com toda e qualquer qualidade. E assim honesta, não era uma desqualificação procurando uma notoriedade como despreocupado. Não, era uma vontade pura e simples de fazer filmes, que lembra muito o Mojica em alguns pontos, em razão da temática. O trabalho do John Waters nesse festival, que tava exibindo as coisas se estava exibindo, ter uma retrospectiva do John Waters foi muito mal aproveitado dentro de tudo que para mim significou ver aqueles filmes dele. Daniel O que significou alguém e chegar e dizer assim... tem que ser um americano para falar na capa do Segundo Caderno do Globo que é muito fácil pra Hollywood fazer um filme que é uma merda só que vai se pagar de qualquer maneira. Que ele adoraria viver nesse sistema. Quer dizer, precisou ser um americano, porque se chega um brasileiro, um francês ou inglês, vão dizer: ah, que recalcado! Eduardo E dentro disso que a gente tava discutindo, de mal aproveitar as pessoas, eu acho que essa entrevista do Globo, ou os filmes em si, ou mesmo Cecil B. Demented, cara, a passagem do John Waters pelo Brasil foi uma das coisas mais mal aproveitadas da história. Porque o cara não é, ao contrário do que tentam pintar, não é um bobalhão que fica fazendo uns filmes engraçadinho pras pessoas acharem estranho. É um cara que tem toda uma carreira e , acima de tudo, tem raciocínio dentro da carreira dele muito forte. O cara tem uma posição política quanto ao cinema, tanto que ele já foi contratado de estúdio e voltou a sair do sistema, e o filme dele, o Cecil B.Demented, eu confesso que eu vi 20 minutos porque eu tinha um compromisso, e o filme é o tempo inteiro irascível no que ele tá dizendo, vai direto no ponto e não sai dali. Eu acho esse um exemplo de mau aproveitamento do trazer o cara até aqui e ficar fazendo festa com ela, mostrando com o papa do trash ou não sei o quê. Daniel É aquele fascínio pela cultura B americana e na verdade tá cagando pro que o cara tá dizendo de fato. É apenas o fato de o cara ser um sub-americano, um super cult, que faz umas coisas ultracafonas. Eduardo Um filme com o Pink Flamingos, o Female Trouble, eu fiquei impressionado com o quanto o cara vai fundo na posição dele de que o feio é o bonito. Eu acho isso muito foda. Ruy Tem lados do cinema de autor mais autêntico, o Fassbinder numa época fez muito cinema assim. Juliano Eu não sei, eu nem sou muito fã do cara, mas eu achei um puta colonialismo nessa mostra do John Waters todo mundo ficar babando pro cara, quando a gente poderia perfeitamente ter feito uma outra mostra, de chanchadas, por exemplo, que têm muito a ver com o que ele faz. O Cecil B. Demented, pô, o Burle e Carlos Manga, e não só eles, fizeram isso 50 anos antes, e melhor. Daniel O Carlos Manga é uma figura extremamente complexa, você vê a posição que ele tá assumindo hoje na Globo, é muito discutível.. Juliano Pode ser, mas eu tô falando de outro tempo... Daniel Ele tem coisas geniais, acho mesmo, maravilhosas, mas eu acho complicado o cara ter assumido essa questão do cinema comercial e, hoje, da novela, e ter abandonado completamente o cinema Julaino Ele sempre foi comercial, o que ele teve de contra-corrente na carreira dele foi até meio ingênuo, mas os filmes dele são do cacete. Você pega Nem Sansão nem Dalila, pelo que eu li do Cecil B. Demented, eu não tenho dúvida em dizer que o Nem Sansão nem Dalila é dez vezes melhor. Como eu também acho que qualquer filme do chamado cinema marginal é dez vezes melhor que o Pink Flamingos. Eduardo Eu só acho que há uma diferença entre a sátira, a posição política, a paródia ou seja o que for, e o elogio ao undergorund. Os filmes do John Waters foram feitos para serem vistos por um número "x" de pessoas como um modelo contrário ao modelo hegemônico mo próprio país onde ele é feito. A chanchada era um movimento bastante diferente no seu fim, ela queria ser um modelo contrário e paródico ao que tava sendo feito, só que num outro país, e que dominava o mercado, mas buscando também a sua fatia do mercado, que ela encontrou. Maravilhoso, eu adoro chanchada, mas eu acho que são diferentes os fins a que se referiam cara um dos filmes, o John Waters e as chanchadas. Daniel Eu acho que faria mais sentido você comparar o John Waters com, sei lá, o Candeias, alguns filmes do Rogério Sganzerla de uma certa fase, acho mais próximo. Juliano É claro que são filmes diferentes, mas o que eu queria ressaltar é que, entre os filmes do John Waters e as chanchadas da Atlântida, e até o cinema marginal, há uma relação possível e até óbvia. E cá entre nós, nessa linha os filmes daqui são muito mais ricos e inteligentes. O Eduardo falou de fins diferentes, eu sei que em parte são sim, mas até por isso eu prefiro os filmes da Atlântida. Agora, ninguém falou nada sobre isso, ninguém comentou, em todas as entrevistas que eu li com ele, que a paródia do Cecil B. DeMille, ou a paródia do modelo hollywoodiano, já tinha sido feita aqui no Brasil há pelo menos 50 anos, ninguém tocou nesse assunto com ele, ninguém mostrou Nem Sansão nem Dalila ou Carnaval Atlântida pra ele, ninguém fez uma comparação, ninguém fez diálogo nenhum, que mesmo sendo parcial, é evidente. E aí eu questiono a relação que as pessoas tiveram com os filmes dele, foi tudo muito mais pra fazer gracinha. Ruy Mas os jornalistas não conhecem história do cinema, provavelmente eles nem sabem que existiu um Cecílio B. de Milho ou Nem Sansão nem Dalila. Juliano O que é uma pena, mas é por isso que falei em colonialismo, as pessoas acham lindo ele fazer um Cecil B. Demented mas não tão nem aí pro Cecílio B. de Milho. Daniel Já que a gente voltou ao cinema brasileiro: vocês sabem se por acaso se Alô, Alô Carnaval, O Padre e a Moça, Aviso aos Navegantes, se eles estão programados pra passar de novo? Ou foi só uma efeméride e um abraço? Juliano O Alô, Alô Carnaval com certeza não, porque o filme não foi restaurado. A sessão foi num sábado de manhã, não quase ninguém, 30 pessoas... Daniel Sábado de manhã, sem nenhuma divulgação, 30 pessoas eu acho que foi um excepcional público. Juliano Deixa eu só fazer o relato da sessão, que por sinal teve um depoimento de abertura belíssimo do Hernani Heffner. Tinha 30 pessoas no cinema, sendo que esse público não era o mesmo público do festival, era um pessoal mais velho e que foi ver aquele filme. Eduardo Na verdade, disseram que as sessões do Aviso aos Navegantes no Odeon e na praia forma muito boas. Juliano Mas Alô, Alô Carnaval não foi restaurado ainda... Daniel O problema Alô, Alô Carnaval é esse: passou-se uma cópia detonada pela última vez, pra não deixar mais passar. Juliano É a mesma cópia que é exibida há vários anos, que não tá tão ruim assim, já vi cópias bem piores, com certeza. Mas eles estão esperando há anos pra restaurar, assim como todo acervo da Cinédia, como não consegue... É até uma maneira de se chamar a tenção: o filme não vai passar de novo porque ano tem cópia me bom estado. Ruy É uma remontagem, não é a montagem original. Juliano Não, eles querem montar no formato original, a cópia de hoje que não é a original. O final, por exemplo, não é com a Carmen Miranda no original. Ruy O Adhemar remontou o filme. Daniel Mas, peraí, o diretor e produtor remontou o filme e não é original? Juliano Mas ele remontou em 72, ou por aí, e o filme tinha um formato, uma seqüência de números musicais, que ele remontou nos anos 70, inclusive para fechar com a Carmen Miranda, que em 70 era uma pessoa, em 36 outra, bem menos famosa. Então, o filme hoje tem a mesma metragem, mas a ordem de alguns números é diferente. O que eles querem fazer na restauração é voltar a esse formato inicial. Participaram Daniel Caetano, Eduardo Valente, Felipe Bragança, João Mors Cabral, Juliano Tosi, Marina Meliande e Ruy Gardnier |
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