Velozes e Furiosos,
de Rob Cohen


The fast and the furious, EUA, 2001

Este aqui talvez seja um dos mais impressionantes filmes saídos de Hollywood nos últimos anos. Não pela sua realização, necessariamente, mas pelo quanto ele consegue trazer em sua estrutura básica de significados do que aja de mais profundamente intrínseco ao imaginário americano no cinema, e portanto e por influência direta, do mundo. O filme foi um dos maiores sucessos surpresa de 2001, mas o fato de ter sido uma surpresa mostra o quanto os executivos de Hollywood estão ignorantes da realidade que os cerca. Afinal, o filme é quase a encenação perfeita dos sonhos de adolescentes do mundo todo, que formam boa parte do público de cinema hoje. Há mulheres lindíssimas em roupas apertadas, homens fortes e corajosos, carros ultrapossantes, música alta e hipnótica, batidas de carro, violência e tiros, e finalmente a quebra da lei como ritual de afirmação e prova de fogo para "pertencer ao grupo". Está tudo lá.

Mas é claro que isso está em filmes desde pelo menos os anos 50, de uma forma ou de outra. O que impressiona aqui é a atualidade do pacote, no que se refere ao formato. Porque o filme de Rob Cohen parece ser tão somente um videoclipe de duas horas de duração, a sublimação completa do conteúdo pela forma, a imersão na hipnose audiovisual em busca do espetáculo dos sentidos. Música alta, câmeras lentas e em movimento constante, corpos em contato e explosões. Como poderia não ser um sucesso? Em uma palavra igualmente moderna e universal: o filme é cool (e neste ponto até o casting é brilhante, porque seu ator principal parece ser a encarnação do cool, Vin Diesel).

Agora, aqueles com um pouquinho mais de bagagem não podem deixar de se impressionar com quão claro o filme desvenda duas obsessões americanas. Primeiro a do fora da lei por quem torcemos, ou seja, aquele homem tão determinado em seus objetivos, que precisamos mesmo abandonar as leis que nos regem para torcer para que ele possa terminar bem sucedido. Não importa o quanto ele possa cometer de crimes, porque é um homem com uma missão a cumprir para a qual compreendemos quaisquer meios e sacrifícios. A outra obsessão é a da mecânica, do metal dos carros, e sua relação com violência, morte, explosões, sexo. O filme de fato faria uma sessão dupla fascinante com Crash de David Cronenberg, onde tudo que alguns viram de "exagerado" e "surreal" neste último viria à tona como visionário e de extrema compreensão da realidade deste imaginário.

Velozes e Furiosos não pode ser descartado porque é um retrato honesto, pelo mais fantasioso, do que está aí hoje (e existe algo que explique mais o seu próprio tempo do que suas fantasias?). Virar as costas a ele é perder o bonde da história, por doloroso que possa ser tomá-lo.

Eduardo Valente