O Último Beijo,
de Gabriele Muccini

L'ultimo bacio, Itália, 2001


Um filme sobre as complicações dos relacionamentos amorosos. OK, mais um? O quanto será que se tem a dizer ainda sobre este tema? De fato, muito mais do que jamais será dito, tal a importância que a questão assume na vida de todos (ou, que seja, de quase todos). O que se deve ver são as formas, e a validade ou não destas, como este novo filme vai tentar dar conta de tema tão usado quanto infinito. Porque um filme que se centre na pergunta-tema "Afinal, é isso a felicidade?" nunca estará fora de seu tempo.

O filme de Muccini interessa por três opções, principalmente. A primeira, e possivelmente principal, é a da considerar o tema não apenas válido e sério, como acima de tudo urgente. Urgente não como algo a ser solucionado como questão social, mas sim como de suma importância na vida de seus personagens, algo que os toma por completo e que, portanto, nestas duas horas, deve nos tomar por completo também. Acreditar na proporção mítica que estes pequenos dramas assumem na vida de cada pessoa é um ponto positivo do filme. Muitas das questões levantadas por ele podem ser consideradas menores, ou frutos de alguma imaturidade dos personagens (termo dos mais confusos), mas não o são para seus personagens, e assim sendo, não devem ser também para um realizador que se coloque de igual para igual com eles.

O segundo ponto interessante do filme é a sua construção formal, onde o ritmo geralmente cadenciado das comédias românticas ou dos romances cômicos, é substituído por um trabalho de tempo (essencialmente na montagem e trilha sonora) extremamente rápido. É como se para cada um daqueles personagens valesse o ritmo do pensamento, das mudanças de opinião, dos sentimentos contraditórios e a mil por hora. O filme acompanha este movimento, o que cria um efeito bastante inesperado de ainda mais urgência, embora deva ser dito que este excesso constante de clímax também torna o filme um pouco cansativo na sua parte final, exaurindo o espectador.

Finalmente, existe a tentativa do filme-painel, ou melhor de um filme onde o drama central de seu protagonista encontra espelho e contraste na vida de vários outros que o cercam. Este expediente acaba sendo o menos bem resolvido do filme, uma vez que embora realmente sirva para dar perspectivas diferentes, sofre de um certo histrionismo simplificador nestes outros personagens e seus dramas, o que fica em oposição a um trabalho cuidadoso com o personagem principal. Isso fica claro especialmente no drama de uma geração mais velha (representado pela personagem de Stefania Sandrelli), com a qual o diretor tem claramente menos intimidade do que com os jovens da trama principal.

Mas, entre erros e acertos, o filme consegue uma identificação direta, especialmente pelo belíssimo trabalho do elenco (com destaque a Stefano Accorsi, o protagonista). E, acima de tudo, consegue dar relevância e estofo dramático ao tema extremamente contemporâneo de uma geração levada a viver as coisas com muita intensidade, muito cedo, o que tem levado a uma antecipação de certas crises antes ligadas à meia-idade. Muccini não abre mão de sua coerência (demonstrada tanto pelo final falsamente conciliatório quanto nos comportamentos muitas vezes antipáticos de seus protagonistas - algo que o diferencia da média da comédia romântica americana, por exemplo), nem de sua comunicabilidade, e realiza um filme que mede com sucesso a pulsação do seu tempo, o que é sempre bastante de se pedir de um filme.

Eduardo Valente