A Cartada Final,
de Frank Oz


The score, EUA, 2001

O que mais fascina em A Cartada Final é a verdadeira obsessão que escorre por entre as frestas, onde os americanos mostram toda seu encantamento com a figura do marginal-herói, ou seja, daquele que quebra a lei sem causar mal a ninguém de fato. Principalmente incorporada por Robert De Niro neste filme, esta é uma persona clássica na linhagem que este filme retoma, a dos filme que esmiuçam planos de ação criminosas, sejam elas fugas de cadeia, assaltos, seqüestros. Estes atos nunca são julgados como errados ou certos em si, mas apenas no jogo que os personagens estabelecem, o que representa um interessantíssimo deslocamento do tão importante eixo moral e puritano da sociedade americana. Ou talvez seja muito mais um complemento deste, porque estes são sempre personagens extremamente "profissionais" e "honrados". Seguem códigos de postura muito rígidos, que apenas não são os da sociedade. Prova disso é a "punição" sumária ao personagem de Edward Norton, que representa o oposto destes princípios.

Mas, talvez o mais fascinante mesmo seja a capacidade de se engendrar tramas mais e mais rocambolescas no que se refere à ação que os personagens devem executar. Estas ações são descritas em detalhes exagerados de planejamento, tecnologia, execução. Este é de fato o grande fetiche deste tipo de filme: o plano em si, e como ele se desenvolve. Trata-se, portanto, de um senhor jogo de roteiro, onde as regras são simples: quanto mais complicada a ação melhor, e quanto mais desafios, mais os personagens se superam. O espectador sabe de antemão que o jogo é este, e se entrega assim mesmo.

São características fascinantes se observadas hoje, porque continuam funcionando 100%, mesmo com toda a bagagem adquirida pelo espectador mais moderno. Claro que este filme em si acaba deixando passar chances de possui um algo mais que o eleve deste modelo por si só. Exemplos são os personagens de Marlon Brando e Angela Bassett, impressionantemente sub-utilizados. Da mesma forma, os dramas humanos que movem os personagens de De Niro e Norton são os mais óbvios. Mas, o que não se pode deixar que isso encubra é que o prazer obtido pelo espectador mesmo deste modelo de repetição de fórmula é enorme, porque a urdidura do que se apresenta continua exercendo fascínio pelo simples domínio narrativo, pela completa segurança de uma linguagem dominada, que é o que sempre sobressai no cinema dominante. Para que não se diga que não há nada de diferente neste filme, precisamos citar a elegância cool criada pela mistura da trilha em jazz com a fotografia que parece brincar de construir mosaicos constantes de luz e sombra, que tornam o filme um deleite audiovisual efetivamente fascinante.

E, culpadamente, nos deleitamos mais uma vez com mais do mesmo, com um tempero aparentemente sempre novo. Dominação é isso.

Eduardo Valente