O Diário da Princesa,
de Garry Marshall

The princess diaries, EUA, 2001


O cinéfilo é um bicho muito estranho, capaz de cometer uma sandice como sair de casa numa noite chuvosa para assistir um filme que tem a quase absoluta certeza que não irá gostar só por que o tal filme tem no elenco um ator ou atriz que ele muito admira. Confesso que pensei em retornar no meio do caminho, mas desisti quando lembrei que Julie Andrews, a atriz em questão, não fazia cinema há 10 anos. E lá fui eu ver O diário da princesa, sem haver prestado atenção sequer em quem era o diretor.

Começado o filme, créditos na tela, começou a pintar o arrependimento quando li que o diretor era Garry Marshall, um dos mais caretas seguidores de cartilha de Hollywood e que desde o grande sucesso de Uma linda mulher, em 1990, vem tentando infrutiferamente repetir a fórmula de atualização do mito de Cinderela. E neste seu último trabalho, pelo visto, nada seria diferente, pois trata-se da história de uma adolescente americana tímida e desajeitada, que descobre ser neta da rainha de um país europeu chamado Genóvia e sua única sucessora. Passados cerca de 10 minutos, a grande Julie finalmente entra em cena e sua presença parece fazer sumir meu arrependimento, mas pouco tempo depois, dá para perceber que ela não precisa fazer o maior esforço para interpretar a rainha.

Começo a prever come se dará o filme daí em diante, antecipando várias cenas já manjadas, como as de Julie ensinando boas maneiras à neta interpretada por Anne Hathaway (que é até gostosinha), curiosamente invertendo os papéis de My fair lady, onde Eliza Dooltttle (que ela havia interpretado no palco) é transformada em dama pelo Prof. Higgins. Igualmente previsíveis são a transformação do patinho feio em gatinha e a sucessão de gafes em um jantar formal.

Não paro de olhar para o relógio e vejo que já são 11 horas. A solução é cochilar pelos 40 minutos que restam, abrindo os olhos ao ouvir a voz de Julie Andrews, mas para meu desespero, ela aparece muito pouco na segunda metade da fita, que passa a focar as ansiedades e paixõezinhas adolescentes de Mia. E aumenta o tédio, quando lembro que John Hughes esgotou completamente o tema nos anos 80. O único momento interessante é quando a menina sofre uma armadilha dos colegas e da imprensa marrom, numa sequência descaradamente copiada de MASH (a barraca é derrubada quando ela está trocando de roupa, mas o filme é livre e ela estava enrolada na toalha).

Ao fim dos intermináveis 115 minutos de projeção, volto para casa, revendo seriamente meus planos de no dia seguinte ir ver Atrás das linhas inimigas só por que gosto muito do Gene Hackman. Fica a sensação de tempo perdido que só serviu para constatar que Julie Andrews levou para casa a grana mais fácil de sua vida e que a atriz Heather Matarazzo, a menina baranguinha Wiener Dog de Bem vindo à casa de bonecas, cresceu e virou uma barangaça.

Gilberto Silva Jr.