007 — O Mundo Não É o Bastante,
de Michael Apted


The World Is Not Enough, EUA, 1999

Sim, é ele, o agente James Bond. Ele é o bom, ele sempre consegue salvar o mundo da ameaça russa (mesmo quando não há mais comunistas), dos terroristas malvados e ainda consegue sempre papar umas mulheres muito gatas entre uma explosão e outra. Claro, não é só isso. Há também toda uma profusão de gadgets, de carrões e aviões, de modelos ultrassônicos e ultramodernos. E muita mentirada na tela. Com essa fórmula, toda a série 007 é mais considerada como um esquema de produção do que exatamente como um tipo de filme de diretor. Mais ainda que todas as séries, como Trapalhões, irmãos Marx, Sexta Feira 13, onde sempre é possível dar um retoque autoral, um comentário, etc. Em 007 — O Mundo Não É o Bastante, não é possível propriamente notar o trabalho da direção, a não ser em termos de eficácia. E, ao menos, essa deve ser reconhecida. Nunca Pierce Brosnan foi tão convincente na pele do agente Bond, as cenas de ação falam por si sós, por vezes parecendo que estamos num balé de máquinas, e são a melhor coisa que o cinema médio americano pode fazer. As piadas têm um timing e calhordice excelentes, e a melhor não é traduzida (a da cama, no final, com Denise Richards, uma Brooke Shields mais deliciosamente encorpada). Mas, como sempre em Hollywood, nem tudo são flores e a afetação dos personagens de Robert Carlyle e Sophie Marceau deixa muito a desejar, assim como os momentos de maquinação do plano maligno, que parecem filmados sem vontade, unicamente para fazer o nexo dos outros pontos do filme.

Outro ponto interessante do filme é a mudança geopolítica. Ora, 007 era o espião que lutava contra os russos. O que ele faz agora? Ele luta pela paz mundial e pela continuação dos fluxos de capital e de matéria-prima do regime capitalista, lutando não mais contra comunistas (mas ainda contra russos), mas contra anarquistas (o epíteto do ladrãozão é O Anarquista) e empresários com desejos de monopólio mundial. Só isso já faz a graça e cafajestagem explícita dos filmes novos de 007, saber quem é o inimigo do capitalismo hoje. 007 é o anti-Robin Hood que os EUA pediram a Deus. Mas ao menos ele tem charme. Britânico.

Ruy Gardnier