As Meninas Superpoderosas,
de Craig McCraken

The powerpuff girls, 2002


Durante muito tempo foram os estúdios Disney que dominaram a produção de longas-metragens de animação. Há alguns anos outros estúdios, como o Dreamworks e até mesmo a Fox, tentam acabar com esse monopólio, lançando meia dúzia de desenhos-animados que, na verdade, nunca conseguem fugir de um certo "padrão Disney de qualidade", ou melhor, que são criados sempre a partir do modelo Disney. Agora parece que a coisa pode mudar: o Cartoon Network, que também é canal de tevê a cabo, totalmente dedicado à exibição de desenhos, acaba de realizar a primeira animação desta safra recente a não dever nada a Disney. E quando se diz dever, não é no sentido que a qualidade atingida está à altura da do grande estúdio, mas no sentido mesmo de dívida: pois que As meninas superpoderosas aparenta ter sido realizado em um mundo onde não há nenhum tipo de dominação estética, nenhum paradigma do qual não se consegue escapar. Influenciado antes por elementos dos anos 50, como o estúdio UPA, e também pela animação japonesa, As meninas superpoderosas encanta pela simplicidade, ou ainda, pela sofisticação que advém dela. Pois, contando apenas com traços simples e grossos e cores chapadas, consegue imprimir uma velocidade impressionante, um ritmo na animação só comparável ao dos animes.

As três meninas do título, Florzinha, Lindinha e Docinho, cada uma brilhando em uma das cores do padrão RGB, já tinham suas aventuras exibidas faz algum tempo no Cartoon Network, e foi seu sucesso - As meninas... já foi indicado para o Emmy três vezes - que permitiu que se realizasse um longa a partir da série animada. O que se vê na tela, é bem verdade, não é nada espetacular - na verdade fica a sensação de se ter assistido a um dos episódios da série em versão aumentada - mas isso, antes de ser uma crítica ao filme, é um elogio à série, capaz de manter a qualidade em cada um de seus episódios.

Pois bem, nesse episódio de uma hora e um pouquinho, acompanhamos o nascimento das meninas e a maneira pela qual elas, em associação com o prefeito da cidade de Townsville, passam a ser as heroínas oficiais, prontas para socorrerem qualquer um em perigo. Obviamente que o tema não poderia ser outro senão o da aceitação: as meninas são primeiramente vistas como aberrações e precisam suar muito até que a população consiga enxergá-las como elas realmente são, passando assim a aceitá-las. Fica claro, por outro lado, que não são todos os "diferentes" que merecem esse respeito: o Macaco Louco, outro fruto de uma experiência do Professor Utônio, pai/cientista que criou as meninas, se ressente por não ter uma aceitação imediata e pretende destruir a cidade por isso; é, então, contra ele que as meninas lutam.

É esse o plot, simples para que as crianças o entendam, mas que em nenhum momento subestima a sua inteligência ou a de seus pais, responsáveis pela presença dos pequeninos nas sessões. E é sempre aí que está o mérito desse delicioso desenhozinho: alcançar, através da simplicidade, o refinado e redondo.

Juliana Fausto