Little Nicky – Um Diabo Diferente,
de Steven Brill


Little Nicky, EUA, 2000

Existe algo de tão completamente lamentável em Little Nicky, de tamanho mau gosto, que quase consegue nossa simpatia por, na escola dos irmãos Farrelly, nos colocar em contato com o que há de mais ensandecido na cultura pop americana. Só que, se há uma coisa que o filme faz, é provar que os irmãos Farrelly têm talento, e que este novato diretor Brill, não o possui. Little Nicky é de tal forma mal escrito, mal interpretado, mal dirigido, que fica constantemente a dúvida de como sequer chegou a ser escrito. É um autêntico filme trash, que parece ter por trás das câmeras um garoto de seus 11 anos com um humor pouco inteligente.

Adam Sandler é um ator cômico que, formado no Saturday Night Live, sempre pautou sua carreira na "canastrice" cômica. Não é um comediante na concepção de um Eddie Murphy, nem muito menos que um Jim Carrey, Não chega a ser um ator, nem um improvisador. Ele apenas é um cara comum com um impressionante mau gosto, uma capacidade de se colocar em situações ridículas absolutamente fantástica. Nos seus filmes anteriores, como em Happy Gilmore ou em Waterboy, soube utilizar com grande inteligência estes atributos, interpretando sempre o mesmo bobalhão de bom coração, envolvido em situações absolutamente comuns nas quais sobressaía. Eram filmes engraçados, no melhor do mau gosto. Com O Paizão, ele enveredou pelo caminho da comédia de costumes mais comportada, mas igualmente bem urdida. O problema com Little Nicky é não perceber que a persona de Sandler só tem graça nas situações cotidianas. Ao escalá-lo como o filho de Satã (papel perfeito para um Carrey, por exemplo), e envolvê-lo numa trama fantasiosa com vários efeitos especiais, seu humor some por completo e ele fica apenas ridículo, no mau sentido. Aliás, ele está tão mal no filme que chega a ficar a impressão que devia processar os produtores por danos à imagem. Mas, pelo menos ele não está sozinho, já que temos um Harvey Keitel, uma Patricia Arquette, até mesmo Quentin Tarantino, todos pagando micos semelhantes.

A grande falha do filme é possuir um substrato completamente trash e grotesco, e não assumir isso de todo, tentar estabelecer alguns dramas e narrativas completamente desinteressantes, e não intencionalmente ridículos. Claro, ninguém pode dizer que não haja uma ou duas boas piadas, como as idas e vindas ao Inferno pela morte rápida chegando na Terra ou a punição a Hitler no Inferno. Mas, se estas existem são 3 ou 4 ao longo muito tediosos 80 minutos de projeção que, com certeza, todos os envolvidos tentarão esquecer logo.

Eduardo Valente