Coração de Cavaleiro,
de Brian Helgeland


A knight's tale, EUA, 2001

Passando por cima de todos os seus defeitos e qualidades, existe um fato inegável em torno deste filme: ele foi feito no suporte errado. Cada personagem coadjuvante, cada apropriação completamente anti-naturalista da trilha sonora à ação do filme, cada trajetória do herói em oposição ao vilão, em suma, cada elemento do seu roteiro deixa claro: trata-se de um desenho animado, da Disney. E podia inclusive ser um muito bom. Mas, como está, filmado com atores, é apenas um fraco filme que torna-se com a mesma facilidade ridículo em tantos momentos e fascinante em outros.

O fascínio talvez explique o porquê de se desejar filmá-lo em carne e osso, como desafio mesmo. A idéia de filmar de novo a Idade Média, os concursos de cavaleiros, as cenas hiperreais de violentos embates de lance, fazem parecer irresistível a filmagem "ao vivo". Mas a lógica interna da ação é própria do "cartoon", onde as mais desbragadas fantasias passam por críveis, onde a música consegue se misturar com a trama de forma muito mais fácil de encenar. Porque a materialidade da carne e osso de atores com penteados ridículos e armaduras de ferro, de coadjuvantes que nada mais são que alívio cômico, de vilões e espiões maquiavélicos, emprestam um inevitável ridículo ao que se queira heróico ou mesmo épico. E isso quebra constantemente com o andamento do filme, que nos parece que poderia ser uma animação vibrante, mágica e funcional, onde a fantasia podia dominar mais a cena e mexer com o realismo de outras formas. Equivocado desde a gênese, o filme é apenas uma excentricidade entre platéias antigas gritando "We will rock you" sem o artificialismo assumido de um Moulin Rouge, e a mistura de pessoas de verdade como Geoffrey Chaucer com uma trama rocambolesca e inacreditavelmente heróica em se levar a sério.

Eduardo Valente