Harry Potter e a Pedra Filosofal,
de Chris Columbus

Harry Potter and the Philosopher's Stone, EUA, 2001


O que primeiro chama a atenção em Harry Potter e a Pedra Filosofal é a forma como o filme consegue aproximar a sua narrativa a de um videogame. Muito mais do que filmes de ação histéricos produzidos por um Jerry Bruckheimer, o filme de Chris Columbus consegue reproduzir com algum sucesso o formato e especialmente a sensação de estar jogando um jogo.

Os personagens são divididos em grupos e a escola onde toda a ação se passa distribui pontos ao longo do ano para cada um de acordo com sua realização, e a cada momento surge um novo desafio para ser enfrentado pelo protagonista e seus amigos. Há uma longa introdução para que o espectador possa conhecer os personagens – todos eles presos desde seu primeiro plano a uma definição bem estrita de quem é bom ou mau, de quem será útil nas missões de Harry e quem está lá só para atrapalhar ou servir de alívio cômico.

Após algum tempo está opção começa a revelar as suas fraquezas. Falta unidade ao filme, a grande maioria dos episódios parece existir à parte, como se estivessem lá apenas para agradar aos fãs do livro. Neste sentido a cena do quadribol (uma das favoritas dos fãs) é exemplar. Se fosse cortada esta passagem não teria influencia alguma na narrativa ou para os personagens do filme, o tom dela parece ter saído de outro filme (chega a lembrar Rollerball).

Ao mesmo tempo, a posição dos personagens acaba se tornando presa as amarras das regras do jogo. Se o grupo de Harry é formado pelos bons e o comandado pelo professor Snape é o dos maus, isto se dá apenas porque o filme impõe esta divisão ao espectador (a não ser que consideremos os incontáveis closes de um dos garotos olhando com inveja para Harry). Mesmo o status de Harry como o herói, parece se dar porque o filme assim o quer e não porque ele conquistou a simpatia do espectador Neste sentido Ron, o melhor amigo de Harry, acaba por chamar mais atenção. Ele nos é apresentado e tratado sempre como um garoto comum enquanto Harry – a direção de Columbus sempre procura reforçar – é especial, está acima de todos os demais.

Mas talvez o que mais incomode seja como no fim, o filme promova uma idéia de que vencer o jogo seja o mais importante. Mesmo Harry derrotar o vilão que quer lançar as trevas no mundo parece ser tratado por Columbus, primeiro como um instrumento para que ele e seus amigos ganhem o jogo e depois, como fazer o bem. Num filme infantil esta valorização da competição sobre a convivência com os outros soa no mínimo esquisita.

Filipe Furtado