Garota, Interrompida,
de James Mangold


Girl, Interrupted, EUA, 1999

A Academia dos Oscars bem reconheceu Angelina Jolie em seu papel de perversa rebelde, e soube bem agraciá-la com uma estatueta. Pois ela e seu personagem são a única coisa que brilha em Garota, Interrompida. E é uma pena que ninguém tenha se dado conta disso. Afora a personagem de Jolie, o filme de James Mangold é a reconciliadora e moralizante história de uma menina meio maluquinha que entra no hospício revoltada e achando que é louca e só deverá sair dele reconhecendo que é verdadeiramente maluquinha (Note-se que seu espelho de sanidade, a pessoa que servirá de modelo para que a personagem principal, interpretada por Winona Ryder, possa recuperar-se, é a própria e coitadinha Jolie, que ainda ficará por um longo período no sanatório). A mensagem edificante é pavorosa: para que se possa voltar a sociedade, é preciso matar em você aquilo que há de identificatório à liberdade absoluta. Daí Garota, Interrompida ser um tratado sobre a acomodação social, sobre a produção social de apatia. Um belo teórico que trabalhasse com psicologia poderia traçar essa outra história do filme, desconstruí-lo por dentro para retirar a história, a produção de exclusão social da pobre Jolie. Mas não. Nossos psicólogos à Jurandir Freyre Costa estão mais preocupados em infinitamente reintroduzir a sublimação em nossa sociedade e tentar despatologizar (se isso fosse possível) quando a lógica seria perspectivar o patológico (colocá-lo em perspectiva, mostrar as raízes "sociais" da patologia, engajar toda a sociedade em seu pathos). Mas isso seria imanência demais para nossos psicólogos e para James Mangold. Perde-se assim qualquer possível interesse no filme (mesmo que às vezes ele agrade pela ternura).

Ruy Gardnier