O Filho Adotivo,
de Aktan Abdykalykov

Beshkempir, Quirguistão/França, 2001


Ë sempre visto com bons olhos, no nosso circuito tão dominado pelo produto norte-americano, o lançamento comercial de um filme oriundo de um local pouco conhecido como o Quirguistão. Desperta curiosidade e entusiasmo, principalmente quando pensamos na qualidade dos filmes recentes realizados em diversos países da Ásia, em especial os iranianos, que em boa parte superam um mero exotismo por mostrar diferentes culturas, em favor de um tratamento cinematográfico criativo e consistente. Infelizmente este não é o caso de O filho adotivo.

O diretor Aktan Abdykalykov faz uso da cara temática de rito de passagem e amadurecimento para contar um pouco da rotina do garoto Beshkempir que, em meio a brincadeiras com amigos e a descoberta da primeira paixão, toma, após brigar com um colega, conhecimento do fato de ser adotado. As situações e personagens base parecem já ter sido vistos em muitos outros filmes, como o pai severo, a mãe distante, a avó afetuosa ou o momento mágico da ida ao cinema (que neste caso guarda peculiaridades, como a projeção ao ar livre e com os espectadores em pé de um filme de Bollywood). Aliás esta não é a única referência no filme ao cinema indiano. Os minutos iniciais, com a garotada brincando em integração com natureza e paisagens locais trazem a lembrança de Canção da estrada, de Satyajit Ray. Influência reforçada pela utilização da fotografia em preto e branco e de uma linguagem neo-realista.

Mas, diferente do mestre indiano e de diretores iranianos, como Abbas Kiarostami, Abdykalykov não consegue superar as barreiras do convencionalismo, deixando inclusive de explorar de forma mais densa a crise despertada no garoto pela descoberta de sua condição de adotado e a subsequente morte da avó. Em se tratando de filme do Quirgustão sobre a entrada na adolescência de um garoto do interior, o diretor Nurber Egen foi muito mais feliz em seu curta Sanzhyra, exibido no último Festival do Rio e que mostra a tensão do protagonista nas horas que antecedem seu ritual de circuncisão. Já O filho adotivo até vale uma ida ao cinema, desde que não se espere muito além da curiosidade de se conhecer alguma coisa sobre um país distante.

Gilberto Silva Jr.