Dom, de Moacyr Góes
Brasil, 2003

Dom é o primeiro dos quatro longas que Moacyr Góes deve lançar nos próximos meses. Dentro do panorama nacional este é um feito e tanto, especialmente quando se leva em conta que nenhum cineasta que estreou nos anos 90 alcançou esta marca ainda. O feito se reduz bastante quando se leva em conta que Dom é, muito mais do que um filme de Góes, o mais novo produto de Diller Trindade, verdadeiro responsável pela fita (e pelos próximos três trabalhos de Góes). De acordo com Trindade o filme seria sua aposta no produto de alcance médio voltado para um público diferente das suas produções anteriores. Nada demais nisso. O problema é que falta a Góes, como diretor, e a Trindade, como produtor, capacidade de construir um filme com o mínimo de competência narrativa. Dom é constrangedor do início ao fim.

Não há nele quase que um único momento em que se possa acreditar. Os planos não se comunicam, e tem-se às vezes a sensação de que até mesmo os fotogramas dentro do mesmo plano não se comunicam. Poucas vezes um filme que supostamente nos deveria envolver no que acontece parece se esforçar tanto para nos expulsar dele. Moacyr Góes não precisa usar de artificial algum para gerar uma quebra de diegese, ele precisa simplesmente filmar um corpo se movimentando por um espaço e, pronto, não conseguimos acreditar nele, seja porque há algo de errado com a locação, seja com o ator, seja com como ele os filma. Simplesmente não acreditamos naquilo. A experiência de vê-lo é tão estranha que chega a ser quase interessante.

Nem vale aqui entrar nas questões de adaptação. Dom Casmurro aqui é uma citação não muito diferente do pôster de Jules e Jim que aparece no estúdio de Bruno Garcia. Se é verdade que se aprende mais com os filmes ruins do que com os bons, Dom poderá no futuro servir como boa fonte de pesquisa para alunos de curso de cinema. De resto ficamos com a beleza de Maria Fernanda Candido (que tem um domínio de tela que sugere que ela poderá ser muito aproveitada no cinema no futuro) e com alguns momentos em que Garcia consegue injetar alguma vitalidade no que vemos. De resto, sobra torcer que nos ainda mais comerciais projetos seguintes de Góes, ele revele algum jeito para a coisa.

Filipe Furtado