Cecil
Bem Demente,
de John Waters
Cecil B. Demented, EUA,
2000
O espectador carioca teve a oportunidade
em 2000 de acompanhar a carreira completa de John Waters no Festival do
Rio. Para quem viu os primeiros filmes, nos quais o diretor trabalhava
com nenhum orçamento, realizando verdadeiras odes aos marginais
da sociedades, à beleza do feio e ao anti-refinamento na arte,
Cecil Bem Demente fica bem mais fácil não só
de entender, mas principalmente apreciar. É um caso onde a carreira
do diretor e sua ideologia artística emprestam muito mais significados
à obra do que ela mesma parece ter.
Sim, porque um espectador
desavisado pode assistir o filme e achar apenas uma comédia escrachada,
"over", muitas vezes fora de tom, completamente caótica e desarrumada.
E isso tudo o filme é. O importante em conhecer a carreira do diretor
é saber que nada disso é sem querer. Ou seja, quem não
conhece os postulados artísticos de Waters e julgar o filme a partir
de um cânone hollywoodiano clássico pode achá-lo mal
sucedido. Realmente, se fosse feito para ser um filmezinho de estúdio,
redondo, palatável, previsível, de bom gosto, seria um péssimo
filme. E, sob muitos aspectos, é um péssimo filme. Mas,
quando você se lembra de tudo que o diretor defende como visão
de mundo, dizer que o filme é péssimo, é elogiá-lo.
Ponto, então, para Waters.
Por que o filme é
péssimo? Porque Waters constrói uma trama "policial" cômica
que nunca encontra um tom, os atores parecem todos amadores de terceira
categoria especializando-se em "overacting", as cenas são filmadas
com nenhuma preocupação verdadeira com a montagem ou a iluminação.
Além disso, as piadas se repetem e uma vez estabelecido o esqueleto
central da trama, ele nunca chega a conseguir dar vitalidade às
situações. Pode-se dizer que Waters nunca conseguiu estruturar
suas narrativas, que elas vivem de cenas esparsas e irregulares entre
o genial e o tedioso. Não estaria errado. Mas, o errado é
se pensar que este é um defeito em Waters.
Porque, afinal, nada
disso é sem querer, não é um erro. Um erro seria
ele postular uma revolta contra o sistema hollywoodiano num formato "agradá |