Como Cães e Gatos,
de Lawrence Guterman


Cats and dogs, EUA, 2001

E se os cachorros e gatos deste mundo estivessem de fato envolvidos numa milenar disputa pelo controle da afeição dos humanos, e portanto, do domínio do mundo? Esta premissa talvez seja uma das mais inteligentes a sair da "fábrica de conceitos" que é a Hollywood do cinema mais comercial, de verão. E, como é via de regra tantas vezes, a idéia fica perdida na realização desinteressante, tornando-se apenas mais um bom conceito jogado na vala comum da necessidade comercial de soluções rápidas e preguiçosas.

O problema principal aqui é que, uma vez assimilado o conceito, ficamos reféns de uma opção até certo ponto corajosa, mas infelizmente equivocada: a de assumir um formato absolutamente surreal e paródico de encenar este enfrentamento. Nos parece que o mais inteligente e inesperado seria mesmo lidar com situações do dia a dia do convívio de humanos e gatos e cachorros, que dessem aos menores fatos uma dimensão maior. Ao decidir por um caminho oposto, meio termo entre o pastelão e a paródia de gêneros (ficção científica, espionagem), o diretor joga fora o que há de mais peculiar no seu conceito (a familiaridade de todos com os animais domésticos) em troca de algo que nunca se realiza nem como farsa (uma sociedade hierárquica e tecnologicamente avançadíssima dominada pelos animais). Assim, ficamos acompanhando em busca de algumas boas piadas (não por acaso a maioria vem das situações domésticas vividas pelo chefe dos gatos), mas entediados por uma trama absurda que ousa se levar a sério demais (problemas que as verdadeiras paródias não sofrem). As crianças podem até se divertir (os efeitos especiais de animais falantes sempre garantem isso), mas será só, e por pouco tempo.

Eduardo Valente