Amigas de Colégio,
de Lukas Moodysson


Fucking Amal, Suécia, 1999

Que dogma?

Me acho realmente repetitivo. Mas não posso evitar de tocar em certos assunto. Sendo pós modernos os tempos, acho bastante difícil ignorar essa realidade.

É fato: a arte experimenta uma atualidade esquisita. Na sociedade de massas, onde os meios tomam o lugar dos fins, a linguagem cinematográfica, e artística em geral, se processa em um vazio. Tentativas de inovação não representam uma saída palpável e uma nova forma de se representar a realidade. Antes, não passam de uma mera tentativa que falha. Não conseguem escapar da malha já estabelecida da não correlação entre significantes e significados. O que podemos fazer? Vivemos isso.

Filmes não são feitos mais para extrapolar. Já nascem enquadrados em uma estética com nome já escolhido. Estética cinema novo, estética nouvelle vague, estética hollywoodiana. O Dogma, movimento surgido no norte europeu, como não poderia deixar de ser, também se estabeleceu como estética que influencia o formato de novos filmes. Estes já nascem deficientes de liberdade artística, pois já estão vinculados a uma inovação já absorvida, já palatável. Exceções existem, claro. Uma delas é Amigas de colégio.

Como se o filme fosse feito não tomando conhecimento da existência de uma estética já armada e chamada Dogma. O que é mostrado na tela é tão adequado a forma como foi filmado que não nos passa a idéia de que se trata de apenas uma obra se aproveitando dessa nova possibilidade de se filmar. Da maneira como foi feito, a forma, a câmera de vídeo inquieta, os rigores da encenação e da montagem, fazem parte da diegese do filme.

Impossível não comparar o resultado com os filmes dogmáticos, mas nesse caso, somos obrigados a pensar que, talvez, isso não passe de mera coincidência.

Na luta por um novo horizonte lingüístico para a já batida linguagem cinematográfica, Amigas de colégio está com grande vantagem ao redescobrir o Dogma e não apenas se enquadrar nele. Essas regras, que limitam as possibilidades de se filmar, nesse caso, eram as únicas que poderiam reger a feitura da obra e assim chegar a um resultado final sólido e único.

João Mors Cabral.