Alto Risco,
de John Mackenzie

When the sky falls, Irlanda/EUA/Inglaterra, 2000


Uma dificuldade tipicamente nossa, antes de mais nada: fica difícil para a ficção a estas alturas do mundo causar comoção por mostrar injustiças e um sistema criminoso que oprime os que não se rendem a ele. Fica difícil comover porque os jornais da TV nos mostram isso todos os dias. Portanto a ficção precisa conseguir nos surpreender de alguma forma para nos retirar do estado de absoluta imersão em que nos encontramos frente à nossa própria realidade. E isso é tudo que o filme de Mackenzie não consegue.

É fato, pode-se ver no filme uma entrega até comovente tanto de seus atores quanto de seu diretor, que percebem a importância do material que têm em mãos, e acreditam nele piamente. A culpa não é deles que possamos assistir uma narrativa tão dramática e acharmos que ela não tem "nada de novo". A culpa é do mundo em volta que ultrapassou a ficção há tempos. Fica a questão: como ainda pode hoje a ficção se posicionar frente a estas questões e ser absolutamente relevante?

Quer dizer, até certo ponto sobra um pouco de culpa sim para diretor e equipe, uma vez que há um esquematismo exagerado no retrato da jornalista como mártir, dos criminosos como demônios e do policial como um meio-termo necessário mas essencialmente bem intencionado. Poderia se pedir maiores matizes nesta construção, sem dúvida. Mas, ainda assim, definitivamente não vem daí o insucesso do filme em escapar sua prisão do mundo real (como ele claramente desejaria). Vem sim da anestesia geral que foi dada na humanidade pelo excesso de imagens, sons e histórias que nos são injetadas a cada dia e que praticamente forçam a desumanização como única forma de manutenção da sanidade. Taí um tema interessante, e que implicitamente acaba sendo predominante no filme.

Eduardo Valente