LONDON RIVER - DESTINOS CRUZADOS
Rachid Bouchareb, London River, Reino Unido/França/Argélia, 2009

Para um filme ter qualquer tipo de impacto – seja ele político ou emocional – é imprescindível que haja nele um sentimento de mundo, mais ou menos autêntico, em trabalho. Mesmo naqueles que não passam de uma combinação de efeitos rasos de superfície deve haver alguma ideia de universo coeso a servir de base para a narrativa e âncora para o espectador. Quando isto não ocorre, temos um filme verdadeiramente descartável: é o caso de London River.

Rachid Bouchareb costura uma série de dados que “conceitualmente” constroem um sentido e enunciam um discurso por si só, sem que haja necessidade alguma da matéria dramática. Um jovem casal cujo contraste “grita” aos olhos de qualquer um – um negro e uma moça alva de cabelos ruivos – se engajam em aulas de árabe e frequentam uma mesquita numa metrópole europeia (Londres); e pouco depois morrem, provavelmente apaixonados, num atentado terrorista reclamado por um grupo fundamentalista islâmico. Seus pais (e duplos) – a mãe dela e o pai dele – são reunidos pelo desaparecimento dos filhos e unidos pela dor mútua, rompendo as barreiras da desconfiança e dos pré-conceitos para constatar a faceta humana universal de que comungam.

O leque (restrito) de sentidos intencionado está todo aí; a imagem é um adendo. As situações pouco ajudam para criar personagens com espessura propriamente dita, e servem apenas de ilustração para as ideias contidas no arcabouço narrativo delineado acima. Pergunta-se então: de que adianta o trabalho de excelentes atores, se nem as cenas tomadas individualmente conseguem ter alguma força dramática e emotiva? London River é quase uma caricatura pálida do cinema de arte contemporâneo capaz de justificar sua existência apenas por algumas linhas de argumento. É o reino pobre do conteúdo.

Tatiana Monassa


 Janeiro de 2011