CADÊ OS MORGANS?
Marc Lawrence, Did You Hear about the Morgans?, EUA, 2009

Meryl e Paul estão separados, mas ele a procura e busca reatar a vida a dois, pedindo desculpas pelo caso extraconjugal que ocasionou a briga. Numa noite em que discutem a relação enquanto caminham pelas ruas de Manhattan, testemunham o crime cometido por um matador profissional, que passa a persegui-los. Não resta alternativa à polícia a não ser colocá-los no sistema de proteção a testemunhas e mandá-los para o meio do nada, isto é, para Ray, uma cidadezinha minúscula situada nas profundezas do Wyoming.

Terá início, então, uma comédia de recasamento fundada nos mais previsíveis clichês sobre as oposições entre homem e mulher, no plano romântico, e nova-iorquinos e caipiras, no plano cultural. Cosmopolitas, saudáveis, democratas, Meryl e Paul precisam se adaptar àquela comunidade isolacionista, carnívora, republicana. Aos poucos, enxergam e aprendem a admirar alguns dos valores dos caipiras. Enquanto isso, redescobrem-se como casal.

Sarah Jessica Parker e Hugh Grant fazem os papéis principais. Ela continua esquisitinha, chata e tagarela. Este último atributo até poderia contar positivamente, relembrando um traço característico das comédias de recasamento dos anos 1930/40, em que o jogo dramático era um verdadeiro duelo de palavras e os atores funcionavam como metralhadoras falantes, a exemplo do que ocorre com Cary Grant e Rosalind Russell na obra-prima Jejum de Amor, do Hawks. Mas não é o caso em Cadê os Morgans?: a personagem de Sarah Jessica Parker fala aquelas mesmas falas enjoadas de sua personagem em Sex and the City e Hugh Grant continua aquele cara legal, com aquele charme e aquele humor britânicos que lhe são próprios, mas que há dez anos faz um mesmo estereótipo e nunca ultrapassa a barreira do mediano.

O pior do filme cabe à insistência com sua patética subtrama: o matador colhendo pistas até finalmente encontrar o casal e tentar matá-lo novamente. Há ainda um inexplicável romance secundário entre o assistente de Paul e a secretária de Meryl, que mais parece um pretexto para incluir Elisabeth Moss (a Peggy de Mad Men) no elenco do que qualquer outra coisa. Muito desagradável.

Luiz Carlos Oliveira Jr.


Abril de 2010