NINJA ASSASSINO
James McTiegue, Ninja Assassin, EUA/Alemanha, 2009

Alguns tipos de filmes sofrerão eternamente os mesmos preconceitos. Tropas Estelares, por exemplo, nunca será visto, de primeira, como a intensa obra política que Verhoeven ousou fazer. Assim como Fuga de Los Angeles, e vários outros de John Carpenter, por sinal. Não são filmes de grife. São aparentemente vagabundos, e necessitam de defesas críticas, palavras que iluminem o que está por trás das imagens violentas.

Ninja Assassino é outro a sofrer desse tipo de preconceito. É violento, sim, mostra corpos despedaçados, partidos ao meio, jorros de sangue e cabeças decepadas. Se fosse oriental, a procedência o salvava, poderia até virar cult. É americano. Feito por um protegido dos irmãos Wachowski, James McTeigue. Traz um astro do cinema coreano chamado Rain, e muitas, inúmeras cenas de ação, em sua maioria, com lutas. Fácil de ser chamado de lixo pop. Mais fácil ainda de ser ignorado pelo cinéfilo, que vai preferir alguma baboseira pseudo-artística da Europa.

No entanto, é preciso que se diga: Ninja Assassino é muito mais do que um filme sanguinolento. Há um interesse em investigar as diferenças entre etnias, para começar. O ninja não se envolve com uma investigadora negra do fórum por acaso. Os sobrenomes em jogo não são de estrangeiros (a Hollywood) por mera questão de sonoridade. Existe um estudo de adaptação ocidental a alguns costumes orientais correndo por trás das diversas seqüências de ação. Podemos dizer, tranquilamente, que é como se Johnnie To ou Kinji Fukasaku (para pegar Honk Kong e Japão e dois modos de fazer cinema de ação semelhantes em muitos aspectos) realizassem seus filmes com liberdade total, dentro do esquema hollywoodiano, sem preocupação com o mercado americano. O único sinal dessa preocupação é a língua – fala-se inglês, apesar da maior parte da ação ocorrer em Berlim, com ninjas japoneses. Podemos comparar também com O Último Samurai, que é o avesso de Ninja Assassino por diluir a cultura nipônica numa trama por demais hollywoodiana, enquanto o divertimento barato de McTeigue se banha inteiramente no filme oriental de gênero.

A grande seqüencia do filme, a perseguição ao lutador Raizo (Rain) pelos ninjas do clã no meio do trânsito noturno de Berlim, poderia estar num dos policiais urbanos de To, assim como a luta final na sede do clã tem similaridades com as cenas de luta dos filmes dos Shaw Brothers. Percebe-se a destreza de McTeigue como coreógrafo de ação, um de seus maiores trunfos no irregular V de Vingança, além da habilidade de lutador de Rain e da beleza da atriz Naomie Harris, quando surge na hora H para salvar o herói de um golpe fatal. Podemos lamentar a ausência de ambição para ser algo mais do que uma emulação desse cinema oriental de gênero, mas temos 90 minutos de divertimento vagabundo, que não pretende se disfarçar de adulto ou profundo.

Sérgio Alpendre