OUTRAGE
(Ida Lupino, EUA, 1950)

Terceiro filme de Ida Lupino como diretora, tendo por assunto as consequências psicológicas da agressão e do estupro sofridos por uma jovem moça. Compaixão, indiferença, curiosidade, quaisquer que sejam as reações de quem está perto, ela não pode suportá-las e deve fugir. Ela se torna assim uma personagem errante, acuada, quase desequilibrada, passando pela experiência, após aquela da violência, da estranheza nesse mundo. Itinerário bastante comparável ao de um herói de film noir de que ela representa o equivalente feminino. É então que o verdadeiro filme começa. As histórias preferidas de Ida Lupino contam todas a lenta cicatrização de uma ferida. Ferida física tanto quanto moral. Suas personagens, que sua femininidade, seu caráter ou as circunstâncias transformaram em chagas vivas, necessitam da serenidade, não como um luxo, mas como um remédio indispensável a sua sobrevida. Essa busca vital da serenidade e da luz é a substância e a razão de ser dos filmes de Ida Lupino. Ela se exprime por um estilo miraculosamente límpido. De que ele é feito? Podemos apenas enumerar os materiais. Um mínimo de eventos e de personagens; situações depuradas de todo conteúdo anedótico; atores familiares nos quais Lupino retrata a si mesma ao lado de personagens que conheceu, sem deixar de lançar sobre eles um olhar objetivo; um uso simplificado e espontâneo da decupagem clássica com uma mestria invisível do plano longo e às vezes do plano-sequência; uma fotografia nuançada na violência e na ternura que foge dos grandes contrastes; acima de tudo, uma profunda humildade em relação aos assuntos tratados, que posiciona sempre o ator no coração da realidade que ela busca exprimir. Longe de ser uma marginal, Ida Lupino é, ao contrário, sobre o plano do que se exprime em seus filmes, uma cineasta central no cinema americano e no cinema como um todo. Tudo aquilo que vieram a exprimir, no melhor de si mesmos, Lang ou Losey, Preminger ou McCarey, Walsh ou Fejos, e às vezes depois de tantas experiências transitórias ou infrutíferas, parece aqui dado em uma só vez, sem que tenha existido aparentemente para a autora uma influência a ser seguida, uma maturidade a atingir. Basta ver as últimas cenas (conselhos e adeus de Ferguson à heroína): elas têm a mesma intensidade, a mesma clareza concentrada e pungente que encontramos em Mizoguchi. Nenhum cineasta, até onde sabemos, recebeu em uma só parcela dons tão completos, tão inexplicáveis. Ao menos, é claro, que se leve em conta a hereditariedade (Lupino descende de uma antiga linhagem de atores ingleses vinda de vários séculos) ou uma faculdade de observação e de assimilação que havia tido todo o tempo necessário para se desenvolver durante os mais de quarenta filmes em que ela interpretou desde os quatorze anos sob a direção de Dwan, Hathaway, Walsh, Wellman, Curtiz etc. Por outro lado, sua carreira de realizadora de cinema foi tão breve que, para nossa felicidade, ela não teve tempo de desperdiçar seus dons nem de nos decepcionar estragando-os.

Jacques Lourcelles

(Dictionnaire du cinéma: Les Films, Paris: Laffont, 1992, pp. 1090-91; tradução de Luiz Carlos Oliveira Jr., revisão de Ivna Fuchigami)