HOMEM DE FERRO
Jon Favreau, Iron Man, EUA, 2008

Por um cinema ordinário

Homem de Ferro
já é um dos maiores sucessos no mundo este ano, e ainda que voltemos ao personagem dos quadrinhos, ao fato de que houve uma longa campanha de venda deste personagem, de reconstrução de sua imagem, sendo Robert Downey Jr. escalado tão pouco e somente por sua semelhança alcoólatra com Stark, é o cineasta que devemos reverenciar. Homem de Ferro é o grande sucesso da carreira de Favreau, mas é certo que desde seus trabalhos anteriores ele vem buscando um conceito. Um Duende em Nova York, Homem de Ferro e Zathura têm em comum o mesmo ideal, o principio de um cinema divertido, um cinema família, feito do modo mais correto, um cinema simples. Anti-Michael Bay, assim como Barry Singer e Sam Raimi. Embora todos um tanto diferentes entre si, são cinemas possíveis hoje.

Com o cinema ordinário em ação, o cinema político é desfeito. Em cena, os árabes são peça na mão de um personagem que não se filia moralmente aos EUA. O exército americano existe como pano de fundo, como piada: por sua incapacidade, deve ser substituído por um homem com armadura e o melhor amigo de Stark, um general forte, é caracterizado como um bobão. E assim se desfaz todo o poderio político, de acordo com o que um filme como este pretende ser, um filme comum. É muito fácil criticar o que ele não quer fazer, que é discutir política. Daí tanto se falar sobre a forma como os árabes, o armamento, o modo que Stark se altera diante do que vê. Favreau mostra a guerra da mesma forma que o romance de Tony Stark e Pepper, como uma fábula infantil.

E qual o motivo da defesa deste cinema, já que não é necessariamente algo de interesse infinito alguém despolitizar o cinema (mesmo que no mundo nada seja sem política)? A resposta está na forma como ele funciona e se manifesta. Afinal, é seguindo este princípio que Robert Downey Jr. domina em cena. É a sua reconstrução desse personagem sem charme que faz dele o que ele é e carrega o filme. É ele quem interessa aqui. O filme seria como é se o personagem fosse caracterizado de outro modo? Ora, seria uma idiotice afirmar que Downey Jr. brilha sozinho, pois não fosse todo o trabalho de Jon Favreau, de que forma o filme estruturalmente permitiria isso a ele? Que outro herói recente no cinema foi re-construído em torno do seu ator? Homem de Ferro é um filme eficiente. E num mundo pós-tudo, o cinema ordinário se tornou vanguarda.


Guilherme Martins