AMAR... NÃO TEM PREÇO
Pierre Salvadori, Hors de prix, França, 2006

Já que sempre esculhambamos, e com razão, os tradutores de títulos de filmes em lançamento comercial, devemos também reconhecer e louvar quando o título português é inventivo. E, convenhamos, ao sair de Hors de prix e nos depararmos com Amar... Não Tem Preço, evocando o famoso comercial de um cartão de crédito, percebemos que a tradução capta todo o espírito do filme: uma série tresloucada de compras em cartão e amor vendido a golpes de diamante e roupas caras, para ao final mostrar que o verdadeiro amor, aqui identificado com a idiotice e a teimosia, não é questão de dinheiro. E talvez o título português seja mesmo a idéia mais interessante a sair do filme, porque Pierre Salvadori não está lá muito interessado em trabalhar nenhuma dinâmica além da rotina costumeira dos corpos opostos se atraindo, e não consegue extrair em termos de ritmo ou de vivacidade nada muito significativo.

O filme toma a dinâmica do casal que se encontra fortuitamente, à Levada da Breca, ele travado e correto, ela saidinha e quebrando todas as regras; ele é funcionário de um hotel, ela uma caçadora de maridos ricos. Mas o cenário é, ou se supõe, lubitschiano, com os hotéis de balneário no lugar dos palacetes e um certo ar de Sócios de Alcova que nunca se concretiza. Sabe-se por quê: porque pertence a Lubitsch esse tipo de comédia sofisticada com personagens adoravelmente escroques e deliciosamente frívolos, porque envolve uma questão de ritmo de fala (aqui totalmente ausente), de velocidade das ações e dos movimentos dos personagens, além da leveza geral do todo, uma leveza tanto do andamento do filme quanto dos valores nele em jogo. E aqui, por mais que Gad Elmaleh seja um bom ator físico e Audrey Tautou seja graciosa (às vezes ao nível da irritação), falta imaginação cênica à interação entre os dois, assim como falta em geral uma desenvoltura em transformar aquele mundo em algo mais palpável. Assim, o filme fica restrito a um teatro sem instauração e a uma exibição vulgar de objetos de fetiche (relógios, motocas, vestidos e outras roupas luxuosas, além de quartos régios de hotel) da qual o filme faz todo uso ideológico que pode. Ao fim, a moral da história é a mesma do comercial de cartão: certas coisas podem não ter preço, mas as outras têm, e elas são tão lindas...

Ruy Gardnier