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                         Não há como driblar os fatos: 
                          Smiley Face 
                          chega após uma recepção fervorosa a Mistérios da 
                          Carne. Daí surge uma expectativa, até mesmo cruel, 
                          pois se esquece de toda uma carreira irregular, cujos 
                          temas mais caros parecem ter sido evitados neste filme 
                          que é uma clara tentativa de realizar um cinema um pouco 
                          mais acessível ao mercado americano numa noção bem generalizante. 
                          Mas nada disso justifica Smiley 
                          Face, um filme absolutamente equivocado. Ele é sim 
                          um filme da grife Araki – se o filme por si só já não possui características 
                          formais suficientes para demonstrar a proximidade na 
                          forma de retratar universos costumeiros dele, basta 
                          relatar que tal qual em toda sua carreira, desde os 
                          primórdios do new 
                          queer cinema, ele sempre escreveu, produziu, montou e 
                          obviamente dirigiu todos os seus filmes, o que não é 
                          diferente com este. Portanto, por mais tentador que 
                          possa ser buscar uma forma de poupá-lo por este filme, 
                          é ele próprio que não nos permite. 
                           
                          Escondido por trás de uma suposta noção de “filme-de-maconheiro”, 
                          Smiley Face é como uma versão indie de Cara, 
                          Cadê Meu Carro, com a idéia de um(s) personagem(s) 
                          sob influência de substâncias cometendo várias bobagens 
                          que causam uma reação em cadeia. Só que lá existia 
                          uma inventividade ausente neste filme, além de uma realização 
                          muito mais eficiente no sentido de ser engraçado mesmo. 
                          O que é mais surreal é a natureza underground que precede 
                          a carreira de Araki, confrontada 
                          ao fato de seu filme ser deveras mais preconceituoso 
                          e caricato sobre o universo maconheiro do que o “mainstream” 
                          realizado por Danny Leiner. 
                           
                          A despeito de Smiley Face ser tosco no pior sentido do termo, 
                          é inegável que ele se cerca de diversos signos interessantes, 
                          que poderiam gerar um filme, no mínimo, inteligente. 
                          A presença de Danny Masterson, por exemplo, um 
                          ícone do universo que remete diretamente a That 70’s Show, uma figura cuja imagem está indissociável da maconha. 
                          A seleção musical, o clima de paranóia, até mesmo o 
                          manifesto comunista, tudo isso poderia estar junto num 
                          filme verdadeiramente bom sobre o assunto. E o filme 
                          até é em alguns momentos bom, justamente por esse aglomerado 
                          de signos serem filmados, no mínimo, decentemente. Mas 
                          jamais consegue usufruir desta inteligência que o cineasta 
                          possui, pois consegue, para cada bom momento, um sem 
                          número de cenas canhestras. Na maioria do tempo, é simplesmente 
                          um filme babaca, preguiçoso, e bem menos engraçado do 
                          que deveria ser. 
                           
                            
                          Guilherme Martins 
                           
                           
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