Ethan Hawke não é Zach Braff.
Melhor assim, pois Um Amor Jovem, baseado no
romance homônimo escrito pelo próprio ator/diretor,
pode respirar e ser um filme muito acima da simples
busca de um estilinho "bacana" (meio indie, meio esperto,
meio aloprado, sentimental, aquela coisa Scrubs
+ letras de Nick Drake vista em Hora de Voltar).
"Amadurecer" é um verbo mais interessante em Um Amor
Jovem do que na maioria dos filmes independentes
ou das tele-séries românticas americanas. Figura tarimbada
da geração 90's após protagonizar alguns dos melhores
(Antes do Amanhecer) e dos piores (Reality
Bites) filmes românticos sobre jovens daquela década,
Ethan Hawke parece ter encontrado aqui um acesso direto
aos temas que perpassavam os personagens que o consagraram
(homens sensíveis de vinte e poucos anos).
O começo de Um Amor Jovem, seus primeiros minutos,
chega a sugerir algo próximo de um sub-Linklater. Mas
a sensação é passageira, e logo já estamos assistindo
a um filme com características bem pessoais e, no mais
das vezes, encenadas com total "honestidade".
A esperteza é evitada em nome de uma adesão à intensidade
emotiva que torna o protagonista um ser vulnerável.
William, um jovem ator, não tem a medida certa de seus
sentimentos. Não que isso seja um problema. A princípio,
de fato, não é. Mas há o momento em que Sara, a garota
latina por quem ele se apaixona, não embarca na tal
intensidade, e o relacionamento vai ladeira abaixo.
William passa, então, pela difícil fase de superação
da perda amorosa. Ele tenta inscrever seu relacionamento
com Sara numa solidez de todo contraditória com o momento
que ela vive. Sara constantemente reitera uma vontade
de ficar na dela, não se prender a ninguém. Mas William
não suporta o término do namoro, ainda mais depois da
semana incrível que tiveram no México, uma verdadeira
lua-de-mel. O filme é um pouco essa queda da inocência
do primeiro grande amor. Hawke capta a etapa mais sofrida
da perda de forma direta e, para usar a definição de
Sara em relação a William, "intensa".
A inconformação de William é filmada integralmente do
ponto de vista dele. Sara se torna uma muralha de opacidade
– e o filme, um efetivo afundamento na experiência de
continuar amando sem ser correspondido.
Há muito pouco trabalho criativo de encenação e de montagem
(a parte do México, inclusive, transborda em clichês
de fotografia – a "luz do México" é exatamente a mais
previsível – e de narrativa – o clipe com cenas românticas
do casal, por exemplo), mas a opção pela câmera na mão
ali perto dos personagens, não querendo muito mais do
que essa proximidade, basta ao filme. Se fica uma impressão
de que Hawke só queria transformar seu romance em imagens
e sons, sem muita invenção estética? Às vezes... Mas
isso não bloqueia a parcela afetiva mais interessante
do filme, a exemplo do encontro de William com o pai
que não via desde criança (interpretado por Hawke).
O uso da música é fácil, os atores não são preciosidades,
o enredo não conta nenhuma história nova... E ainda
assim não temos muito o que reclamar de Um
Amor Jovem.
Luiz Carlos Oliveira Jr.
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