UM AMOR JOVEM
Ethan Hawke, The Hottest State, EUA, 2006
 

Ethan Hawke não é Zach Braff. Melhor assim, pois Um Amor Jovem, baseado no romance homônimo escrito pelo próprio ator/diretor, pode respirar e ser um filme muito acima da simples busca de um estilinho "bacana" (meio indie, meio esperto, meio aloprado, sentimental, aquela coisa Scrubs + letras de Nick Drake vista em Hora de Voltar). "Amadurecer" é um verbo mais interessante em Um Amor Jovem do que na maioria dos filmes independentes ou das tele-séries românticas americanas. Figura tarimbada da geração 90's após protagonizar alguns dos melhores (Antes do Amanhecer) e dos piores (Reality Bites) filmes românticos sobre jovens daquela década, Ethan Hawke parece ter encontrado aqui um acesso direto aos temas que perpassavam os personagens que o consagraram (homens sensíveis de vinte e poucos anos).

O começo de Um Amor Jovem, seus primeiros minutos, chega a sugerir algo próximo de um sub-Linklater. Mas a sensação é passageira, e logo já estamos assistindo a um filme com características bem pessoais e, no mais das vezes, encenadas com total "honestidade". A esperteza é evitada em nome de uma adesão à intensidade emotiva que torna o protagonista um ser vulnerável. William, um jovem ator, não tem a medida certa de seus sentimentos. Não que isso seja um problema. A princípio, de fato, não é. Mas há o momento em que Sara, a garota latina por quem ele se apaixona, não embarca na tal intensidade, e o relacionamento vai ladeira abaixo. William passa, então, pela difícil fase de superação da perda amorosa. Ele tenta inscrever seu relacionamento com Sara numa solidez de todo contraditória com o momento que ela vive. Sara constantemente reitera uma vontade de ficar na dela, não se prender a ninguém. Mas William não suporta o término do namoro, ainda mais depois da semana incrível que tiveram no México, uma verdadeira lua-de-mel. O filme é um pouco essa queda da inocência do primeiro grande amor. Hawke capta a etapa mais sofrida da perda de forma direta e, para usar a definição de Sara em relação a William, "intensa". A inconformação de William é filmada integralmente do ponto de vista dele. Sara se torna uma muralha de opacidade – e o filme, um efetivo afundamento na experiência de continuar amando sem ser correspondido.

Há muito pouco trabalho criativo de encenação e de montagem (a parte do México, inclusive, transborda em clichês de fotografia – a "luz do México" é exatamente a mais previsível – e de narrativa – o clipe com cenas românticas do casal, por exemplo), mas a opção pela câmera na mão ali perto dos personagens, não querendo muito mais do que essa proximidade, basta ao filme. Se fica uma impressão de que Hawke só queria transformar seu romance em imagens e sons, sem muita invenção estética? Às vezes... Mas isso não bloqueia a parcela afetiva mais interessante do filme, a exemplo do encontro de William com o pai que não via desde criança (interpretado por Hawke). O uso da música é fácil, os atores não são preciosidades, o enredo não conta nenhuma história nova... E ainda assim não temos muito o que reclamar de Um Amor Jovem.

Luiz Carlos Oliveira Jr.