PROPRIEDADE PRIVADA
Joachim Lafosse, Nue Propriété, Bélgica/França/Luxemburgo, 2006

Propriedade Privada se filia claramente ao drama familiar de fundo psicológico francês e o cineasta Lafosse parece interessado em pouco mais do que tocar sua fórmula com alguma competência, não muito distante, à sua maneira, de um diretor de faroestes Z da Republic por volta de 1940. Estão lá o comportamento aberrante (em especial a infantilização dos dois filhos), os momentos de explosão, a opção formalista da vez (no caso câmera sempre fixa que finalmente se movimenta no plano final), os atores de grande reputação (Isabelle Huppert, Jeremie Renier), o grande final catártico.

O filme ganha alguns contornos de interesse na segunda metade quando o confronto de poder mãe/filho se desenvolve, mas tão logo conseguimos finalmente nos envolver com o filme, Lafosse retoma ao piloto automático que lhe garante a catarse que considera necessária, que assim como quase tudo no filme nunca parece justificada pelo que vemos na tela. Propriedade Privada, durante a maior parte da sua projeção, fica sem dar muitas razões para sua existência, mas também sem incomodar. O filme todo se assemelha ao uso formal que faz da casa da família como personagem à parte: está ali, reconhecemos alguma habilidade na sua realização, mas não vai a lugar algum.

Filipe Furtado