Propriedade Privada se
filia claramente ao drama familiar de fundo psicológico
francês e o cineasta Lafosse parece
interessado em pouco mais do que tocar sua fórmula
com alguma competência, não muito distante, à sua maneira,
de um diretor de faroestes Z da Republic por volta de 1940. Estão lá o comportamento
aberrante (em especial a infantilização dos
dois filhos), os momentos de explosão, a opção formalista
da vez (no caso câmera sempre fixa que finalmente se
movimenta no plano final), os atores de grande reputação
(Isabelle Huppert, Jeremie Renier),
o grande final catártico.
O filme ganha alguns contornos
de interesse na segunda metade quando o confronto de
poder mãe/filho se desenvolve, mas tão logo conseguimos
finalmente nos envolver com o filme, Lafosse retoma
ao piloto automático que lhe garante a catarse que
considera necessária, que assim como quase tudo no
filme nunca parece justificada pelo que vemos na tela. Propriedade
Privada, durante a maior parte da sua projeção,
fica sem dar muitas razões para sua existência, mas
também sem incomodar. O filme todo se assemelha ao
uso formal que faz da casa da família como personagem à parte:
está ali, reconhecemos alguma habilidade na sua realização,
mas não vai a lugar algum.
Filipe Furtado
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