No
meio de tantos outros nomes, a pergunta se faz inevitável:
por que Eduardo Coutinho como expectativa? Direto ao
ponto: pois seu novo filme, Jogo de Cena, parece
realmente apontar para um novo caminho, despertando
a nossa curiosidade.
Após alguns filmes de destaque como Santo
Forte, Babilônia 2000, Edifício
Master ou Peões o diretor pareceu
consolidar um modo específico de se fazer documentário.
O que em um primeiro momento foi importante para a reformulação
do documentário brasileiro, no instante seguinte
tornou-se uma influência negativa, pois os novos
realizadores pareciam presos a um modo específico
que Coutinho parecia determinar.
E quando todos o seguiam, o diretor se distanciava do
modelo que criara. O Fim e o Princípio
marca uma guinada em sua carreira. O estudo de campo
feito numa pré-filmagem é deixado de lado
e aparece uma entrega na busca pelo novo e pelo desconhecido.
Na chegada a Paraíba, logo no começo do
filme, o diretor revela sua curiosidade pela cultura
e, sobretudo, pelo cotidiano local. Araças é
o ponto de descobrimento. Coutinho, conhecedor da abordagem
e da manipulação sadia do entrevistado,
era conforontado com um universo que desconhecia e o
seduzia. Deparava-se com gente que não necessariamente
se identificava com aquele registro de então,
muitas vezes desviando-se da câmera não
por vergonha ou revolta, mas por desinteresse. E é
essa espontaneidade vivaz presente em O Fim e o Princípio
(como resultado obtido) que parece fazer com que Coutinho
sinta vontade de descobrir o novo, de tirar a máscara
onde ela existe. E, agora, de colocá-la onde
ela não está presente.
Jogo de Cena parece ser um trabalho no mínimo
interessante, em que o diretor parte da premissa de
questionar o postulado da imagem com suas variabilidades
dramatúrgicas. Ao colocar um anúncio no
jornal, convidando uma série de mulheres a realizarem
o documentário, o diretor trás para si
pessoas interessadas no documentário e ao mesmo
tempo no jogo que propõe. Coutinho convida as
personagens a compartilharem suas experiências,
alegrias e tristezas, chamando para bem perto as experiências
pessoais mais marcantes.
Mas se o filme indica apontar para a familiaridade e
reconhecimento na história do outro, o postulado
da verdade é posto em cheque quando atrizes também
são convidadas a participar do jogo, contando
suas experiências pessoais e interpretando as
experiências já narradas pelas "não-famosas".
Uma mistura que parece confundir o espectador, fazendo-se
questionar se está ligado nos relatos pessoais
e "verdadeiros" ou na interpretação.
Como complemento, o diretor fez um filme nú.
Sem cenário, sem figurino. Uma cadeira colocada
em um teatro e uma mulher sentada nela.
Assim é Jogo de Cena. Basta saber agora
se os questionamentos e levantamentos que o filme parece
levantar são correspondidos na imagem.
Raphael Mesquita
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