LIFTING DE CORAZÓN
Eliseo Subiela, Lifting de Corazón, Espanha/Argentina, 2006

Logo de início, vemos a imagem de um rosto feminino computadorizado enquanto ouvimos uma narração em off a nos apontar os sinais de envelhecimento que vão surgindo pouco a pouco, numa reproodução do que ocorre na pele humana com o passar dos anos. Trata-se de uma palestra do seu protagonista Antonio, cirurgião plástico – e esses primeiros momentos de Lifting do Coração deixam claro que o tema do filme é a sensação de envelhecimento e as consequências disso para a vida de Antonio. A trama não esconde sua simplicidade: é a estória de um homem casado de meia-idade que se apaixona por Delia, uma jovem de vinte e poucos anos – a previsibilidade chega a ser anunciada pelos próprios personagens, cientes da confusão que criam para si. Encantadora, prometendo-lhe uma vida inteiramente diferente da que planejava até então, Delia confunde a cabeça de Antonio, sujeito feliz no casamento.

É da paixão entre os dois e da dúvida sincera de Antonio que o filme se constrói. Ele não sabe o que fazer: ter mais um filho com a sua jovem paixão ou voltar à segurança e ao amor da família? Buscar uma nova juventude ou aceitar e curtir a chegada da idade?

Do primeiro ao último plano do filme, a questão da passagem do tempo se coloca através dos sentimentos e ações dos seus personagens principais. Simples como seu enredo, a forma narrativa de Lifting do Coração nos dá a chance de rever o talento do seu realizador, Eliseo Subiela. Se nesse novo filme já não se fazem tão presentes os arroubos poéticos de suas obras anteriores (Homem Olhando Para o Sudoeste, As Últimas Imagens do Naufrágio, O Lado Obscuro do Coração), aqui ainda está presente o cuidado em delinear os sentimentos e desejos de viver dos seus personagens, sempre intensos, além do humor para criar tipos coadjuvantes – aqui há um taxista com vocação para psicólogo e um psicanalista metido a Don Juan, ambos impagáveis. Vale lembrar de um momento de cada um deles: o psicanalista ao transformar em instantes seu escritório numa garçonière; o taxista, entre tantos diálogos memoráveis, protagoniza uma cena em que procura reanimar Delia com uma canção divertidíssima (a se guardar o nome: Pizza Conmigo).

Porém, mais do que a beleza da jovem Delia e mais do que esse humor delicioso, é a oposição que Antonio vive, entre a vontade de viver (própria dos personagens de Subiela) e a percepção da passagem do tempo que faz de Lifting do Coração o filme emocionante que é, entre seus tangos dançados desajeita e fogosamente e sua atenção a pequenos detalhes do cotidiano entre casais. Se o jovem cinema cheio de poesia e humor agora encontra a maturidade, vale notar que esta maturidade chega com o sabor dos bons vinhos, da boa vida que se pode viver. Os personagens de Subiela conseguem unir o desejo de ter a liberdade da poesia e o prazer de aproveitar a segurança da prosa cotidiana. Eles partilham conosco suas emoções e sonhos, suas fragilidades e escolhas. Desse modo, através da sua forma narrativa e da sua trama, Lifting do Coração, como seus personagens, mostra-se cheio de desejos, conjugando o sonho e a estabilidade, a paixão poética e o amor da maturidade.

Daniel Caetano