DIA DE MOSTRA
Diário de bordo dos editores na Mostra de São Paulo

Comentários, perguntas, dúvidas?
Mande e-mail para info@contracampo.com.br

Quarta-feira, 1º de novembro de 2006
Ontem foi dia de escrever texto sobre o melhor filme da Mostra para mim: Síndromes e um Século. O melhor filme que vi em 2006, para dizer a verdade, ao lado de Juventude em Marcha de Pedro Costa. Duas estéticas igualmente deslumbrantes, dois sentimentos de estrangeirismo perante uma obra. Em Pedro Costa uma relação mais pesada com o tempo, uma dureza do espaço, uma desafiadora reinvenção das formas geométricas. Em Joe uma leveza total, uma volatização do espaço. Em ambos uma colocação dos corpos no espaço de modo tal que eles parecem simultaneamente vegetar o plano, como plantas ou estátuas, transbordar de vida e, por contraditório que possa ser, de uma hora para outra serem transformados pela luz do filme em fantasmas. Para pôr fim as comparações: dois belíssimos estudos de espaço, dois brancos estourados (no hospital em Síndromes e no prédio popular em Juventude) que cegam e fazem siderar. Mas essa dupla de filmes foi atração de segunda (quer dizer, eu não revi Juventude em Marcha, visto duas vezes no Rio, mas o simples fato de um filme ter sido exibido no mesmo dia logo após o outro, e de alguns amigos terem embarcado nessa aventura que deve ter sido inesquecível, já me obrigou às comparações acima). Vamos falar de ontem: vi o filme do Jia Zhang-ke. Não o Still Life, que novamente lotou, e novamente foi projetado toscamente, pelo que sei. Falo de Dong. Belo filme, com momentos impressionantes. Jia documentando não é tão diferente de Jia ficcionalizando: planos compostos com precisão, movimentos de câmera complexos em meio a situações ainda mais complexas (o enterro do pedreiro morto, por exemplo). O pintor se constrói como personagem ao mesmo tempo em que seu processo de trabalho se descortina frente à câmera. E o espaço, e as pessoas que ele pinta, tudo se mostra com um frescor absoluto. Um filme meio cru, como se fosse uma pintura com a tinta ainda fresca. A projeção? Janela errada, imagem ligeiramente deformada, definição ridícula. Ah se o Jia souber o que estão fazendo com os filmes dele por aqui... E no diário de segunda eu falava de dar uma chance a um cineasta não tão querido. Pois bem: gostei de O Sol, de Aleksandr Sokurov. De algumas cenas em particular, gostei fortemente. O filme em que ele melhor agrupou suas propostas com a História e com a Imagem (duas questões maiúsculas em seu cinema). E encerro esta página do diário por aqui, aliás, porque preciso escrever sobre O Sol. (LCOJr.)

Terça-feira, 31 de outubro de 2006
Black Dice e The Bad Plus quebraram tudo, Caetano Veloso tocou seu disco novo inteiro e emendou bis com "You Don't Know Me", "Como 2 e 2" e "Nine Out of Ten" (salivaram, hein?), e nos outros palcos todos saíam deslumbrados com Ahmad Jamal, Herbie Hancock, DJ Shadow e Beastie Boys. Melhor dia disparado do Tim, e a prova viva de que não é pelo numero de Yeah que se tem atitude e música nas veias. Dava dó de não ter o dom da ubiqüidade para estar nos três espaços ao mesmo tempo. E Black Dice, quem entendeu, entendeu. Quem não, moscou. Sibéria neles. Alô Jairo. Primeiro filme da volta: O Livro Multicolorido de Karnak ao meio-dia e meia? Alô Paolo. Tentamos, mas não conseguimos. Fica pra próxima. Uma da tarde na rodoviária (é, a Itapemirim não é lá muito rápida), passar na adorável casa de Keu Maria, Marina e Maria Clara (os alôs chegam na Espanha?) para reaver credencial e ingressos, além de dar um oi em Júnior e Leo, e fazer atualizações dessa revista, colocando o parágrafo do diário de ontem. Apesar dos testemunhos em contrário, dei um alô para os bebês da casa, que se engalfinhavam e estavam a descobrir que não conseguem subir pelas paredes. Ainda. Vai saber. Primeiro filme do dia acabou sendo Leonard Cohen – I'm Your Man, filme que só vale pelos depoimentos de LC e por algumas das apresentações, com destaque para Antony (sem os Johnsons) e Nick Cave. O resto das opções expressivas é sofrível, e tem horas que a gente acha que o filme é sobre a visão que os mequetrefes do U2 têm de Leonard Cohen, e não sobre o próprio. Vários frufrus e perfumaria de mau gosto. Expedito, visto em seguida, também se articula muito mal como documentário. Quem não acompanhou nos jornais a história de Expedito Ribeiro de Souza, sindicalista morto a mando de latifundiários truculentos (oops, redundância?), viu a primeira metade do filme crendo que se tratava de um documentário sobre um poeta popular e nada além disso. Musiquinha genérica, opções narrativas questionáveis – por que enfatizar por tanto tempo o périplo da família até o Pará? –, repetições de choros e dos dados utilizados para a caracterização de Expedito. Dá a sensação que havia um belo filme por fazer, perdido no meio de tão pouca confiança no cinema para criar um mundo que vá além das informações dos depoimentos. Dia Noite Dia Noite tenta dar uma urgência dardenniana à intriga de uma menina-bomba, mas é incrivelmente insuficiente em seus esforços para entrar na mente de sua protagonista e acaba psicologizante na pior acepção do termo. Electroma? BUUUM. Bomba do festival. Ganha um prêmio a pessoa que me disser um efeito que ultrapasse o óbvio. Quem salva o dia, como era de se esperar, é Apichatpong Weerasethakul, esse sim um sujeito que nos entrega imagens evocativas, bárbaras, mais uma vez desfolhando as infinitas possibilidades de fazer uma história brotar dali de onde ela parecia impossível. Um filme sobre um hospital. E muito mais. Planos para ficar guardados, revolvendo em nossa mente e em nossos corações. Um gênio, mas quem ainda não sabia disso? Por favor, preciso urgentemente ver Síndromes e um Século de novo. Repescagem? (RG)

Segunda-feira, 30 de outubro de 2006
A Mostra começou um pouco mais tarde para mim, pois só pude chegar a São Paulo no sábado. Por sorte, a programação acabou sendo generosa, e, à exceção de Mary do Ferrara, todos os outros filmes que eu julgava imperdíveis passam nesta segunda semana. Exemplos: Belle Toujours, do Oliveira, e Síndromes e um Século, do Apichatpong Weerasethakul, vistos respectivamente sábado e domingo. Sobre Belle Toujours, sinceramente acho um dos melhores filmes que o Oliveira fez nos últimos anos. É a intriga enigmática de O Princípio da Incerteza misturada com o desejo de captar puros fenômenos luminosos de O Pintor e a Cidade, por mais que sejam filmes distantes na filmografia de Oliveira e aparentemente tão distintos em termos e proposições estéticas. Depois do filme, vi também o documentário-pérola em que o diretor e sua co-roteirista de longa data, Agustina Bessa-Luís, conversam sobre tudo. Agustina, aliás, é uma das figuras mais carismáticas que vejo no cinema em muito tempo. Ontem, após “apelar” e trocar o filme argentino Pura Sangre por Pintar ou Fazer Amor, belo filme dos irmãos Larrieu já em cartaz aqui em SP, foi a vez de assistir ao novo trabalho do nosso querido Joe. Quem pensou que, porque havia visto seus três longas anteriores, já conhecia algo do cineasta, já podia antever alguns de seus movimentos, enganou-se feio: Síndromes e um Século abusa do direito de impressionar por sua total ausência de previsibilidade. Um filme ao mesmo tempo mais doce e mais misterioso que os anteriores. A “quebra” em duas partes, desta vez, possui um trabalho mais fino com a variação de espaço, propõe relações mais difíceis. À pergunta “O que fazer hoje?”, o filme de Joe já tinha respondido ontem, assim que terminaram os créditos: rever Síndromes e um Século às 18:10. Antes disso, conferir o último filme de um cineasta bem menos querido, mas que ainda merece atenção: O Sol, de Sokurov. (LCOJr.)

Domingo, 29 de outubro de 2006
Hoje é meu último dia no Rio, Black Dice na cabeça, Caetano de Brinde, "Quedate luna" de lembrança como primeira música do show de Devendra Banhart, "Quedate Lula" como gesto em prol da democracia brasileira nas urnas. Mas acabou a encheção de lingüiça e não tenho mais comentários de filmes, de livros, de nada mais relativo à Mostra para fazer. Seria um dia vazio caso não tivesse havido na Mostra um acontecimento lamentável, abaixo relatado por Rodrigo de Oliveira. É impressionante o descuido e o pouco caso com o espectador. Segue o protesto:

Quando ouvíamos falar de “problemas de projeção” na Mostra desse ano, nada nos preparava para o absurdo da sessão de ontem à noite do aguardadíssimo Still Life, de Jia Zhangke. Não um “problema”. Simplesmente não houve projeção, ou pelo menos não dentro daquilo que entendemos por isso. Começa o filme, exibição digital em janela 4x3 (1:1,33). Nada tão estranho, já que tínhamos notícia que o filme fora captado nessa mídia, e que a janela quadrada podia mesmo ser uma opção. Mas os personagens espremidos na tela provam que a janela de exibição está errada. Só depois de 40 minutos – sim, 40 minutos – a tela é colocada em seu formato real, no digital 16x9. E se só fosse um problema de formato, ainda estaríamos bem. As conversas com os amigos no fim da sessão foram unânimes em apontar esta como a pior projeção em digital já vista por todos ali. Linhas horizontais aparentes, pixelização, falta de foco, problemas de sincronização do som, falta de contraste, como se fosse uma cópia ruim baixada da Internet. Um desastre absoluto, crime que torna a experiência de Still Life um confronto permanente entre o que o filme deveria ser por debaixo daquela plástica horrorosa e o que de fato a projeção nos oferece (ou deixa de oferecer). Muitos não conseguem entrar no filme por causa disso, muitos desmarcam as próximas revisões já programadas (e compradas), muitos sentem que ainda não podem dar como visto o filme de Jia Zhangke. Porque não o vimos, definitivamente. O amigo Cléber Eduardo, no fim da sessão, sobe à cabine e pergunta ao projecionista em que mídia havia sido exibido Still Life, e então a confirmação: a cópia está sendo exibida a partir de uma fitinha DV-Cam. As implicações deste crime cometido pela organização da Mostra são inúmeras. Sem aviso nenhum que a projeção seria digital, nem muito menos que seria exibida a partir de uma mídia primária, e sem vontade de dar muitas explicações ao público que pagou ingresso integral para assistir uma projeção de nível colegial, a Mostra confirma e abusa do descuido percebido já em outras sessões. O pior é que, no meio disso, perde-se uma coisa valiosíssima: a sensação da primeira exibição de um filme de Jia Zhangke, comentadas sempre entre os amigos (ontem mesmo conversávamos longamente sobre essa sensação, ao ver O Mundo pela primeira vez, e como isso foi o bastante para estabelecer o filme em nossas memórias permanentemente). Havia um grande filme ali por trás, que a Mostra não nos deixou experimentar, eventualmente até incompatibilizando nossas afetividades em relação ao que foi visto. E assim, Still Life, aquele pensado pelo diretor, aquele vencedor de Veneza, aquele até já comprado por uma distribuidora brasileira (que, a partir de agora, já nos coloca em dúvida sobre que tipo de cópia exibirão), bem, Still Life segue inédito por aqui. (Rodrigo de Oliveira)

Sábado, 28 de outubro de 2006
Leituras, leituras, leituras. No lounge da Mostra – que tiveram a má idéia de transportar para um lugar que, por não ser de passagem, não vai ninguém a não ser convidados, amigos, parentes ou raros interessados –, tem duas bancas de editoras, uma da Cosac & Naify e outra da Imprensa Oficial. Como os da C&N é preciso reestruturar a economia familiar para adquirir, me contentei em fazer a festa com alguns livros da coleção Aplauso, que custam a mísera quantia de R$9 (é, isso mesmo, nove merréis) e oferecem roteiros cinematográficos, biografias de atores e diretores brasileiros, coletâneas de críticas cinematográficas e teatrais, etc. Eu já vinha procurando um livro especificamente, Críticas de Invenção, compilação feita por Alessandro Gamo do período em que Jairo Ferreira ocupou a coluna de cinema do São Paulo Shimbun, jornal da colônia japonesa da cidade de garoa. Resultado: vício completo, já estou quase no final, e é impossível não se contaminar por uma prosa que parece brotar inteira de uma forma de vida, de uma relação com cinema que rasga todas as amarras mais convencionais da avaliação, da imparcialidade, e faz do cinema uma continuação da própria vida, uma espécie de contato com outra instância de si mesmo, ora estimulante – os bons filmes, os filmes que aumentam a vibração – ora desgastantes – os filmes sem criatividade, os abacaxis chatíssimos e repetitivos. A coerência é apenas com o mood em que se está: assim, um delicioso texto malhando Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela, chamando o filme de filme mais chato do mais chato dos cineastas. Mas o mais chato dos cineastas também teve lançado naquele ano – 1970! – Week-End à Francesa, que caiu nas graças do guri/guru Jairo. Elogios rasgados aos filmes dos amigos, com uma graça e uma parcialidade elegante que faz muita falta nas brodagens babaquaras de hoje em dia. Imaginamos o que JF estaria assistindo hoje, que polêmicas estaria criando, que filmes estaria incensando enquanto toda a crítica moscaria, apalermada, ou que filmes intocáveis desbancaria por sua caretice, chatice, preguiça, redundância. OK, os tempos são outros, Jairo Ferreira é um filho legítimo do desbunde e do bode da passagem dos anos 60 para os 70, Gênio porraloca que sempre acreditou que tudo comunicava, que a escrita era um modo de vida, com um texto que fluía liberdade, gozo, impertinência rebelde, petulância juvenil, carinho, alegria de viver. Como Galvão nos Novos Baianos ou Torquato Neto, que também tinha lá sua coluna jornalística. Hoje é dia de Patti Smith. Acho que JF gostaria. Então esse "Dia de Mostra" é dedicado a ele. Aproveitando que do lado da minha cama tenho a maior locadora do mundo, uma tal de mula eletrônica, vi Lo sguardo in ascolto, documentário de 45 minutos sobre Vittorio de Seta, que é homenageado na Mostra. Força enorme das imagens nos clips de seus filmes que passaram, sobretudo os curtas documentais que, como os de Valerio Zurlini vistos há algumas mostras atrás, funcionam acima de tudo pelo ritmo e pela estrutura, pela composição e pela atmosfera criada. Grande parte do filme é dedicada a esses documentários e a Banditi a Orgosolo (1961), que é colocado pelo crítico/entrevistador como pertencendo à primeira linha da renovação do cinema italiano no período 59-62. Quais os outros filmes do período que são mencionados? Accatone, primeirão de Pasolini, A Doce Vida de Fellini, A Aventura de Antonioni, Rocco e seus Irmãos de Visconti. Dá água na boca, não? Então, atenção, pois Banditi a Orgosolo só passa mais uma vez, na terça-feira, às 14:00 no Espaço Unibanco 1. É o jeito. E olha que eu corri para ver o filme na Sala UOL no primeiro dia da Mostra, mas havia um atraso de hora e meia que acabaria com o meu dia... (RG)

Sexta-feira, 27 de outubro de 2006
Ontem foi o primeiro dia de exibição pra o público de Belle Toujours – Sempre Bela, de Manoel de Oliveira. Estou no Rio desde ontem a trabalho e para ver os shows do Tim Festival, mas vi o filme na cabine de imprensa e trata-se simplesmente de uma obra-prima, de uma pequena jóia. Pequena jóia não pela grandeza, que é colossal, mas pela delicadeza com que constrói cada coisa, sintético, preciso, com um requintado sabor da curiosidade impertinente e dos doces prazeres da idade avançada. Manoel de Oliveira é um desses grandes gigantes cinematográficos, como Dreyer, como Ozu, que encontraram a limpidez de uma forma que agrega o mundo e não se fecha sobre si mesma. Belle Toujours não é um exercício de metacinema a partir do filme de Buñuel, apesar de alguns momentos de homenagem. É mais uma incorporação, uma apropriação que permite um novo arranjo. Mas isso vamos deixar para o texto sobre o filme. Sexta-feira, então, dia de férias? Nada disso. Aproveitar para fazer sua Mostra particular. E na minha Mostra, tem Hong Sang-Soo, o cineasta decisivo do cinema contemporâneo que jamais foi exibido publicamente em película no Brasil. Falamos sobre ele há exato um ano, deplorando o fato de que nossos festivais internacionais sempre fecharam os olhos para esse cinema extremamente pessoal do melhor cineasta coreano da nova geração (enquanto, claro, os péssimos filmes de Kim Ki-Duk são exibidos até no circuito comercial). Mulher na Praia, seu mais recente filme estreado no último Festival de Toronto, é um novo mergulho no universo de obsessões masculinas, nos pequenos jogos de poder, nas situações de amor não-correspondido e nas relações de espelho que criam repetições ao mesmo tempo ternas e hilárias. Temos aqui um cineasta que sabe dosar com muita astúcia o drama sentimental e a comédia que brota do inusitado das situações, jogando o jogo das caricaturas e ao mesmo tempo criando uma densidade na caracterização dos personagens que é única no cinema contemporâneo. Mais uma vez temos os personagens variando entre os cenários da rua, do restaurante e dos quartos de hotel, mas aqui os efeitos de dobra da narrativa sobre si mesma se escalonam em pequenas micro-intrigas ao invés de quebrar o filme em dois – como em Conto de Cinema, O Poder da Provícia de Kangwon e A Virgem Desnudada por Seus Celibatários. O pathos é trabalhado tanto no sentido do ridículo das situações – como o triângulo desenhado pelo cineasta Kim que produz uma imagem fixa de ciúme obsessivo não muito longe daquela dos personagens buñuelianos de El e Ensaio de um Crime – quanto na pungência que certos sentimentos evocam, humanos demasiado humanos. Hong Sang-Soo gosta de montar seus filmes como doces laboratórios do sentimento humano, jogos de tabuleiro, teatrinhos de cartas marcadas, mas é em todo caso uma relação honesta, onde o ridículo e o sincero de cada um são faces complementares da mesma moeda da vida cotidiana. Truffaut com Imamura, Rohmer com Buñuel, o cinema de Hong Sang-Soo sempre apresenta facetas novas mesmo na repetição, e seduz tanto pela riqueza de caracterização quanto pela ligeireza da armação ficcional toda. Tomara que algum iluminado perceba, mesmo tardiamente, a importância dos filmes de Hong e o exiba o quanto antes no país. Retrospectiva seria pedir muito? Em seguida, já que é maratona, vemos A Promessa, de Chen Kaige, filme estranho, barroco, desarranjado mas ligeiramente sedutor em sua falta de jeito. Espalhafato total, falta de ritmo, montagem desajeitada, falta de talento nas cenas de ação, mas ao mesmo tempo um charme kitsch das cores aberrantes, uma imponência das cenas estáticas e até de vez em quando alguns planos bem bonitos. Se em nenhum momento chega a Tsui Hark – muito longe disso, aliás –, o filme ao menos tem uma certa loucura em sua forma que permite uma fruição menos esquemática e acadêmica do que as duas recentes incursões de Zhang Yimou no wuxia pien. A Promessa, então, é um bom filme, apesar do que falaram todos aqueles que o viram no Festival do Rio? Não chega a tanto, mas ao menos tem seu pequeno charme. Mas agora é hora do cinema dar um passinho para trás e ceder o lugar à música, porque é o momento de nos deixarmos inebriar por Devendra Banhart. Até amanhã. (RG)

Quinta-feira, 26 de outubro de 2006
Dia promissor, com filmes premiados, autores de renome, recomendações fortes dos amigos e da imprensa internacional mais interessante. E qual não é a surpresa quando, dos quatro vistos no dia, nenhum seduz inteiramente? Pior: quando as maiores expectativas decepcionam? Foi a história do meu dia 25, ou de como entrei num CineSesc lotado em cima da hora, achei um lugar na segunda fila perto do centro (para mim, um ótimo lugar) e esperei ser seduzido pelas imagens de Fica Comigo, filme cingalês de Eric Khoo que foi oitavo lugar na votação 2005 de melhores do ano dos Cahiers du Cinéma. Não que o filme seja sem interesse, mas sua sensibilidade é aquela mesma das pequenas coisas e uma certa bizarrice formal apenas para dar o gostinho que fazem a tônica do cinema independente americano mais redundante e desinteressante. O que une as histórias separadas do filme é um certo sentimentalismo da solidão, da necessidade de encontrar alguém, do amor impossível ou não-compreendido. O filme alterna as intrigas de forma meio desajeitada, desregulada, e na hora que decide unir apela para um momento digno de um Kim Ki-Duk ou de um González Iñárritu: um encontro de acasos que resulta numa tragicômica conseqüência improvável. O mutismo dos personagens e os silêncios forçados representam hoje alguns dos tiques mais desagradáveis do cinema de autor contemporâneo. Falando nisso, o filme de Tsai Ming-liang, que vi no mesmo CineSesc lotado, mesma segunda fileira à direita olhando para a tela, perto da fileira central, teve um resultado semelhante sobre mim. Com a diferença, naturalmente, que Tsai é um verdadeiro mestre no que faz e consegue fazer planos deslumbrantes, criando uma geometria complexa dentro do plano, Mas admito que vejo tudo isso com distância, quase com indiferença. Em Eu Não Quero Dormir Sozinho, percebe-se um cineasta um tanto assoberbado, dominado pelo próprio perfeccionismo que desertifica cada vez mais seus filmes, fazendo delas obras perfeitas em si, mas tão fechadas sobre si mesmas e imponentes pela rigidez formal instauradas que o pastiche de si mesmo bate à porta. Dou a dica: as futuras gerações terão tanta dificuldade de entender por que gostamos (ou por que vocês gostam, tirem-me dessa!) de Tsai Ming-liang quanto as novas gerações dessa década não conseguem compreender por que Peter Greenaway já foi incensado. A trajetória é a mesma: alguém com um estilo claramente diferenciado dos outros e um certo vigor aparece e começa a adensar sua obra e depurá-la até o excesso estéril, meta-acadêmico. Entre os dois, vi Notícias do Lar/Notícias de Casa, documentário de Amos Gitai que retoma uma mesma casa já filmadahá vários anos e tenta, como ele mesmo fala em voz off, adicionar mais uma camada histórica e tentar refletir, através das gerações que passaram por esta casa, as tensões entre palestinos e israelenses. Competente, bem pensado, friamente emotivo (como tudo dele), mas não me toca o coração. Por fim, meu preferido do dia, Honor de cavalleria, filme catalão de Albert Serra. É longe de ser o filme perfeito. Na verdade, enche o saco em algums momentos. Mas vê-se nele um filme que busca por sua forma, ao invés de tê-la encontrado de antemão, procura na penumbra, no quase zero de luz, na harmonia delicada da luz uma certa beleza mas não depende só dela para repetidamente produzir seus planos. Ademais, a idéia de dramatizar as figuras de Dom Quixote e Sancho Pança como figuras beckettianas é bem interessante, fazendo o filme remeter a Gerry de Gus Van Sant e simultaneamente ao cinema de Sokurov. Mas os planos de câmera na mão, geralmente closes nos rostos dos protagonistas, tornam a receita mais complexa e indefinível. Honor de cavalleria é certamente um filme imperfeito, ou em todo caso mais imperfeito que Eu Não Quero Dormir Sozinho. Mas existe nele uma vitalidade, uma indeterminação, um sentimento de que não temos as regras todas prontas desde o início de partida que me cativa e estimula muito mais, sem a menor dúvida. (RG)

Quarta-feira, 25 de outubro de 2006
O leitor Júlio Gomes elogia a nossa cobertura e pede para avisarmos também da qualidade das cópias de filmes nas retrospectivas. Ele fala de duas experiências traumáticas, uma com Sob o Signo do Escorpião, dos irmãos Taviani, e outra com O Padre e a Moça de Joaquim Pedro de Andrade. Bom, dos filmes de JPA eu só ouvi elogios acerca da qualidade da restauração digital, mas não sei de alguém que tenha visto especificamente O Padre e a Moça. Quanto à exibição de Sob o Signo de Escorpião, trata-se certamente do mico da mostra até agora, chegando ao Brasil descolorida, cheia de riscos e com partes faltando. Eu mesmo não assisti mas presenciei a debandada quando saía da também traumática exibição de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (ver mais detalhes no relato de 22-23 de outubro) e conversava, junto com alguns amigos, com Andrea Tonacci, que esperava a sessão de seu magnífico Serras da Desordem acabar. Saía-se em cachoeiras do filme dos Taviani. Quem ficou até o final, pelo que eu soube, ao menos teve seu ingresso devolvido. Ontem, mais uma gracinha vinda do Arteplex: em El cobrador, atraso de mais de meia-hora para fazer funcionar a projeção digital da Rain –; a mesma tecnologia recusada por Ingmar Bergman que ocasionou o não-lançamento de Sarabanda nos cinemas brasileiros. Quando o filme finalmente começa a passar, vemos a imagem claramente verticalizada e faltando as parte superior e inferior da tela, cortando algumas cabeças e a últimas linhas das legendas em inglês da cópia. Trabalho de porco. Antes disso, no entanto, só felicidades –; e projeções sem acidentes. O primeiro do dia foi o belo Conversas no Porto –; Manoel de Oliveira e Agustina Bessa-Luís, Dezembro 2005, que é basicamente o que o título diz, com o cineasta e a romancista debatendo o processo criativo e as relações das artes entre si, cinema, literatura, prosa, poesia, música. Uma verdadeira lição de artistas rigorosos, que refletem intensamente a arte que fazem. Pessoalmente, deu para matar as saudades da entrevista que fiz com Oliveira nessa mesma Mostra há dois anos. Planos fixos dos dois conversando, sempre na mesma posição, e imagens estáticas de paisagens do Porto, mar, monumentos. Em seguida, Mudança de Endereço, doce e belo filme de Emmanuel Mouret, comédia indie sobre indefinições sentimentais, amores não-correspondidos e procura do par perfeito. Comédia de situações em que o humor reside nos olhares, nos pequenos gestos, no ligeiro desconforto de certos momentos, na dificuldade de se expressar o que se sente, na indefinição dos comportamentos. Comédia minimalista e ligeira, Mudança de Endereço desce deliciosamente e consegue extrair graça das pequenas situações sem incorrer nas repetições sem graça ou nos lugares-comuns que abundam em comédias indies recentes como 12:08 a Leste de Bucareste ou Pequena Miss Sunshine. O filme lembra tanto o Truffaut dos jovens adultos meio desajeitados (Beijos Proibidos, Domicílio Conjugal) quanto as mais ligeiras comédias rohmerianas, sendo que a caracterização brinca um pouco com o caricato à maneira de Ozon em Gotas d'Água em Pedras Escaldantes ou Sitcom. Atenção para as atuações, em especial a da atriz Frédérique Bel, parente próxima de uma Lisa Kudrow (mais conhecida como a Phoebe de Friends), e para a beleza estonteante de Fanny Valette, até agora a minha musa da Mostra. Em diário a gente pode ser um pouquinho trivial, né? Em seguida, Sonhos de Peixe, filme brasileiro-russo-americano rodado no Rio Grande do Norte pelo cineasta russo Kirill Mikhanovsky, a meio caminho entre a ficção com não-atores de comunidade de pescadores de um La terra trema e a apreensão sensualista de uma Claire Denis. O filme tem suas irregularidades narrativas e umas ênfases meio desnecessárias, mas os momentos de intensa beleza das situações e das imagens excedem em muito os pecadilhos do filme. Alguém aí falou "vitalidade do cinema brasileiro"? (RG)

Terça-feira, 24 de outubro de 2006
Vitalidade do cinema brasileiro? Sem dúvida, e a Folha de hoje fala da "puta safra". Ainda que as reações sejam controversas no seio da redação, Proibido Proibir se insere perfeitamente entre os vigorosos filmes de que falávamos ontem. É um filme que capta um momento, um sentimento de país com a pungência de poucos (não à toa, O Invasor de Beto Brant está no cartaz da casa dos protagonistas, como espécie de homenagem e até mesmo inspiração). Proibido Proibir enfoca a vida de três jovens universitários, dois rapazes e uma moça. E, ainda que a tentação de criar um triângulo amoroso seja grande, o filme ultrapassa essa intriga mais romanesca e se instala num impasse, numa dificuldade, nesse momento específico de uma certa juventude que, ao mesmo tempo que descobre a possibilidade de mudança provocada pelo ensino e pela inserção profissional na sociedade, vive o trauma de perceber pela pior maneira que as diferenças sociais e humanas estão ancoradas em raízes muito mais profundas e que efetivar a mudança através do voluntarismo, de puros atos de boa vontade, pode ter conseqüências terríveis. O que aconteceria aos personagens de Os Sonhadores de Bertolucci se, ao invés de se fecharem no mundo do cinema, eles tentassem se abrir à realidade social brasileira? A essa pergunta responde Jorge Durán, num filme cujo sentimento excede em muito as inúmeras deficiências de acabamento (montagem e fluidez narrativa, sobretudo). Infelizmente, não poderemos tecer elogios ao segundo longa-metragem de José Araújo, As Tentações do Irmão Sebastião. Poderíamos ver o filme como uma mistura entre Bocage, A Idade da Terra e O Veneno da Madrugada, em que infelizmente prevalece a plasticidade bonita mas meio vazia do primeiro e a sensação de cinema de aquário do terceiro, sem nada da força de improviso e de aventura do segundo. É com extrema pena que dizemos isso, porque O Sertão das Memórias, seu primeiro longa, nos seduzia imensamente por seu rigor e por sua tresloucada proposta. Tresloucada proposta temos em As Tentações do Irmão Sebastião, mas na chave de um samba do crioulo doido, de um vale tudo entrópico em que o talento de José Araújo não consegue fazer converter em vigor na tela. Assistimos ao filme, em suas 2h27min, como alguém que vê um desfile macabro de imagens aleatórias e fechadas sobre si mesmas. De Brilhante, de Conceição Senna, também não poderemos falar na chave de vitalidade nem de rigor. Se a proposta é sedutora –; voltar à cidade em que seu marido, Orlando Senna, dirigiu o longa Diamante Bruto, e ver quais foram as mudanças ocorridas na cidade de Lençóis, Bahia, onde o filme foi filmado, e como a lembrança do filme resiste na memória dos habitantes –;, o encadeamento das situações é muito tênue, e não existe uma estrutura forte de montagem para passar de um tema a outro, dando a sensação de que temos dois filmes, um possível extra de DVD e um pseudodialético estudo das contradições sociais de uma cidade que viveu seus dias de garimpo e hoje vive sob a égide avassaladora do ecoturismo, marginalizando os antigos moradores ou levando-os à miséria. Por fim, It's Winter de Rafi Pitts, interessante, simpático, doce, mas é só. (RG)

Domingo, 22, e Segunda, 23 de outubro de 2006
Longe de casa, maiores complicações, sempre mais difícil de achar tempo para atualizar as partes da revista, mais ainda para escrever. Mas aqui estamos nós, para variar com um prazo muito estrito, mas é dessa correria que se faz a graça de uma mostra de cinema. Até aqui, uma mostra que revela belos filmes, algumas surpresas boas e algumas ruins. Na parte das ruins, temos um cuidado cada vez menos apurado com a projeção. No Reserva Cultural 2, por exemplo, as fontes intensas de luz branca são acompanhadas de um estrelamento involuntário que faz parecer que todo filme é O Desespero de Veronika Voss. Na projeção de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias às 19:20 de domingo no Arteplex, desastre total: à esquerda da tela, fuga total de foco, e na lateral inferior direita, mesma coisa. Para piorar, em dois momentos a perda de foco foi total, e só tinha projecionista para corrigir quando algum espectador indignado dignava-se a sair da sala para reclamar. Pelo visto, a rede transestadual que surgiu como opção diferenciada de programação anda muito mais pra plex do que para arte, seja na seleção dos lançamentos, seja nos maus tratos aos olhos do espectador. O subgerente era simpático, respondeu com elegância e educação, mas decidiu safar a casa culpando a cópia. Coisa feia. E aí, distribuidores e produtores de O Ano em Que Meus Pais...: sabiam que vocês, segundo uns e outros, andam mandando cópias defeituosas para festivais? Alguns reclamam da luminosidade fraca da projeção do CineSesc, mas nas duas sessões que eu vi, não tive nenhum problema desse tipo. Quanto aos filmes, gostei um bocado de Sonhos Com Shangai, que, confesso, não assisti no Rio por causa de um péssimo boca-a-boca entre os colegas redatores. Mas Luísa gostou e estou em ótima companhia. Gostei um bocado, também, de dois filmes que foram exibidos no Rio e eu não consegui horários para ver, Anche libero va bene (tradução: "Líbero também é legal", líbero sendo a posição no futebol; porquíssima tradução no Rio como Estamos Bem Mesmo Sem Você, mesmo porque o filme não é nada disso) e Os 12 Trabalhos, de Ricardo Elias. Vendo esse último, e tendo visto ontem O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hambuerger, vem a forte impressão de que estamos diante de uma excelente safra que, se não rendeu uma grande obra-prima (Serras da Desordem chega quase lá), mostra uma numerosa oferta de títulos dignos e talentosos, o que, convenhamos, é bem incomum em nossa produção de um filme bom para muitas porcarias. Que ano recente pode competir com a oferta de O Céu de Suely, Antônia, Pro Dia Nascer Feliz (mesmo com suas fraquezas), Atos dos Homens e os anteriormente listados? Proibido Proibir, também muito bem falado por colegas, eu vejo hoje. Pauta a seguir: "Vitalidade do cinema brasileiro"? Mary foi visto de novo e o resultado pode ser conferido no texto presente na página inicial da cobertura da Mostra. No mais, Russell Crowe em Um Bom Ano mostra-se tão sensacional como comediante quanto Thiago Lacerda em Muito Gelo e Dois Dedos d'Água. Eu indicaria ambos ao Troféu Cigano Igor de melhor interpretação hilariante. Ridley Scott mostra que sua sutileza para o timing da comédia é inversamente proporcional ao barulho que fazem as espadas em Gladiador. Deus me livre. Um documentário para terminar o dia de sábado, Os Estados Unidos Contra John Lennon, simpático pelas cenas pouco conhecidas de depoimentos de John Lennon, redundante na trajetória do ex-beatle e muito convencional e chovendo no molhado nos depoimentos de figuras importantes. Yoko Ono, ao contrário, é deusa. Falaremos mais sobre o filme em outra oportunidade. Por fim, fechando o domingo vi Nosso Amor do Passado, outra tradução terrível do título (original: Conversations with Other Women), mas pelo menos o filme é interessante. Quer dizer, interessante até um certo ponto. Ex-casal se reencontra depois de anos num casamento, ela casada na Inglaterra, ele namorando nos EUA, a atração é irrefreável, eles vão para cama e ficam o tempo inteiro conversando sobre suas vidas e sobre a possibilidade de continuar juntos. Na imagem, tela dividida em duas, espécie de Time Code mais discreto. Espertinho e nada mais, o filme funciona um pouco até a cena, mal-filmadíssima, da trepada entre os dois. Com o fim da tensão sexual, acaba a graça e o constrangimento é tão grande quanto se estivéssemos nós mesmos vendo, como terceira pessoa involuntária, uma discussão de relacionamento entre quatro paredes. Ao menos vendo o filme aprendemos que, depois da transa, ou damos uma segunda ou vamos dormir diretamente. Tititi não dá. Ah, claro! De Punhos Cerrados, primeiro longa-metragem de Marco Bellocchio, inaugurou o sábado, na ótima projeção da Sala UOL. Mas, até um segundo momento, sobre ele calaremos. Fiquem com a fotinho que ilustra o dia. (RG)

Sábado, 21 de outubro de 2006
Começo sempre tortuoso de Mostra. Chega-se de mala, mochila, vai, faz credenciamento, busca lugar para deixar a mala em algum momento do caminho, vai-se de sala em sala. A Scanner Darkly? Esgotado. Banditi a Orgosolo? Sessão atrasada por conta do filme anterior, que teve problemas na legendagem e atrasou 1h20. Meu dia é, então, inteiramente reconfigurado e começo minha Mostra vendo Os Subversivos, primeiro longa-metragem assinado apenas pelos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, e o filme encanta apenas em partes. A solenidade pesada do cinema deles já estava lá, mas brigando com algumas seqüências de montagem da vida da cidade que fazem lembrar algumas coisas da nouvelle vague, com a influência de Godard –; cenas do final de Pierrot le fou, que um dos personagens vai ver no cinema –; e de alguma forma alinhadas com o espírito do cinema italiano do período (pensamos em Bellocchio, Bertolucci, Pasolini). De subversivo, mesmo, só o título. Em seguida, Climates, do turco Nuri Bilge Ceylan, que fascina um monte de gente, mas a mim não cria a menor convulsão estética. É claro que ele sabe o que faz, e alguns planos têm uma força plástica bem precisa, mas no geral o filme funciona naquela velha gramática do cinema de autor que está bem batida: longos tempos mortos no começo e no início do plano, clima generalizado de mal-estar e falta do que fazer que passa direto ao espectador, tema do casal que não cosnegue viver junto nem separado. O mínimo a dizer é que no Rio de Janeiro vimos Um Casal Perfeito, e na comparação do tratamento Nobuhiro Suwa dá de dez. Em seguida, mais para preencher horário, vejo o documentário Uma Verdade Inconveniente, interessante de se ver (mais sobre ele na crítica já publicada), mas nada além disso. Fecho o dia com Mary, de Abel Ferrara. O leitor que me desculpe, mas antes de falar qualquer coisa do filme –; que, adianto, não coloco entre os meus Ferrara preferidos –;, preciso vê-lo de novo. Não são muitos os filmes que pedem uma atenção desse tipo, não? Então aí vai o recado: vejam! E boa Mostra a todos. (RG)

 

 

 





Foto do dia (1/11):

Issey Ogata magnífico em O Sol (Aleksandr Sokurov)

Foto do dia (30/10):

Síndromes e um Século, de Apichatpong Weerasethakul

Foto do dia (28/10):

Banditi a Orgosolo, de Vittorio de Seta

Fotos do dia (27/10):

Manoel de Oliveira entre Bulle Ogier e Michel Piccoli:
um verdadeiro mestre de cerimônias, ou de rituais, em
Belle Toujours, um dos destaques da Mostra de São Paulo...


...e, na Mostra pessoal, Mulher na Praia de Hong Sang-Soo, ausência sentida no circuito brasileiro de festivais.

Foto do dia (26/10):

O cavaleiro de Cervantes e seu fiel escudeiro
em Honor de cavalleria de Albert Serra

Foto do dia (25/10):

Frédérique Bel, Emmanuel Mouret e Fanny Valette
em Mudança de Endereço de Emmanuel Mouret

Foto do dia (24/10):

Caio Blat, Maria Flor e Alexandre Rodrigues compõem
o trio de protagonistas de Proibido Proibir, de Jorge Durán

Foto do dia (22-3/10):

O divino Lou Castel em De Punhos Cerrados de Marco Bellocchio

Foto do dia (21/10):

Forest Whitaker e Heather Graham
no belíssimo Mary de Abel Ferrara