SEPARADOS PELO CASAMENTO
Peyton Reed, The Break-up, EUA, 2006

O último longa de Peyton Reed, Abaixo o Amor (Down with Love, 2003), pautava-se num diálogo com um outro modelo de produção. Um procedimento curioso que buscava homenagear o modelo hollywoodiano das décadas de 50 e 60, e seu desdobramento televisivo, e que a própria recriação visual era impregnada de criatividade e frescor. O resultado foi um filme atípico, pois não era apenas um remake ou um trabalho delimitado pelas fronteiras de seu ponto de partida, era um filme original, sincero, e sobretudo divertido.

Pouco provável que tenha sido intencional, mas Separados pelo Casamento parece tentar algo similar, mas com a sitcom. É simples: Separados pelo Casamento é um filme sem estrutura, uma colagem de sitcom mal resolvida. As situações clichês funcionam, arrancam risadas. Mas a seqüência seguinte é mais um capítulo de sitcom, e que, pela lógica interna, exigem uma constância de seus personagens. Em termos de comédia esta inconstância funciona, como se vê pelos coadjuvantes, mas o filme não se pretende apenas isto. Este é o olhar otimista. Exaltando o filme pelo seu ponto forte - que é o cômico - ofusca um pouco da falta de controle sobre as construções dramáticas do filme. Porém, Separados pelo Casamento se propõe a um fio narrativo, a uma trama tradicional. Mas cuja falta de desenvolvimento dos personagens principais resulta em sua estagnação, deixando-nos continuamente confrontados com novas situações, mas sempre dentro da mesmice. Não há novidades nem para nós, nem para os personagens. O filme apenas vaga, até o ponto de exaustão em que nem a comicidade consegue manter o ritmo ou nosso interesse.

A tag-line promocional do filme exalta: "Pick a Side", algo que poderia ser traduzido como "De que lado você fica?". Dentro do universo de filmes de casais, das comedias românticas, das screwball comedies, dos dramalhões, Separados pelo Casamento realmente começa com um bom trunfo. As primeiras brigas do casal consegue nos manter numa certa instabilidade positiva de não saber apontar quem está certo e quem está errado no conflito. São duas pessoas distintas, com suas próprias preocupações e desejos, e apesar de incompativéis, apresentam sua carga de razão. O filme mantém-se imparcial. Mas os personagens são tão fixos que a briga nunca terminará, e para definir seu fim o filme sacrificará este seu ponto mais forte. Arbitrariamente. Gary Grobowski (Vince Vaughn) será como que sacudido por seu amigo, que abrirá seu olho perante a situação. Simples assim, desafiando anos de construção dramática e cinemática, a plot point do filme será dado direta e abertamente no diálogo, e novas problematizações o permitirão seguir seu caminho regenerador.

Se Abaixo o Amor brincava e criava com o estabelecido, Separados pelo Casamento incorpora e vive nele. O filme morre sem personalidade, sem coesão, sem estrutura. Uma colagem de situações padrões, para apenas veicular a boa atuação de Vaughn e de seus coadjuvantes, mas sem força alguma para nos entreter durante 105 minutos. Quem sabe se fosse apenas meia hora.


Lucas Barbi