VERÃO NO VALE DOURADO
Srdjan Vuretic, Ljeto u zlatnoj dolini, Bósnia-Herzegovina/França/Inglaterra, 2003

O projeto do cineasta Srdjan Vuletic neste Verão no Vale Dourado é bem claro: filmar o jovem bósnio e as opções que lhe resta num país arrasado, e ao mesmo tempo fazer uma atualização de várias opções típicas do cinema do leste europeu para um público similar aos seus personagens. Ele parte de um princípio bem simples: jovem drogado perde o pai, descobre que ele tinha uma grande dívida e, para salvar sua honra, precisa pagá-la. Óbvio, se mete no crime.

Os problemas do filme de Vuletic ficam claros já na sinopse que serve de base para uma alegoria muito óbvia (a nova geração tendo que resolver os problemas da velha, idéia repetida à exaustão no filme). A mão pesada de Vuletic se mostra com freqüência ao longo do filme. Um bom exemplo disso é a cena em que dois bandidos retiram a bandeira da Bósnia e colocam no lugar uma bermuda, metáfora por si só muito clara, mas Vuletic precisa cortar para seu protagonista afirmando "a nossa bandeira virou isso mesmo". As cenas que mostram o estado de Saravejo são especialmente ruins.

Vuletic filma tudo isso buscando uma estética pop (um pouco de câmera na mão, hip hop na trilha incessante, cortes rápidos) que acaba tendo como efeito colateral retirar a urgência a que o filme aspira. Ao mesmo tempo mantém vários tiques do cinema local (personagens esquisitos, um humor que puxa para o fantástico, etc), e acaba nos deixando apenas com a trama (mais complicada do que devia ser). Em suma, se as intenções são boas, o resultado final só reforça a mão desajeitada e pesada do diretor.


Filipe Furtado