O
projeto do cineasta Srdjan Vuletic neste Verão
no Vale Dourado é bem claro: filmar o jovem
bósnio e as opções que lhe resta
num país arrasado, e ao mesmo tempo fazer uma
atualização de várias opções
típicas do cinema do leste europeu para um público
similar aos seus personagens. Ele parte de um princípio
bem simples: jovem drogado perde o pai, descobre que
ele tinha uma grande dívida e, para salvar sua
honra, precisa pagá-la. Óbvio, se mete
no crime.
Os problemas do filme de Vuletic ficam claros já
na sinopse que serve de base para uma alegoria muito
óbvia (a nova geração tendo que
resolver os problemas da velha, idéia repetida
à exaustão no filme). A mão pesada
de Vuletic se mostra com freqüência ao longo
do filme. Um bom exemplo disso é a cena em que
dois bandidos retiram a bandeira da Bósnia e
colocam no lugar uma bermuda, metáfora por si
só muito clara, mas Vuletic precisa cortar para
seu protagonista afirmando "a nossa bandeira virou isso
mesmo". As cenas que mostram o estado de Saravejo
são especialmente ruins.
Vuletic filma tudo isso buscando uma estética
pop (um pouco de câmera na mão, hip hop
na trilha incessante, cortes rápidos) que acaba
tendo como efeito colateral retirar a urgência
a que o filme aspira. Ao mesmo tempo mantém vários
tiques do cinema local (personagens esquisitos, um humor
que puxa para o fantástico, etc), e acaba nos
deixando apenas com a trama (mais complicada do que
devia ser). Em suma, se as intenções são
boas, o resultado final só reforça a mão
desajeitada e pesada do diretor.
Filipe Furtado
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