STEAMBOY
Katsuhiro Ôtomo, Steamboy, Japão, 2004

Engrenagens, máquinas, traquitanas e dispositivos físicos mirabolantes sempre foram um prato cheio para o cinema de animação, técnica/tradição cujo eixo básico de constituição se dá propriamente em uma intrínseca celebração do movimento. Steamboy, nesse sentido, acaba por não fazer nada além de dar a Ôtomo um terreno propício para o exercício de seu talento para as imagens grandiloquentes e suas paisagens pós-futuristas – numa narrativa que peca pelo excesso de pequenas reviravoltas e por uma temática e estrutura dramática mais-que-batidas.

Passado em meados do século 19, o filme fantasia a era das grandes invenções da modernidade, batendo em teclas um tanto envelhecidas, que migram entre o questionamento dos limites intrínsecos à ciência (fator também preponderante em Akira) e sua manipulação pelo grande capital emergente naquele momento histórico.

Fora o carisma curioso da personagem da jovem mimada (Sra. Scarlette – uma antagonista cheia de nuances) e a excelência técnica da animação 2D (fator cada vez mais raro diante dessa nova hegemonia do 3D), há muitos poucos pontos de interesse no filme. Do ponto de vista da construção cênica, fica patente o maior talento de Ôtomo em compor quadros fixos e decupagens estáticas (seu grande talento é o de quadrinista, vale destacar), onde personagens tencionam expressões ou atravessam a imagem (por sobre cenários de texturas belíssimas), do que quando resolve movimentar sua “câmera”.

Se como animador e ilustrador, Ôtomo é referência inegável; como cinema, Steamboy não é mais que burocrático. Ainda que acima da média do cinema de ficção-científica/aventura contemporâneo.

Felipe Bragança