Engrenagens, máquinas, traquitanas
e dispositivos físicos mirabolantes sempre foram um
prato cheio para o cinema de animação, técnica/tradição
cujo eixo básico de constituição se dá propriamente
em uma intrínseca celebração do movimento. Steamboy,
nesse sentido, acaba por não fazer nada além de dar
a Ôtomo um terreno propício para o exercício de seu
talento para as imagens grandiloquentes e suas paisagens
pós-futuristas – numa narrativa que peca pelo excesso
de pequenas reviravoltas e por uma temática e estrutura
dramática mais-que-batidas.
Passado em meados do século 19, o filme fantasia a era
das grandes invenções da modernidade, batendo em teclas
um tanto envelhecidas, que migram entre o questionamento
dos limites intrínsecos à ciência (fator também preponderante
em Akira) e sua manipulação pelo grande capital
emergente naquele momento histórico.
Fora o carisma curioso da personagem da jovem mimada
(Sra. Scarlette – uma antagonista cheia de nuances)
e a excelência técnica da animação 2D (fator cada vez
mais raro diante dessa nova hegemonia do 3D), há muitos
poucos pontos de interesse no filme. Do ponto de vista
da construção cênica, fica patente o maior talento de
Ôtomo em compor quadros fixos e decupagens estáticas
(seu grande talento é o de quadrinista, vale destacar),
onde personagens tencionam expressões ou atravessam
a imagem (por sobre cenários de texturas belíssimas),
do que quando resolve movimentar sua “câmera”.
Se como animador e ilustrador, Ôtomo é referência inegável;
como cinema, Steamboy não é mais que burocrático.
Ainda que acima da média do cinema de ficção-científica/aventura
contemporâneo.
Felipe Bragança
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