O OPERÁRIO
Brad Anderson, The machinist, EUA/Espanha, 2003

Trevor Reznik (Christian Bale) opera maquinário pesado. Sem dormir há um ano, emagrece a olhos vistos, ao mesmo tempo em que se envolve com a prostituta interpretada por Jennifer Jason Leigh. Sua única fuga deste pesadelo kafkiano é a lanchonete do aeroporto, onde trava amizade com Marie (Aitana Sanchez-Gijón), com quem, em companhia do filho dela, o protagonista chega a formar uma família durante breves instantes. A entrada em cena de homem misterioso, que o persegue e parece não existir para os demais, leva Trevor à paranóia e à loucura progressivamente.

Para acompanhar a trama rocambolesca, que depende de inúmeras e incontáveis reviravoltas no roteiro (primor de diálogos desinteressantes e de seqüências de ação enfadonhas), Brad Anderson embala O Operário com visual afetado, o qual emula todos os clichês vigentes em filmes supostamente tétricos e sombrios – fotografia escura e cinzenta, excesso de closes up (em cinemascope), imagens granuladas, cenas cuja decupagem frenética impede que o espectador perceba o que se passa na tela.

Sábia decisão de Brad Anderson em adotar a estética do "ver depressa", já que O Operário se perde (ou, antes, jamais chega a se encontrar) em aparente surrealismo lynchiano – personagens estranhos, que somem e aparecem, para se revelarem o mesmo –, devidamente amarrado e explicado pelo diretor através do trauma psicológico sofrido pelo herói no passado, a fim de que os signos espalhados pelo diretor ao longo do filme – pistas para o público desvendar o mistério de Trevor Reznik – encaixem-se ao final.

Com O Operário, a despeito da mensagem edificante a favor da segurança no trânsito, o cineasta consegue redimir – e santificar – o protagonista, esquecendo-se, para tanto, dos crimes por ele cometidos.

Paulo Ricardo de Almeida