OLD BOY
Park Chan-wook, Old boy, Coréia do Sul, 2004

Old Boy começa bem. Somos instalados um tanto selvagemente e sem saber na ficção de um homem. Primeiro ele está no topo de um prédio, depois na delegacia cometendo toda espécie de insanidades, e posteriormente num estranho quarto-prisão onde é deixado por 15 anos. O ritmo frenético e o savoir faire de Park Chan-wook – este último já conferido em Zona de Segurança, mediano filme à moda hollywoodiana sobre hierarquia no exército seguram a atenção por bastante tempo, e permitem ver o cuidado de composição nos planos e a mais que interessante bizarrice que surge em cada cena. História de amor, gore, filme de ação, narrativa da reconstrução de uma vida, tudo isso aparece no primeiro quarto do filme.

O que dá de tão errado com Old Boy, então? Não é uma coisa só: primeiramente, Park Chan-wook – por favor, leitores, perdoem-nos por não "imdbzar" nomes de artistas coreanos colocando o prenome antes do nome – tem mais vontade de fazer um filme ágil e esperto do que um filme onde há propriamente estilo. Em segundo lugar, a bizarrice some progressivamente, deixando transparecer por trás dela um senso de que cada coisa está arrumadinha na trama para ser desvendada depois (não se vai de Takashi Miike a Charlie Kaufman impunemente). Por fim, porque toda a metade final de Old Boy consiste em meter o pé no freio, abrir o flashback interminável e explicar tintim por tintim tudo o que não precisávamos saber - e entrar no pantanoso, modorrento e já tornado clichê terreno de filmes como Vanilla Sky, Quero Ser John Malkovich ou Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (com direito a temas piegas de sacrifício caros a filmes como Donnie Darko ou Paraíso).

Old Boy
lembra muito o caso Ringu. Inicialmente, celebra-se em Hideo Nakata a originalidade, o talento em contar uma historinha, a criação de climas, a virada narrativa. Uma grande produtora compra imediatamente o roteiro para um remake americano. Depois, vê-se que em matéria de estilo Nakata não é lá essas coisas, e que atribui-se a ele somente um talento de narração em parâmetros hollywoodianos. Old Boy parece repetir passo a passo o trajeto de seu similar japonês: a mesma acolhida pelos mesmos circuitos de hype, a venda do roteiro para Hollywood, o futuro sucesso de bilheteria como blockbuster americano, facilitadas as partes mais "complicadas" (como comer viva uma lula ou o final). Para Park Chan-wook, se ele for filmar nos Estados Unidos, está fadado a ser mais Chen Kaige do que John Woo, mais a desenvolver uma carreira de pau-pra-toda-obra com bom padrão artesanal do que para uma sólida carreira de autor.

Durante toda a projeção do filme, permanece a dúvida, respondida definitivamente na tétrica meia-hora final: para que serve a imagem em Old Boy? Qual é seu registro? Panóptico que jamais se problematiza como tal (seu contracampo nesse sentido seria Olhos de Serpente de Brian De Palma), submissa até não mais poder a uma narrativa a ser contada – narrativa que a tela não ilumina, mas apenas ilustra e lustra –, a imagem em Old Boy cai presa de um joguete de roteiro assim como Oh Dae-su (vivido pelo extraordinário Choi Min-sik) jamais consegue livrar-se de seu colega de colégio. Limitado a operar tarefas de tradução (de um mangá, de um roteiro), Old Boy é apenas um vaga-lume que perde o brilho antes da metade de sua existência.

Ruy Gardnier