Um homem armado invade um supermercado,
recém inaugurado, revoltado por terem mal-tratado
sua querida avó.
Claramente interessado em decalcar dispositivos dramáticos
do cinema de seu produtor (Emir Kusturica), Jagoda
e o Supermercado aposta nos absurdos da realidade
do pós-guerra na Sérvia como ponto de
partida de uma comédia de erros que alterna de
um lado um humor absurdo e mordaz e, de outro, soluções
narrativas sem qualquer inspiração. Da
premissa da inauguração de um “supermercado
yugo-americano” em plena Sarayevo, o filme discorre
um arsenal de comentários críticos/cômicos
ao modo de funcionamento do “maravilhoso”
supermercado e as reações das pessoas
não acostumadas a lidar com aquele tipo de espaço.
Piadas, bem-sucedidas, sobre os produtos e costumes
norte-americanos são dispostos de forma a apresentar
um painel caricatural da relação entre
uma Sérvia pós-Milosevic e seus novos
“amigos” norte-americanos, mas não
vão além disso.
Com encenações e interpretações
farsescas, uma trilha sonora inspirada (produzida pelo
mesmo Kusturica) e o uso de alguns personagens clichês
de fácil identificação, Dusan Milic
tem um bom material em mãos, mas que se esgota
logo na primeira metade da projeção. Depois
de uma boa apresentação de personagens,
de território e de boas piadas (como a do coro
popular que seguirá toda a trama como a platéia
de um espetáculo teatral) o filme alcança
seu eixo narrativo quando a jovem caixa de supermercado
se mostra enamorada pelo suposto “terrorista”.
A partir daí, com todo o circo armado, o roteiro
(do próprio Milic) parece não saber muito
bem para onde ir...Ou pior: até sabe, mas ainda
tem uns 40 minutos para cobrir até lá
com a mera repetição das mesmas (e agora
não mais tão boas) piadas.
O filme se torna monótono, dividido em esquetes,
fazendo com o que antes seduzia pela inteligência,
se transforme num festival muito mais de “sacadas”
do que de idéias. Um certo humor rancoroso em
relação aos Estados Unidos pode agradar
aos interessados em se divertir satanizando os “todo-poderosos”,
mas soam um tanto juvenis e, por demais, auto-complacentes.
Há diálogos interessantes entre as autoridades
sérvias (como as disputas entre um policial “conservador”
e um “democrata”) e eficientes brincadeiras
com clichês de linguagem (apelidos, codinomes
de guerra, patentes militares, sistemas de governo),
mas nada que consiga tirar o filme de uma certa previsibilidade
que, pior de tudo, insiste em se travestir como “inusitada”.
Um belo curta-metragem, talvez, flutue por ali em alguns
pontos, mas nada que se sustente com brilho por 90 minutos.
Felipe Bragança
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