ENTRE CASAIS
Andreas Dressen, Halbe treppe, Alemanha, 2002

Câmera digital, câmera na mão. A imagem não desenha planos, segue os atores, em closes tão próximos quanto possível. Dois casais de meia idade, com relacionamentos já desgastados. A câmera filma a vida cotidiana do casal: o marido corta as unhas, o radialista anuncia uma música de Britney Spears, uma briga conjugal ocorre enquanto na cabeça quase careca do homem paira uma pequena nuvem de espuma (anteriormente ele havia sido flagrado com a melhor amiga numa banheira).

Definitivamente o Dogma 95 foi um movimento que rendeu unicamente frutos podres. Se houve uma escolha entre Os Idiotas e Festa de Família pelos realizadores que se apaixonaram pelo manifesto, foi sem dúvida pelo segundo: a volta da câmera como o olhar por debaixo da fechadura e um interesse indisfarçado pelos nacos mais patéticos da existência humana, filmados sempre com uma crueldade de quem se acha realmente esperto e malandrinho para filmar e ao mesmo tempo estar tão indiferente a tudo que se passa. Não que as mesquinharias do homem não devam ser filmadas: há grandes filmes sobre o assunto. Só que há uma grande diferença entre filmar o tédio e ser o tédio. Definitivamente, Entre Casais pende para a segunda alternativa.

Ruy Gardnier