FRANK OZ, PROFISSIONAL DE HOLLYWOOD

Não há nenhuma grande razão para se escrever sobre Frank Oz. Não fosse o fato de ele representar uma espécie em extinção dentro do panorama do cinema americano dos últimos 20 anos: o do competente especialista de gênero. Oz sabe encontrar formas criativas de apresentar o texto, mas está longe de ser um grande estilista da mise en scène; não tem nenhuma grande idéia sobre o cinema e está contente de juntar alguns bons atores e um bom texto e ver o que a partir dali pode acontecer. Ele dirigiu alguns comediantes americanos bastante talentosos (Bill Murray, Steve Martin, Eddie Murphy) em alguns dos seus melhores momentos. Mas sempre que o material e o elenco não ajudaram, pouco pôde fazer para salvar um projeto frágil. Não surpreende ele ser popular com atores, já que suas qualidades o tornam bastante adequado condutor de veículos para astros. Um bom ponto de comparação na velha guarda seria um diretor como Mitchell Leisen ou Edmond Goulding, sujeitos que acumularam ao longo da carreira alguns filmes bastante fracos, mas vários filmes agradáveis. Agradável, por sinal, sendo um adjetivo que descreve bem boa parte da filmografia do diretor.

De outro lado, as limitações de Oz ficam bem claras na comparação com um verdadeiro inventor como Landis (para ficar com alguém que começou apenas alguns anos antes dele). Oz nunca sabe o que fazer com os elementos mais excessivos do material que recebe ou moldar as personalidades dos seus atores às suas necessidades (Eddie Murphy está tão bem em Os Picaretas quanto em Um Príncipe em Nova York, mas existe uma grande diferença na forma como a sua atuação se encaixa num conjunto maior no segundo). Os Safados, um dos melhores filmes dele, não deixar de ser pensado com um sub-Billy Wilder e, apesar do filme funcionar muito bem, de ter momentos de mise en scène bastante inspirados e duas ótimas atuações centrais (Steve Martin e Michael Caine), há algo que parece faltar para ele ser a grande comédia que por vezes ameaça ser. Falta-lhe um certo gosto para se afundar no excesso da farsa de mau gosto que um Wilder ou Blake Edwards demonstravam.

Limitada ou não, a carreira de Oz é interesse justamente por representar um tipo cada vez mais raro de diretor de estúdio: guiado por profissionalismo e um certo prazer no trabalho de set. O filme de gênero no cinema americano desde os anos 70 havia se metamorfoseado num exercício cinéfilo que tenta compensar – com uma queda pelo mito – a distância que acabava criando do antigo filme de gênero (John Carpenter sendo a grande exceção). Uma certa tendência a um distanciamento irônico, encontrada primeiro em alguns filmes B da época, acabou servindo de porta de entrada para o cinismo corporativo que mais tarde se tornaria a outra face do filme de gênero (e que finalmente parece ter dado espaço a algo esteticamente interessante nesta recente onda de filmes de sensação que de certa forma parecem retomar alguns princípios dos pré-cinemas que começaram a aparecer de uns três anos para cá). Neste panorama, Oz não se encaixa. Não há nada especialmente cinéfilo em Os Safados, e se Wilder é uma referência, ele existe como uma referência profissional da maneira similar a que Leisen por vezes, na década de 30, se via fazendo filmes à moda de Lubitsch. Ele também é muito engajado com seu material para tratá-lo como um produto distanciado. Não é à toa que o pior filme de Oz seja A Cartada Final, onde ele tem que trabalhar num gênero que lhe é estranho, num filme genérico excessivamente calculado como produto (desde a escolha supostamente impecável do elenco), que tenta buscar respeitabilidade via acúmulo de toneladas de mitologia cinéfila (seja nos arquétipos de filme de roubo, seja novamente no elenco). Nada pode ser mais distante das discretas qualidades do cinema de Oz, e o diretor afunda junto com o filme. É melhor retornar às lembranças de Os Safados ou Nosso Querido Bob, filmes simples e discretos administrados com habilidades por seu diretor, e que por vezes nos revelam algumas agradáveis surpresas.

Filipe Furtado



Obra de Frank Oz disponível em DVD e VHS:

O Cristal Encantado (The Dark Crystal, Inglaterra, 1983)
VHS Network

Os Muppets Conquistam Nova York (The Muppets Take Manhattan, EUA,1984)
VHS Abril Vídeo/Fox, DVD Columbia Tristar

A Pequena Loja dos Horrores (Little Shop of Horrors, EUA, 1986)
DVD e VHS Warner

Os Safados (Dirty Rotten Scoundrels, EUA, 1988)
VHS Flashstar, DVD Fox/MGM

Nosso Querido Bob (What About Bob?, EUA, 1991)
VHS Abril Vídeo/Touchstone, DVD Buena Vista/Hollywood

Como Agarrar um Marido (Housesitter. EUA. 1992)
VHS CIC, DVD Columbia/Universal

A Chave Mágica (The Indian in the Cupboard, EUA, 1995)
DVD e VHS Paramount

Será que Ele É? (In & Out, EUA, 1997)
VHS Columbia Tristar

Os Picaretas (Bowfinger, EUA, 1999)
VHS CIC, DVD Columbia Tristar

A Cartada Final (The Score, EUA, 2001)
DVD e VHS Paramount