A PROPÓSITO DE 'O SIGNO DO CAOS'

O Signo do Caos trata da eterna batalha contra o esquecimento profissional de nossa semi-colônia. Eterna luta da beleza versus intolerância abusiva e a ignorância cega.

Como na vida real, há o delito e a ação judicial. O que, convenhamos, é apenas o prolongamento de uma tradição de defesa de causas grotescas e que não altera, nem um pouco, a verdadeira situação colonial do cinema brasileiro aqui ou no mundo. Amnésio faz pressão contra um filme que caiu no desagrado da censura. Morel, um jornalista – imbuído de sua função social –, insiste em viver em sociedade anônima de base priápica e assim busca recuperar um conhecimento original sobre fatos ignorados de nossa história recente.

Fala da aversão que lhe inspira uma mistura chocante de tipos mal encarados, negados e negadores com seus capatazes e capangas, interessados em cometer crimes perfeitos contra a liberdade de expressão filmada em nosso país e o terror que lhe inspiram as ameaças ao seu comportamento irreverente.

Para Morel, "a genuína investigação sobre a verdade deve também ser verdadeira". Revoltando-se contra uma tramóia injusta e cruel, Morel encontra oposição de doutor Amnésio, cujo modus operandi é o espírito de transação. Afinal tramam contra a liberdade aqueles agentes do caos que substituem a censura e são taxativos.

– Aquele é o louco maior!
– Quem? Tu, ele ou o mundo?

Esperam a resposta até hoje, dando tempo à ampliação de imagens inéditas com meio século de prateleira ou talvez para sempre inéditas.

Mais do que nunca é preciso entender o seguinte. Existem inúmeras maneiras de se ver e viver o cinema para encontrar uma incógnita e desvendar assim o enigma de sua sobrevivência.

Um filme deve se relacionar com o outro e ao tentar ser íntimo com o real, deixa de ser objeto descartável para se reassumir como protagonista de si mesmo.

E pode (ou deve) ser sempre acompanhada de uma certa distância irônica ou proximidade com o surreal. Amnésio substitui a censura e tenta interditar liminarmente em todo o território nacional devido ao fato de jamais ter sido apresentada ao nosso público. Um grande filme brasileiro caiu no desagrado do serviço de censura de diversões públicas no Rio de Janeiro, com seus agentes negados e negadores, capatazes e capangas, mistura chocante de tipos mal encarados somente interessados em cometer crimes perfeitos contra a liberdade de expressão em nosso país. Afinal esses agentes do caos tramam contra a liberdade. Complica-se o enigma surreal. Trata-se de uma sátira com finalidade crítica. Eis um assunto para se pensar: a tela deve falar a sua própria língua concebida no momento de criação e não pode fazer isso sem enfrentar todos os censores, curadores e feitores que estrangulam a atividade crítica. Cabe ao espectador atento ter e exercer o direito de ver ou não ver um verdadeiro filme de cinema.

Ninguém pode negar o direito de existir de um trabalho assim significativo. O cinema não pode sofrer infinito boicote ou pressão cometidas por comissões do próprio país ou do exterior. Há o delito e a ação judicial (como na vida real) mas há também a análise político-social da situação que não alterou, nem um pouco, a verdadeira situação do nosso cinema.

O que, convenhamos, é apenas o prolongamento de uma tradição imposta através da defesa de causas grotescas e que não altera nem um pouco a verdadeira condição colonial do cinema brasileiro aqui ou no mundo.

Finalmente Morel conclui: somos o que vemos, eis um assunto para se pensar.

Rogério Sganzerla